SUS: medicamentos que tratam obesidade não são disponibilizados

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Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O SUS (Sistema Único de Saúde) não conta com a disponibilização de remédios com indicação de tratamento da obesidade. Esses medicamentos são geralmente prescritos para casos mais graves, que podem resultar em doenças associadas, ou que demandem cirurgia bariátrica.

A obesidade pode ser calculada com o IMC (Índice de Massa Corporal), com a divisão do peso pela altura ao quadrado. Se o valor ficar acima de 30, a pessoa é considerada obesa. No Brasil, estima-se que 22% dos brasileiros adultos tenham a condição atualmente.

Entre as diversas recomendações para perder peso para pessoas obesas, há o tratamento com medicamentos. Segundo o documento Diretrizes Brasileiras de Obesidade, lançado em 2016 pela Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), no Brasil existem três medicamentos aprovados para tratamento: sibutramina, orlistate e liraglutida 3 mg. Nenhum deles é distribuído pelo SUS.

Para adicionar um remédio ao sistema público de saúde, é preciso passar por uma avaliação na Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS). A comissão faz análise de diversos aspectos, como evidências científicas de eficácia e também os custos de incorporação. Para a sibutramina, o Conitec avaliou em 2020 que “as evidências trazidas não foram suficientes”.

Segundo a médica nutróloga e cofundadora da ONG Obesidade Brasil, Andrea Pereira, a medicação é indicada dentro do tratamento da obesidade. Ela explica que pesquisas indicam que a sibutramina, e também a orlistate, podem ter impacto de 5% a 10% na redução de peso de uma pessoa. “Às vezes, 10% não parece um número tão bom, mas para [reduzir] risco cardiovascular e para melhorar o prognóstico, essa perda já ajuda”.

A liraglutida, segundo Andrea, tem uma maior eficácia na diminuição de peso. Porém, o medicamento não foi analisado pela Conitec.

Cenário brasileiro

É importante realizar uma discussão sobre o uso de medicamentos, por conta do agravamento do cenário brasileiro em relação à obesidade. Uma estimativa indica que no ano de 2030, 30% da população adulta do país estará vivendo com a condição.

A população mais pobre pode ser mais afetada, pois depende mais da saúde pública para receber os medicamentos indicados pelos médicos.

A nutróloga ainda afirma que esses remédios são de grande importância para evitar casos mais graves, que demandem cirurgia bariátrica, que está disponível pelo SUS, mas há grande demora. Além desse fator, quanto mais crítica for a obesidade, há maior risco de doenças associadas.

“Se eu consigo fazer com que uma pessoa não tenha obesidade grave por tratar no início, isso vai reduzir muito o gasto. Em termos gerais, o custo da medicação não será o mais alto. O custo maior são as complicações da obesidade”, afirmou Andrea.

Hábitos saudáveis

Nos hábitos sem remédios, a Conitec indica que praticar atividades e adotar uma dieta balanceada são fatores importantes na redução de peso, e já comprovados por especialistas.

A professora do departamento de estudos da atividade física adaptada da Faculdade de Educação Físicca da Unicamp (Universidade de Campinas), Cláudia Cavaglieri, explicou a importância das atividades físicas. “Quando se faz exercício, é visto prieiramente perda de gordura na região da cintura. A cada centímetro de cintura que se perde, diminui-se o risco de doenças cardiovasculares”.

Cláudia realizou alguns estudos, que observam impactos do exercício físico em pessoas obesas. Em um desses estudos, com homens obesos que realizaram atividades por seis meses, tiveram perda de gordura, aumento de massa magra e redução na inflamação, um fator que pode acarretar comorbidades como diabetes e hipertensão.

“O exercício físico tem essa capacidade de modular de forma muito significativa todos esses parâmetros metabólicos que estão alterados pela obesidade”, explicou a professora.A prática constante de atividade física também pode resultar em que o ganho de peso após sua perda seja mais raro.

A atividade física porém, pode ter resultados mais lentos. Em pessoas com quadros avançados de obesidade, são os medicamentos que podem agilizar a perda de peso e evitar os riscos à saúde, mas com orientação médica. “Também não adianta ter só medicação se não houver alteração no estilo de vida. É um conjunto”, explicou a nutróloga.

Explicação

Procurada, a Conitec explicou que foi desfavorável à incorporação da sibutramina para casos de obesidade “por considerar existirem incertezas quanto ao benefício atribuído ao medicamento e tendência de recuperação do peso perdido ao longo do tempo”.

Além disso, a comissão citou eventos adversos que os remédios podem causar, além do impacto orçamentário que teria. Uma justificativa semelhante foi dada para o orlistate, que também não foi recomendado à ser incorporado ao SUS.

A Conitec ainda explicou que não avaliou a liraglutida pois não houve nenhum pedido para analisar até o momento, e afirmou que sempre atua quando é demandada e considera os pontos “como eficácia, acurácia, efetividade e a segurança, além da avaliação econômica comparativa dos benefícios e dos custos em relação às tecnologias já existentes e o seu impacto orçamentário para o SUS”.

 

Com informações da FolhaPress.

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