Governador do RS pretende ser o mais jovem a disputar Presidência da República

Eduardo Leite
Eduardo Leite

“O país precisa de um governo que devolva o equilíbrio à sociedade”

Do PSDB, Eduardo Leite é o governador do Estado do Rio Grande do Sul, eleito com 3.128.317 votos – 53,62% dos votos válidos nas eleições de 2018. Nascido em Pelotas, em 10 de março de 1985, tem mandato até 2022. Chegou ao Palácio Piratini aos 33 anos e é o governador mais jovem do Brasil. Leite é um dos quatro nomes fortes do PSDB e pode vir a ser o candidato oficial a disputar a Presidência em 2022. O jornal O Estado inicia série de entrevistas com os pré-candidatos a presidente da República

Apesar da idade, Leite foi prefeito de Pelotas entre 2013 e 2016, após receber 110 mil votos. Antes disso, foi secretário municipal, vereador e presidente da Câmara Municipal na mesma cidade. Leite assumiu ser gay há poucos dias e disse que não existe divisão dentro do partido mesmo disputando prévia com o governador de São Paulo, João Doria.

Ele tem visão moderna de gestão e também é contra a reeleição e, por isso, terminou o mandato de prefeito com 87% de aprovação e posteriormente indicou como candidata a vice-prefeita, Paula Mascarenhas, que foi eleita com 112 mil votos.
Eduardo Leite foi escolhido pela revista americana “Americas Quarterly” como um dos cinco políticos mais promissores da América Latina, entre os nomes com menos de 40 anos de idade. Estudou políticas públicas na Columbia University, em Nova York, EUA, e cursa mestrado em Gestão Pública na Fundação Getulio Vargas.

O Estado: Governador, você se apresenta para a disputa da prévia do PSDB em que concorre como candidato à Presidência da República. Como deverá ser sua conduta para conseguir ser o escolhido do partido?

Eduardo Leite: A minha conduta é, e será, a mesma que sempre adotei ao longo da minha trajetória política, prezando pelo diálogo e pelo respeito. Recebi um chamado por parte de colegas de partido, principalmente pelo destaque que o nosso governo vem obtendo, e estou colocando o meu nome à disposição para ajudar a construir uma alternativa para o Brasil. Entendo que o país precisa de um governo que devolva o equilíbrio à sociedade. Quero um país em que possamos discutir ideias, maneiras de avançar, de construir, e não um país que se prenda a discursos de ódio e que debata pessoas, em vez de ideias. Não me falta energia nem apetite para, se o partido assim decidir, ser o representante desse projeto.

O Estado: A disputa está acirrando entre você e o governador de São Paulo, Doria. A partir disso, como será a estratégia?

Eduardo Leite: O PSDB tem quatro pré-candidatos até o momento, e todos merecem o nosso respeito. O governador João Doria é um quadro importante do partido, assim como o senador Tasso Jereissati e o ex-prefeito Arthur Virgílio. Em termos administrativos, temos muito mais ideias convergentes que divergentes entre nós. O que o partido vai decidir é qual estilo de fazer política tem mais chances de vencer a eleição. Neste sentido, temos algumas diferenças, mas esta é uma discussão que cabe ao partido.

O Estado: Você é visto como a juventude nesta disputa. Até que ponto isso pode lhe favorecer?

Eduardo Leite: Sempre fiz política sem valorizar a questão da idade. Não acho que a juventude possa me favorecer de maneira automática, assim como a idade avançada também não é um fator decisivo para que um candidato A ou B faça sentido na política. O que importa são as ideias, as posturas, a forma como se enxerga a função pública. Tenho 36 anos, fui prefeito da minha cidade aos 27, governador aos 33. Sei que sou jovem, que posso me conectar com este público. Quero me ligar aos jovens de outra maneira. Por exemplo, não consigo me conformar que a metade dos jovens quer sair do nosso país. Quero resgatar a esperança deles, mas sem descuidar do conforto aos mais velhos.

O Estado: Um dos pontos que podem ser negativos é em relação ao apoio que o senhor teria dado no passado a Bolsonaro. Isso preocupa?

Eduardo Leite: Votei em Bolsonaro, em função de um contexto específico da polarizada eleição de 2018. Não podemos nos esquecer de que era uma escolha difícil: tínhamos como alternativa a Bolsonaro um projeto do PT, que fez um governo marcado por escândalos de corrupção, por um péssimo desempenho econômico e pelo aumento do número de desempregados. A coligação de partidos que eu liderava no Rio Grande do Sul debateu intensamente aquele voto, e não foi um caminho fácil. Também precisa ficar claro o seguinte: votar é diferente de apoiar. Apoio eu não dei. Não fiz campanha casada com Bolsonaro, não misturei o meu nome a ele. Quando anunciamos a decisão, também apresentamos restrições e criticamos posturas do presidente no passado, as posições insensatas dele em relação a uma série de pautas, comportamentos que se revelaram ainda piores no exercício da Presidência da República. Votar em Bolsonaro em 2018 foi um erro. Errei, como milhões de brasileiros erraram. Mas tenho certeza de que vamos corrigir esse erro em 2022.

