Pela primeira vez, a Colômbia terá um presidente de esquerda. A eleição foi definida ontem (19), e com 97% das urnas contabilizadas, Gustavo Petro, 62, somou 50,5%, e derrotou o conservador Rodolfo Hernández, 77, que teve 47,1% dos votos.
Nas propostas do candidato de esquerda, estão uma mudança do modelo econômico do país, tornando-o menos extrativista e com mais ênfase na produção agrária, industrial e científica. Ele também promete uma reforma agrária baseada na taxação de terras improdutivas e no aumento dos impostos aos colombianos mais ricos.
Foi o último capítulo de uma campanha considerada “suja”, repleta de ataques verbais, supostas ameaças de morte, recusa em participar de debates, vazamentos de vídeos de reuniões de campanha, e até a sugestão de Petro de que poderia não aceitar o resultado e apontar supostas irregularidades do órgão eleitoral.
Uma grande insatisfação popular tomou conta da Colômbia, e acompanhamos a onda de protestos de 2019 e 2021, quando manifestações para derrubar uma proposta de reforma tributária se expandiram em uma ampla gama de demandas, de uma sociedade mais inclusiva ao fim da violência no campo e à implementação total do acordo com as Farc.
Diferente do atual líder do país, Iván Duque, Petro quer não só completar esse objetivo, mas também reabrir o diálogo com a última guerrilha ainda ativa, o ELN (Exército de Libertação Nacional). Antes de entrar na vida política, Petro foi guerrilheiro do grupo M-19, preso e exilado. Depois, foi eleito senador em duas ocasiões e prefeito da capital Bogotá.
O novo presidente irá assumir um país com sérios problemas, especialmente nas áreas de segurança, econômica e social. Mesmo com uma projeção de crescimento do PIB de 6,1% para 2022, a inflação, em 9%, preocupa, assim como o desemprego, na casa dos dois dígitos, com índice de 11,1%.
O país colombiano encara mais um desafio, que é a integração dos refugiados, que somam cerca de 2,5 milhões de venezuelanos. Petro é a favor do reestabelecimento das relações com o regime de Maduro e que o governo deixe de reconhecer Guaidó como presidente.
A violência é outro dos inúmeros problemas. Ontem, o Pacto Histórico, do esquerdista, afirmou que o fiscal Roberto Carlos Rivas, membro da coalizão, foi assassinado a caminho do local em que trabalharia, em Guapi, no Valle del Cauca. Houve, ainda, um tiroteio em San Vicente del Caguán, em Caquetá, antigo reduto das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) -um soldado foi morto no episódio.
O ministro da Defesa, Diego Molano, lamentou o caso, em que o militar morreu “enquanto cumpria o seu dever”. Sobre a denúncia em Guapi, prometeu realizar uma investigação.
Em entrevista ao jornal El País, Petro levantou dúvidas sobre o sistema eleitoral, insinuando que poderia haver fraude.
“Não há neutralidade na Registraduría [autoridade eleitoral], eles têm uma clara afinidade com o outro candidato. Se houver um resultado transparente que mostre minha derrota, aceitarei. Mas tem de ser transparente. E, se ganho, também deve ser transparente”, afirmou.
As dúvidas do candidato de esquerda foram alimentadas pelo vazamento, neste sábado, de um vídeo com imagens de uma simulação da contagem de votos pela Registraduría que dava a vitória a Hernández – o órgão afirmou que se tratava apenas de um teste. Na manhã deste domingo, no início da votação, Alexander Vega Rocha, responsável pelo órgão, afirmou que “a institucionalidade é mais forte que a desinformação”.
Com informações do Folhapress
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