‘Enquanto este velho trem atravessa o pantanal; as estrelas do cruzeiro fazem um sinal; de que este é o melhor caminho; para quem é como eu, mais um fugitivo da guerra’. Esses são os primeiros versos da música ‘Trem do Pantanal’, que é considerada o hino do coração sul-mato-grossense e eleita a música mais representativa do Estado, por meio de uma votação direta em 2001. A icônica canção ganhou uma nova roupagem na última sexta-feira, pelo remix da DJ Nathalia Albuquerque.
A música foi escrita em 1975, originaria de uma viagem entre os amigos Paulo Simões e Paulo Roca, e mesmo com apenas cinco estrofes, a canção se tornou de uma relevância singular para a cultura regional.
Com letra emblemática, ‘Trem do Pantanal’ teve sua melodia embalada nos acordes da viola e violão, na versão mais famosa de Almir Sater e por vezes, ‘o trem se aventurou’ até em versões nos estilos rock e sertanejo e após cinco décadas, ganha uma nova roupagem, talvez até impensada, com a modernidade da música eletrônica, em um remix que reverencia as raízes sul-mato-grossenses e leva a música a um novo patamar, conduzindo esse ‘trem de memórias’ a uma viagem por novos ritmos e quem sabe até mesmo a novos públicos.
A ideia de remixar Trem do Pantanal foi da DJ Nathalia Albuquerque. Campo-grandense, a artista cresceu ouvindo a música e sonhava em inseri-la em seu repertório, até mesmo como uma homenagem aos autores e à cultura regional.
“Um dos objetivos do projeto é conectar as novas gerações a músicas antigas que temos e são tão boas, com essa releitura unindo o moderno com o antigo e proporcionar um maior conhecimento dos jovens dessas músicas tão emblemáticas do Mato Grosso do Sul”, contou a artista ao jornal O Estado.
Parte da vida
Quase que como quem embarca em um trem, Nathalia decidiu viver a aventura, que parou em várias estações, desde a autorização do uso da canção, passando pelo desafio da produção e dois meses de intenso trabalho. “Sou nascida, criada e faço minha carreira aqui, no Mato Grosso do Sul. Sempre ouvi as músicas regionais e Trem do Pantanal, na versão gravada pelo Almir Sater, faz parte da minha vida desde a infância. E pensando em me aventurar por novos caminhos, tive a ideia de dar início a um projeto de remixar músicas regionais. É algo diferente, inovador e foi amadurecido com muito carinho. Decidi iniciar com Trem do Pantanal porque sou apaixonada por essa música”, conta a DJ.
O contato com Paulo Simões para pedir a autorização para remixar a música aconteceu por meio do vocalista do Bando do Velho Jack, Rodrigo Tozzette, amigo em comum de Simões e Nathalia. Ao apresentar a ideia, o artista não compreendeu de início, mas aceitou. “O Paulinho (Simões) disse que não entendia de música eletrônica, mas que confiaria em mim. Foi então que reuni um time de grandes artistas regionais e iniciamos o trabalho. Foram três meses entre conseguir a autorização da editora, produção no estúdio e finalização”, revela.
Risos, lágrimas e lembranças
Foi em uma noite do mês de agosto que o autor de Trem do Pantanal conheceu a nova versão de sua música. Seu jeito alegre e com uma bagagem de vida e conhecimento cultural únicos, tomaram conta do estúdio onde os artistas participantes do projeto apresentaram. Entre causos e lembranças, os olhos do artista se encheram de lágrimas e o então homem falante de minutos antes, com voz embargada disse: “gostaria que o Geraldo (Roca) estivesse aqui para ouvir isso, mas sei que de algum modo ele está e gostou muito”, comentou Simões sobre o amigo e companheiro de autoria, Geraldo Roca, que faleceu em 2015.
Paulo Simões ouviu a versão pelo menos três vezes naquela noite e com o sorriso no rosto, revelou sua surpresa com o resultado. “Eu nem sabia o que me esperava, confiei porque sempre ouvi falar muito bem da Nathalia, do talento dela, mas o que ouvi hoje é emocionante demais. Só posso dizer que a Nathalia é tudo aquilo que já havia ouvido falar sobre ela e muito mais”, revelou Simões.
O que seria a reunião de artistas para a apresentação de um novo projeto, se tornou um encontro de amigos, onde cada acorde do remix de Trem do Pantanal aumentava o carinho e respeito e se tornava um afago a quem presenciou esse encontro de gerações e de grande valorização cultural.
Segundo a DJ, a reunião do time de artistas que se debruçaram sobre o projeto com dedicação, resultou em uma música versátil, que homenageia as raízes de Mato Grosso do Sul. “Busquei trazer para perto pessoas com a mesma energia, que acreditaram na ideia e se dedicaram para que o público sentisse essa vibração. Nosso termômetro foi ver a emoção do Paulo Simões ouvindo a música. Essa memória ficará marcada para sempre”, revela Nathalia, que trabalhou em conjunto com Fabio Adames, Jay Jenner, André Coelho e Guilherme Cruz.
O grande dia
O remix de Trem do Pantanal foi lançado em todas as plataformas de áudio no dia 30 de agosto de 2024, na semana em Campo Grande celebrou seus 125 anos, como um presente à capital e ao estado de Mato Grosso do Sul. De acordo com Nathalia Albuquerque, o público vai encontrar uma música leve, para todos os momentos, que leva o público a uma verdadeira experiência sonora, aliando a tradição e a modernidade em uma grande homenagem às raízes da cultura local. “É uma versão elegante, que nós DJ’s poderemos levar para as pistas de dança, para eventos, mas que também pode ser ouvida no carro, no trabalho ou em qualquer ocasião, mas que acima de tudo, valoriza nossa cultura e apresenta às gerações mais jovens, toda nossa riqueza musical. Este é apenas o primeiro remix do projeto de remixes regionais que virão”, adianta a DJ.
“Foi um desafio bem grande, são estilos completamente diferentes, é uma música regional que já teve versões sertanejas e no rock, mas na música eletrônica não havia nada. Foram três meses de trabalho, tive um time de artistas dedicados para chegarmos nesse resultado, que ficou incrível e trouxe modernidade para uma música que existe há quase 50 anos”, finaliza.
Serviço: ‘Trem do Pantanal’ está disponível gratuitamente nas plataformas Spotify, Apple Music, Deezer, Amazon Music e Tidal.
Por Carolina Rampi
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