Na páscoa, chocolate comum e requintado acumula altas exorbitantes nos preços

Foto: Nilson Figueiredo
Foto: Nilson Figueiredo

Guerra, fenômeno El Niño e dificuldades com mão de obra são apontados como responsáveis

Em preparação para a Páscoa, mercados e chocolaterias preenchem as prateleiras com os produtos que enchem os olhos e o paladar dos consumidores. No entanto, quem já está de olhos nos presentes para celebrar a festividade, percebeu o encarecimento da iguaria, seja ele do tipo comum ou requintado. O preço repassado ao consumidor final neste período, onde a demanda pelo chocolate aumenta, na verdade, tem sofrido uma série de influências, como por exemplo, a Guerra entre Ucrânia e Rússia, o fenômeno El Niño e dificuldades com mão de obra são apontadas como responsáveis pelos preços exorbitantes.

O diretor do consórcio Cabruca (Cabruca – Cooperativa dos Produtores Orgânicos do Sul da Bahia) e consultor de negócios estratégicos em cacau e chocolate, Thiago dos Santos Fernandes, 37, argumenta que o que tem acontecido vem assustando os produtores e profissionais do ramo, já que o valor para produzir também tem aumentado e acaba sendo repassado ao consumidor final.

“O aumento do cacau está assustando todo mundo e deixando a páscoa mais salgadinha. Esse cacau cotado na bolsa de valores, que não é o cacau fino, é aquele que as grandes indústrias utilizam para produzir o chocolate que achamos no mercado. Em sua grande maioria, ele é produzido na África e o que está acontecendo, é que os fenômenos meteorológicos que afetam o Brasil e também o mundo, e estão ligados ao aquecimento global, acabam interferindo na produção do cacau, que é a árvore, planta, então qualquer mudança climática vai afetar”, explica Fernandes.

Conforme Fernandes, hoje a Rússia, é o maior produtor de fertilizantes e com as implicações da guerra, o resultado na exportação de fertilizantes tem atingido diretamente o setor cacaueiro e chocolateiro do Brasil. “O fechamento de muitas portas de outros países para a Rússia também interfere na chegada desses fertilizantes ao Brasil. Muita gente tem produção orgânica, mas é preciso usar adubos e fertilizantes para o cacau, então esses fertilizantes também sofreram aumento por conta da guerra da Ucrânia com a Rússia, esses fatores acabam interferindo”, destacou.

Até quinta-feira (7), o cacau era cotado em R$ 450 na Bahia, no Espírito Santo o preço estavam em R$ 1840 e no Pará, R$ 28,60. Conforme pontua Fernandes, o cacau fino, por exemplo, fica ainda mais caro que o convencional. Afinal, em seu cultivo, o cacau fino, por exemplo, exige uma série de cuidados e técnicas mais rebuscadas, a fim de garantir maior qualidade. A exemplo, é possível citar a quantidade de dias para preparação do produto, que no cacau comum, é de 7 a 10 dias, enquanto que no fino, o período pode se prolongar até 25 dias.

O economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho, Staney Barbosa Melo, argumenta quetemos visto um conjunto onde há um aumento acentuado dos preços em função de problemas climáticos e aumentos nos preços dos insumos, como o cacau. “Só nos últimos 30 dias os preços da matéria-prima já saltaram cerca de 8%. Quando comparamos a março do ano passado, o cacau acumula alta de 114%, de R$ 860 a saca de 60kg para R$ 1840. É certo que essas altas afetarão os preços dos chocolates nas gôndolas, sobretudo porque estamos em um período sazonal, onde a demanda por chocolate aumenta e naturalmente pressiona os preços. Entretanto, a questão do clima, este ano, é a variável-chave que explica a disparada dos preços do insumo, isto porque a Costa do Marfim, maior produtor de cacau do mundo, enfrenta problemas de produção que estão afetando o mundo todo e, particularmente, o Brasil, isto porque o país Africano foi responsável 40 mil toneladas das 100 mil toneladas que o país importou em 2023”, esclarece o economista.

Produção para a Páscoa

Em 2017, durante o curso de Empretec no Sebrae, a ideia da Angí Chocolates, marca especializada em chocolates de alto padrão nasceu. Inspirada pela paixão pela biodiversidade do Pantanal, ao apostar sobretudo em frutos nativos do cerrado, Beatriz Branco, decidiu dar continuidade ao negócio, a fim de conectar as pessoas à riqueza da região sul-mato-grossense por meio do paladar.

Mesmo com os desafios colocados pelo mercado, a empresária e chocolatier da Angí Chocolates, Beatriz Branco, 35, especialista em produtos feitos com cacau e frutos nativos do cerrado, argumenta que tem sentido as altas nos preços neste ano, de forma a impactar no preço que chega até o consumidor final.

Beatriz Branco – Foto: Acervo pessoal

“[Tudo isso acontece] por conta da crise climática e do impacto na safra do cacau, o que impacta também no nosso lucro. Os desafios relacionados aos preços dos insumos podem representar uma dificuldade para os fabricantes. Flutuações nos custos de matérias-primas podem afetar a rentabilidade dos negócios. Estratégias eficientes de gestão de custos e inovação na oferta de produtos podem ser essenciais para enfrentar tais desafios e garantir a sustentabilidade no mercado”, destaca Branco.

 

 

 

Por Julisandy Ferreira 

Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.

Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.

 

Leia mais:

Custo da cesta básica aumenta 7,24% em Campo Grande nos primeiros meses do ano

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *