Mesmo inelegível, Magno de Souza busca denunciar a violência contra os indígenas do MS

Foto: Berlim Caldeirão
Foto: Berlim Caldeirão

Em 33 anos de criação, é a primeira vez que o estado de Mato Grosso do Sul teve um indígena presente em debates, ao lado de candidatos ao cargo de governador. Natural de Dourados, município a 238 km da capital, Magno de Souza, 38 anos, é indígena da etnia guarani-kaiowá e vive na área de retomada Aratikuty.

Ele tentou concorrer pelo Partido da Causa Operária (PCO), partido de extrema-esquerda. No entanto, sua candidatura e a de seu vice, Carlos Martins Júnior (PCO), foram indeferidas pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral), na última terça-feira (27).

O TRE justifica que ambos os indeferimentos são por causa que a chapa não respeita as regras de legibilidade. Uma das justificativas é de que ambos não cumpriram pressupostos de registrabilidade: Magno teve expedição de mandado de prisão em 2016 e estaria inelegível até 2024. Já o candidato a vice-governador não apresentou quitação eleitoral das contas de campanha de 2020, julgadas como não prestadas. A Procuradoria Regional Eleitoral do MPF (Ministério Público Federal) pediu a impugnação da candidatura por inelegibilidade de Magno.

Em entrevista com O Estado MS, realizada antes do indeferimento da candidatura, Magno de Souza comentou os objetivos de sua campanha e projeções para o futuro. Confira a entrevista na íntegra:

Como surgiu tua candidatura e quais são tuas propostas?

A minha candidatura surge a partir do PCO. Eles pagaram uma taxa para eu concorrer. O STF bloqueou nossa verba e só nos liberou na metada da disputa. A gente tá muito alegre com essa caminhada e estamos prontos para falar do nosso partido. Falar para o pessoal qual é a realidade da questão indígena aqui no estado. Eu estou me colocando como governador e tem o meu vice, que é o Carlos Martins, que é professor de história. Eu estou pela causa indígena, junto ao meu companheiro, que pode levar as minhas propostas.

Nesses últimos meses vimos casos de violência contra a população Guarani Kaiowá. Nesse sentido, em meio a esse contexto de conflito, como você vê a tua candidatura?

A importância de um indígena ser candidato ao cargo de governador é pela questão de denunciar a violência e os ataques latifundiários, de seguranças privadas e até do próprio Estado. O governo do estado está movendo um pedido de despejo ilegais. A gente vem sofrendo muito esses ataques. Também estamos sendo jogados de lado, abandonados. Não temos água nas aldeias, não temos estradas, especialmente quando chove. Ninguém resolve isso, em vários anos de eleição. Muitos governadores prometeram resolver, fazendo cascalhamento nas estradas, além de levar água para todo mundo, só que até hoje nada aconteceu. Os indígenas estão sofrendo muito, por isso que eu decidi me candidatar, para poder concorrer e, se for eleito, poder trabalhar com os indígenas e com as pessoas das favelas.

Como tem sido tua campanha?

Nós demoramos para começar. É só eu e meu assessor. Visitamos as aldeias e retomadas. Vimos aldeias abandonadas, sem recursos e sem melhorias de vida. Mas já estão chegando pessoas para ajudar a campanha.

A sua candidatura é para anunciar a causa indígena ou tem objetivo de ganhar a eleição?

A gente tem uma candidatura que busca duas coisas. A primeira é trazer ao público a questão da demarcação de terras, que os governadores deveriam resolver. Inclusive, o Ministério Público e a Funai não estão resolvendo. Com a entrada do governo Bolsonaro, muitas coisas que eram fornecidas pela Funai foram cortadas. A gente se preocupa muito com isso. A outra questão é que estamos aproveitando essa eleição para nos apresentar à população indígena. Agora vamos nos preparar nesses próximos quatro anos, para voltarmos preparados, com o povo junto da gente. Porque a gente sabe qual é a realidade. Eu tenho certeza que muitos indígenas vão entender qual é a realidade e qual é a proposta de um indígena se candidatar e procurar enfrentar tudo isso aí. Nós não temos muito estudo, mas nós falamos a realidade que vivemos; que todos os indígenas vivem no Mato Grosso do Sul.

Como você tem avaliado as visitas aos tekohá. Existe adesão?

No primeiro dia da minha campanha nos tekohá, eu estava me sentindo muito sozinho, já que é a minha primeira vez que me candidatei. No começo eu fiquei procurando mais apoio do Cimi, do Ministério Público e da Funai. Procurei essa ajuda, mas ninguém resolvia a questão das retomadas. De repente, me aliei ao comitê de luta em Dourados e cheguei ao partido PCO. O partido sempre denuncia o que é errado e tenta divulgar as coisas certas. Eles me ofereceram uma oportunidade de concorrer e eu falei que minha vontade de ser candidato vem desde pequeno. Porque eu vejo o sofrimento desde criança. Vários indígenas e brasileiros vivendo na rua, em casa abandonada. Nós sabemos qual é o sofrimento do povo brasileiro e do povo indígena.

Em uma primeira visita, em uma retomada, eu me senti muito alegre por ser recebido tão bem. Todo mundo concordou comigo e falaram que [a candidatura] era muito importante para todos os indígenas do tekohá.

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