O Estado: Recentemente em entrevista o senhor assumiu a homossexualidade e virou um destaque nacional. Pode se tornar uma questão aliada na disputa presidencial?

Eduardo Leite: Como disse na entrevista ao Pedro Bial, era uma questão de integridade, de poder me apresentar por inteiro às pessoas. Era o momento de falar, assim como em outros momentos da vida encarei o tema como um não assunto. Agora, não existe nenhum cálculo do ponto de vista político-eleitoral, até porque os efeitos são imprevisíveis. Pode ter me conectado a uma parcela da população que se identifica ou tem esperança de que a política possa ser vivida com mais transparência e sinceridade, mas não podemos esquecer de que o nosso país é conservador. Tenha efeito positivo ou negativo, é o que sou, do jeito que sou, apresentado como sou. Se a população entender que eu posso apresentar um caminho, tem de ser na minha integralidade, sem esconder nada.

O Estado: Muito tem se falado que vacinação deverá ser o grande mote das campanhas. O Rio Grande do Sul, juntamente com Mato Grosso do Sul e São Paulo, é um estado que mais tem vacinado; o senhor pretende usar esse fato?

Eduardo Leite: Vacinação não é motivo de cálculo político ou ideológico, é uma questão de saúde pública. As vacinas precisam sair dos discursos, das bravatas e das teses nas redes sociais, e irem para o braço da população. O ritmo da vacinação no Rio Grande do Sul é garantido pela agilidade do nosso governo em distribuir as doses e pela eficiência das nossas 497 prefeituras em aplicá-las, sem esquecer do fluxo de abastecimento, que é garantido pelo governo federal depois de muito relutar. Claro que a forma como os gestores públicos atuaram na pandemia será avaliada na eleição de 2022. Houve quem brigou com a ciência, com as vacinas, com as autoridades locais, sejam os governadores ou prefeitos. A população saberá observar quem trabalhou contra o vírus e quem se aliou ao vírus. Nos momentos de crise, o governante não pode se esconder, nem incendiar a discórdia. Na pandemia, tínhamos um inimigo em comum, o vírus, e Bolsonaro aliou-se a ele, liderando o país ao contrário

O Estado: A polarização entre Bolsonaro e Lula, o senhor podendo ser uma terceira via, poderá conquistar eleitores indecisos?

Eduardo Leite: Sinto que existe um espaço para uma candidatura ponderada, que não alimente a polarização e apresente um plano lógico de desenvolvimento para o país. Uma candidatura que não seja apenas busca pelo poder de um grupo, mas que toque as pessoas, que ofereça uma perspectiva. Vou trabalhar para que o meu partido tenha um nome com potencial de resgatar a confiança na política e desfazer a noção de que a direita é eficiente e apenas a esquerda tem sensibilidade social. O Brasil precisa de um centro que concilie eficiência da máquina pública com proteção social e respeito à diversidade.

O Estado: Os presidenciáveis do PSDB antes das prévias devem viajar a vários estados; o senhor virá a Mato Grosso do Sul?

Eduardo Leite: A minha agenda como candidato nas prévias do PSDB ainda está sendo construída, mas certamente estarei com os meus amigos de Mato Grosso do Sul, conversando sobre alternativas e o perfil para representar a nossa sigla em 2022. Mato Grosso do Sul tem um governador tucano, o Reinaldo Azambuja, que faz um ótimo trabalho. Na “Corrida do Bem” para ver quem vacina mais rápido, como costumo dizer, estamos tentando alcançar MS, que lidera na aplicação da segunda dose da vacina, e está difícil! A gestão do governador na distribuição e aplicação da vacina é um exemplo para todos os estados, e isso precisa ser reconhecido e saudado. A representação do PSDB de Mato Grosso do Sul na Câmara dos Deputados também é muito importante, com os colegas Beto Pereira, Bia Cavassa e Rose Modesto. Em breve estarei em Campo Grande para conversar com todos, os nossos deputados estaduais, prefeitos e vereadores. Será um prazer.

O Estado: Qual a expectativa que o senhor tem em relação a MS, que atualmente tem um governo do mesmo partido e tem se destacado entre outros estados na questão econômica e também da pandemia? Além de ser destaque na política recentemente com alguns protagonistas.

Eduardo Leite: O Rio Grande do Sul tem relação histórica com Mato Grosso do Sul, incrementada pelas dinâmicas do Codesul. Compartilhamos cultura e temos atividades econômicas em sintonia. O DNA é comum, na forma como lidamos com a terra, com alguns costumes. Neste momento, as nossas gestões do PSDB, nos dois estados, apesar das dificuldades, sinalizam ao Brasil que o jeito tucano de governar é capaz de combinar eficiência administrativa e resposta a demandas da população.

(Andrea Cruz e Alberto Gonçalves)

 

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