O “arroz de todo dia” compromete cerca de 30% da renda de uma família

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Considerada comida básica na mesa do brasileiro, arroz se tornou artigo de luxo. Foto: Marcos Maluf

O valor do pacote de 5kg do produto é encontrado por R$ 30,29 nos supermercados de Campo Grande

Quando pensamos em alguma refeição, é quase impossível não associar ao prato de comida mais tradicional para o brasileiro – arroz e feijão. No entanto, ter o alimento na mesa todos os dias têm se tornado um grande desafio financeiro para os brasileiros. Considerando que uma família sobreviva com os R$ 450 do Mais Social, [benefício oferecido pelo Governo do Estado de Mato Grosso do Sul] e consome em média 25 kg de arroz no mês, o resultado é um comprometimento de mais de 30% do benefício.

É a realidade da família da Leuda Silva Gomes, 39, e do esposo Daniel dos Santos. Ela compartilhou que em sua casa, é consumido em média cinco pacotes de arroz de 5kg. E que garantir o alimento no prato dos três filhos, todos os dias é uma preocupação frequente do casal, devido aos valores do produto.

“A verdade é que, hoje em dia, a gente trabalha só para comer. Essa semana mesmo, no mercado aqui do bairro, encontrei o pacote por R$ 32, onde já se viu pagar em um alimento básico mais de R$ 20! Em casa, temos três filhos e esses preços têm sido uma preocupação para eu e meu esposo”, destacou.

Sem trabalho, a Dona de casa Ana Cláudia, de 33 anos, explica que o aumento no preço do alimento tem refletido negativamente no orçamento da família. “Com minha filha de férias, fiquei sem trabalhar para cuidar dela, vivemos somente com a renda do meu marido. Gastamos todo mês de R$ 60 a R$ 90 só na compra de arroz, já que precisamos de dois pacotes, e isso pesa no bolso”, reclama.

Vivendo somente com o salário de uma aposentadoria, Pedro de Almeida, de 56 anos, demonstra indignação ao comparar os valores pagos no quilo do arroz, frente ao salário pago aos trabalhadores.

“Hoje mesmo fui no mercado, e o arroz mais em conta que achei foi R$ 26,49 e esse valor está longe de ser barato, principalmente, com o salário mínimo pago atualmente. E nem precisa ser um especialista e ter bom estudo para saber que a conta não fecha, por um lado os alimentos tudo caro no mercado e o salário não sobe mais que R$ 100”, compara o aposentado.

Economistas apontam motivos do aumento

Em especial, o arroz, que em 2023 acumulou inflação de 24,54% conforme dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Especialistas consultados, apontam alguns dos motivos que levaram ao aumento de preço do produto, vendido nas prateleiras.

Um deles é justificado pela prioridade que alguns produtores têm em mandar para fora do Brasil o alimento, segundo a economista, Andreia Ferreira. “Quando os produtores de arroz preferem exportar, ou seja, mandar para fora do país, eles vão fazer falta aqui no mercado interno. Com isso os preços permanecem elevados, é por isso que está desse jeito”, avalia a pesquisadora.

“O cenário é desafiador, porque mesmo com aumento da área plantada no Brasil, com a restrição de exportação da Índia – maior produtor mundial – os produtores brasileiros de arroz preferem manter a exportação, para aproveitar o ganho cambial”, completa a economista.

Um levantamento do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) revela que o preço médio, pago pelo consumidor no período de 2019 a 2023 no pacote de arroz de 1 kg e 5 kg teve alta de 77,98% e 71,11%, respectivamente. Na pesquisa de preço com itens da cesta básica, realizada toda semana pelo jornal O Estado, encontrou na sexta-feira (02) o pacote de 5 kg sendo vendido por R$ 30,29 o valor mais caro e R$ 26,90 o preço mais em conta para o consumidor.

Já o economista e professor de ciências econômicas na UFMS, Odirlei Dal Moro, ressalta a influência do clima sobre o aumento de preço do arroz. Principalmente, em períodos de temperaturas altas, como vivemos no segundo trimestre de 2023, além de chuvas intensas e tempestade podem levar a quebra de safras, na diminuição da produção refletindo nos alimentos.

“No caso específico do arroz os fatores climáticos e de mercado contribuíram para a elevação do preço. Entretanto, com o futuro aumento da produção, os preços deverão cair. Dentro de 3 meses possivelmente a oferta será reestabelecida”, comenta o especialista, projetando uma melhora nos preços do cereal.

Por Suzi Jarde.

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