O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta segunda-feira (18) em entrevista ao The Washington Post que não existe “a menor possibilidade de recuar nem um milímetro” em decisões envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), prestes a ser julgado pela Corte em setembro por tentativa de golpe de Estado.
“Vamos fazer o que é correto: vamos receber a acusação, analisar as provas e quem tiver de ser condenado, será condenado, e quem tiver de ser absolvido, será absolvido”, declarou Moraes. O perfil do magistrado, publicado pelo Post, foi baseado em mais de uma hora de conversa com ele, além de entrevistas com outras fontes.
Moraes comentou que o Brasil foi “infectado pela doença da autocracia” e que é dever dele aplicar uma “vacina”. “Não vamos recuar de jeito nenhum do que devemos fazer. Digo isso com total tranquilidade”, afirmou.
O ex-presidente Bolsonaro está em prisão domiciliar desde 4 de agosto, por determinação de Moraes. Ele e outros sete réus do chamado “núcleo crucial” da trama golpista, entre ex-ministros e ex-comandantes das Forças Armadas, têm julgamento marcado a partir de 2 de setembro.
Tensões com os Estados Unidos
A entrevista ocorreu em meio à escalada das tensões comerciais entre Brasil e EUA. Em 6 de agosto, entrou em vigor uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, justificada pelo governo americano como medidas comerciais e também em defesa de Bolsonaro, a quem Donald Trump é próximo ideologicamente. A Casa Branca citou ainda supostos ataques à liberdade de expressão liderados por Moraes.
O ministro comentou que “para a cultura americana, é mais difícil entender a fragilidade da democracia”, destacando o histórico de golpes e ditaduras no Brasil, ao contrário dos EUA. Ele disse ainda que o país precisou formar “anticorpos” e aplicar uma “vacina preventiva” contra a ameaça autoritária.
Moraes é alvo de sanções norte-americanas, aplicadas pela Lei Magnitsky, em razão de sua atuação como relator de processos envolvendo Bolsonaro. Ele destacou que “falsas narrativas acabaram envenenando o relacionamento [entre Brasil e EUA] – falsas narrativas sustentadas por desinformação espalhada por essas pessoas nas redes sociais”.
O ministro comentou também sobre os riscos pessoais e profissionais: “É agradável passar por isso? Claro que não é. Enquanto houver necessidade, a investigação continuará.”
Contexto político e familiar
O Post lembrou que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, se mudou para os EUA em março para articular medidas contra o STF e defender interesses do pai. Nos últimos meses, órgãos do governo americano, como embaixada e Departamento de Estado, fizeram ameaças a autoridades brasileiras, incluindo Moraes, culminando na sobretaxa sobre produtos nacionais.
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