[Texto: Brenda Leitte, Jornal O Estado de MS]
Localização privilegiada com a fronteira e divisa com outros Estados coloca a Capital em alerta
No início do mês de maio deste ano, a Polícia Civil paulista apreendeu a receita usada por traficantes para produzir a droga K9 – ou spice, como tem sido chamada – na cidade de Carapicuíba, na grande São Paulo. Denominada “maconha sintética”, a droga se tornou conhecida por provocar o “efeito zumbi” nos usuários. Entre os ingredientes da mistura encontrada, havia ácido sulfúrico, que é utilizado na fabricação de fertilizantes, produtos de limpeza e até de explosivos. Em Mato Grosso do Sul, apesar de o cenário ainda ser distante, especialistas já exploram o assunto.
Anotada a mão, em duas páginas de folhas de caderno, além dos ingredientes, a receita ainda contava com o “modo de preparo” do canabinoide sintético, que originalmente resulta em um líquido. A substância costuma ser borrifada em um tipo de tabaco, para ser fumada como um cigarro, e vendida falsamente como “maconha sintética”. Apesar do nome, a droga não é feita com nenhum derivado da erva natural.
O entorpecente também é conhecido como spice, space, K2, K4 e K9 e teve o consumo proibido por muitos Comandos, devido aos efeitos avassaladores que causa, gerando internação e morte. À época, o delegado da Dise (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes), Estevão Castro, explicou que a receita era usada para produzir a droga em laboratórios clandestinos.
Com a receita, dois suspeitos foram presos em flagrante, por tráfico de drogas. Somente no ano passado, foram 4.091 apreensões do entorpecente, em São Paulo, o equivalente a um a cada duas horas.
Em MS, apesar de ainda não haver registros de apreensão da droga, a Polícia Civil já analisa a situação. Ao jornal O Estado, o delegado Hoffman D’ávila destacou que, porque o Estado faz divisa com a fronteira e mais cinco Estados brasileiros, Campo Grande tem se tornado um entreposto para a redistribuição de entorpecentes, dando margem para a K9.
Conforme o delegado que atua na Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico), estudos de contenção já são necessários. “Nós não temos apreensão dessa droga aqui, ainda. Em MS, nossos maiores registros são de cocaína, maconha, skank (bucha de maconha). Já referente à droga sintética, é o MD, MA, LSD e o microponto, que já são conhecidas. Com isso, a Capital tem se tornado um entreposto”,
afirmou Hoffman.
Especificamente sobre a droga K9, o delegado disse se tratar de um entorpecente altamente perigoso e danoso. “A K9, com certeza, é uma preocupação para o Estado, por ser uma droga com alto poder destrutivo, viciante e [causar] danos incalculáveis. Até mais do que o crack. É uma droga cuja molécula é modificada em laboratório, então isso a deixa mais poderosa. Como vemos nas grandes cidades, o usuário fica ‘surtado’, literalmente, pois perde totalmente a consciência e fica completamente descontrolado”.
Contudo, Hoffman destacou que a maior preocupação da Denar é combater os vários tipos de tráfico. “Não é só combater o tráfico interestadual, mas combater o tráfico doméstico, tráfico ‘formiguinha’ das bocas de fumo. Isso é algo que incomoda muito a população, desencadeando outros tipos de delito, como: furto, roubo, homicídio, estupro e, principalmente, crimes contra o patrimônio”, destacou.
Conforme a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), na Capital, a única apreensão de K9 foi em uma quantia irrisória, por isso, não há a contabilização.
Tendência nacional
Visando um problema de saúde pública no futuro, o especialista em segurança, Dr. Fernando Nogueira, afirma que se trata de uma tendência nacional. “Este será mais um desafio para os órgãos de saúde pública, repressão a drogas e crimes, e segurança. Pois, com certeza, uma droga nova e barata acaba aumentando crimes e destruindo mais famílias.
Ranking de apreensões
Pesquisa divulgada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), na semana passada, indicou que Mato Grosso do Sul lidera o ranking de apreensões de maconha per capita, no cenário nacional. Segundo o documento, o Estado possui o maio número de processos por tráfico, com volume inferior a 150 gramas com 1,1 kg, ficando, assim, na frente de Estados como o Rio de Janeiro, com 147 gramas e Pernambuco, com 112 gramas.
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