Orquestra Indígena apresentará concerto na Capital antes de entrar em turnê por Espanha e Portugal
A música de concerto contemporânea não pertence apenas aos grandes polos culturais, como São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo. Em uma iniciativa que promove o diálogo entre culturas e reafirma o protagonismo indígena, a Orquestra Indígena de Mato Grosso do Sul realiza uma apresentação especial hoje (16), às 20h, no Teatro Aracy Balabanian, no Centro Cultural José Octávio Guizzo, de forma gratuita.
A apresentação celebrará o intercâmbio cultural entre Brasil e Portugal, portanto contará com músicos dos dois países. O concerto marca uma etapa fundamental no processo de criação colaborativa do espetáculo ‘Arapy Aguasu – Sinfonia entre dois mundos’, que será levado em turnê por Portugal e Espanha no segundo semestre de 2025.
Idealizada pelo músico e maestro Eduardo Martinelli (Brasil) e Norberto Cruz (Madeira – Portugal), o concerto é uma fusão da sonoridade portuguesa e indígena brasileira, inspirada nas ‘marés’ e na ‘mata’, aludindo às correntes marítimas que conectam esses territórios e aos recursos naturais da Madeira e do Mato Grosso do Sul.
Para o jornal O Estado, o músico Eduardo Martinelli explicou que a apresentação desta quarta-feira marcará a concepção do espetáculo, da união entre sonoridade e simbolismos. “Vamos mostrar a gênese do espetáculo, com a abertura começando com a nota ‘lá’, que é a que todos buscam para fazer a afinação, sendo referência para se alcançar uma igualdade e prosseguir juntos. Em seguida entra uma adaptação para coral vocal de canto de agradecimento, de uma indígena Terena, onde ela agradece em língua terena pelo sucesso da colheita”, explica.
Ao longo da apresentação, os temas europeus começam a ser inseridos, com citações melódicas da ‘Sinfonia do Novo Mundo’, aliadas com canções do Tocantins, Amazônia e Amazonas, permeando sempre com uma música portuguesa. “É um espetáculo muito forte, conceitual e artisticamente, o resultado musical está com muito vigor, brilho e contraste, também com momentos de muita serenidade; estamos na busca pelo primitivismo, tanto dos povos nativos quanto da música medieval portuguesa”.

Foto: Henrique Arakaki
Imersão
A apresentação é resultado de uma imersão artística, unindo tradições, sonoridades e histórias dos dois continentes. Essa vivência tem como foco a valorização da cultura ancestral e o diálogo entre diferentes linguagens musicais, promovendo uma experiência artística profunda e transformadora.
Para Martinelli, uma apresentação dessa importância não é feito sem percalços. “Tocar um espetáculo inédito, que dura uma hora, já é um desafio imenso. E a distância ainda torna mais complicado, porque isso não se constrói em uma semana de ensaio, as partituras precisam ser preparadas, analisadas, enviadas, repeitas. É uma descoberta da sonoridade, como tudo irá funcionar. É mágico, está sendo um momento muito forte”, destaca.
Atuante na música de concerto profissional há 25 anos em Campo Grande, Martinelli comenta a importância da Orquestra de Campo Grande na formação de jovens, e da criação de projetos sociais. “Jovens tornam-se profissionais, que hoje tem carreiras internacionais e voltam como convidados”.
Com a Orquestra Indígena, o sentimento é de puro orgulho, ao ver o resultado sendo apresentado ao público. “Esse trabalho deles é muito forte. Todos que assistem querem ver de novo, ficam maravilhados com a qualidade do grupo. O repertório busca trazer para dentro da música de concerto as músicas regionais de várias localidades do país”, comenta.
“É uma questão de tempo para a orquestra indígena conseguir protagonismo internacional, mas já é um processo longo. Eles participam juntos fazendo música, desde o processo de musicalização, quando crianças, logo desenvolvem a maturidade artística, aprendem a executar o primeiro repertório com melodias simples. Eles têm uma rotina de músicos artistas, não apenas de alunos. Tudo isso faz com que o grupo tenha uma proposta musical pronta, um show lindo pronto. É um produto artístico”.
Turnê

Foto: Karen Freitas
Este projeto ganha ainda maior pertinência no contexto da celebração do bicentenário do Tratado de Paz, Amizade e Aliança, também conhecido como o Tratado do Rio de Janeiro (29 de agosto de 1825), entre Portugal e Brasil, um marco histórico significativo que será homenageado através das apresentações musicais para o público de ambos os países. Este concerto será uma oportunidade rara de testemunhar o nascimento de uma obra que tem como fruto o encontro entre mundos distintos que se reconhecem na força da música como ponte entre os povos.
A turnê internacional da Orquestra Indígena em Portugal e Espanha, prevista para agosto de 2025, contará com este espetáculo como peça central, reafirmando o protagonismo indígena na cena da música de concerto contemporânea.
“Espero que esse espetáculo seja um marco, que possamos fazer esse projeto com a parceria de outros músicos do Brasil, de outras regiões, outros músicos indígenas. Que ‘Arapy Aguasu’ possa sem sempre uma celebração, não apenas um show, que seja um símbolo”, finaliza o maestro.
Agenda de concertos:
Dia 16 de abril às 20H, Teatro Aracy Balabanian – Entrada Gratuita
Dia 31 de maio às 20H, Memorial da América Latina-SP.
De 20 a 31 de agosto 10 concertos na Ilha da Madeira e em Lisboa em Portugal
De 02 a 07 de setembro concertos em Barcelona na Espanha.
Realização: República Portuguesa | Ministério da Cultura – DGArtes, Governo Federal do
Brasil, Lei Rouanet e Fundação Ueze Elias Zahran.
Produção: ABM-Madeira (Portugal), Instituto Amigos do Coração (Brasil), Miradouro Cultural
(Portugal)
Apoio: Fundação de Cultura, SETESC, Governo de MS, Governo Regional da Madeira.
Com o nome ‘Arapy Aguasu – Sinfonia entre dois mundos’, o concerto terá participação internacional dos músicos Lidiane Duaillibi e Nuno Felipe, de Portugal. Os ingressos serão disponibilizados na hora do show.
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