“Em 20 ou 30 anos, o PROARMAS ou o Movimento Conservador podem se tornar partido”

Marcos Pollon PL PROARMAS
Imagem: Reprodução/Nilson Figueiredo
Prioridade durante este tempo é lutar pelo fortalecimento do segmento de uma forma organizada na sociedade; com 23 parlamentares eleitos, a reeleição de Jair Bolsonaro faz parte do processo de amadurecimento

O advogado, Marcos Pollon (PL), obteve 103.111 votos, o mais votado entre os candidatos a deputado federal e irá comandar a bancada mais numerosa do Congresso Nacional, pelo PL de Mato Grosso do Sul. Defensor dos armamentos, Pollon contou apoio direto da família Bolsonaro durante a campanha.

“Eu sou do diálogo e gosto de buscar o debate com quem tem pensamento diferente do meu. Procuro mostrar às pessoas quais são as propostas do Movimento Conservador e o que realmente significa o PROARMAS. Defender o direito de o cidadão comum obter o porte de armas não significa encher um caminhão com armas e sair distribuindo para a população. Eu cheguei a ser expulso do prédio do Congresso nas vezes em que fui expor as minhas ideias como ativista, agora sou um parlamentar eleito, e por isso tenho a legitimidade para defender, em nome dos que votaram em mim, o meu pensamento”, disse em visita ao jornal O Estado a forma que pretende atuar nos próximos quatro anos na Câmara Federal.

O PROARMAS é um movimento nacional que defende a regulamentação do uso e da posse de armas no Brasil. Na eleição de 2022 conseguiu eleger 23 parlamentares para a bancada ao Senado e à Câmara. A lista inclui profissionais de segurança pública, políticos de direita e ex-membros do governo de Jair Bolsonaro (PL), casos de Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia, e de Mario Frias, da Cultura.

A relação do PROARMAS com o bolsonarismo é clara. A maioria defende a reeleição de Bolsonaro e vê na eleição de Lula um retrocesso para o país na flexibilização das políticas de armas e no modo geral para o país. “Não queremos que o Brasil volte a viver com a corrupção, pois isso levaria o país a viver situações em que se encontram Argentina, Colômbia, Chile, Venezuela e Nicarágua. Não podemos perder tudo o que construímos nestes últimos quatro anos. No caso de acontecer uma vitória da oposição, tenho plena certeza de que eles deverão enfrentar uma oposição extremamente dura no Congresso como nunca enfrentaram”, analisou.

O Estado: Mais de 100 mil votos na primeira eleição. MS elegeu um deputado que defende abertamente o porte e a posse de armas. Acredita que este posicionamento o levou a ser o recordista de votos?

Polon: Eu nunca tive planos de ingressar na vida partidária, pois acreditava que os movimentos da sociedade civil organizada têm maior poder de mobilização e de influenciar nas mudanças. O meu ativismo vem desde 2005 por ocasião do referendo sobre o desarmamento e está relacionado à defesa dos direitos civis do cidadão, e que acabou ganhando as ruas já em 2007 e foi crescendo, passando pela mobilização que culminou com a derrubada da presidente Dilma Rousseff (PT). Também por integrar o movimento que elegeu Mansour Elias Karmouche para a presidência da OAB. Foram etapas que acabaram sendo vencidas com a formalização do Instituto Conservador e posteriormente o PROARMAS, que acabei levando para diversos municípios do país. Depois da eleição do presidente Jair Bolsonaro eu criei o projeto que legalizava a posse de armas.

O Estado: Quando se aproximou do presidente Jair Bolsonaro?

Polon: Em 2010, eu tive o primeiro contato com o então deputado Jair Bolsonaro e em 2014 conheci o filho, Eduardo Bolsonaro. Nesse tempo nos aproximamos pela afinidade das ideias que compartilhamos por meio do movimento em defesa dos direitos civis e de iniciativas como o direito de o cidadão ter o porte de armas para se proteger.

O Estado: Em que momento decidiu se candidatar ao cargo eletivo?

Polon: Eu vinha preparando candidatos em todo o país e, por incrível que pareça, em novembro do ano passado nos demos conta de que não havia nenhum nome suficientemente forte para ser lançado em Mato Grosso do Sul. Apesar de já ter começado a ser pressionado a me lançar, eu resistia muito à ideia por diversos fatores, inclusive alguns de ordem familiar. Foi numa conversa com o Eduardo Bolsonaro que ele perguntou de forma incisiva se eu não queria ser candidato. Na época eu estava morando em Brasília (DF), uma vez que, por conta do Movimento Conservador e da defesa do direito ao porte de armas, se fez necessário minha presença lá em Brasília e uma candidatura implicaria o meu retorno a Campo Grande, inclusive com a transferência do meu escritório, uma vez que sempre mantive a minha atuação como advogado. A partir de então retornei ao Estado e decidi colocar meu nome na disputa, mas não foi muito fácil, pois as resistências dentro de partidos eram bem grandes.

O Estado: A vinda de Eduardo Bolsonaro a MS, pedindo voto ao senhor, foi primordial para essa arrancada?

Polon: Quando o Eduardo Bolsonaro me perguntou se eu aceitaria ser o candidato do PROARMAS em Mato Grosso do Sul eu fiz três exigências: pedi que ele me assegurasse uma legenda que tivesse um número parecido com o dele e que gravasse um vídeo me apoiando. Os três pedidos foram atendidos e ele ainda veio aqui no Estado para anunciar o apoio a minha candidatura. Eu sempre considerei que o apoio dele seria de fundamental importância para o sucesso da minha candidatura e acredito que esse apoio foi determinante, sim.

O Estado: O senhor, desde como professor universitário, defende os princípios constitucionais do direito à vida e à legítima defesa, por meio do direito de ter e portar armas. O PROARMAS surgiu em 2020 com estes objetivos. Agora, como deputado, será possível manter o pensamento numa Câmara Federal tão diversa?

Polon: Eu sou do diálogo e gosto de buscar o debate com quem tem pensamento diferente do meu. Procuro mostrar às pessoas quais são as propostas do Instituto Conservador e o que realmente significa o PROARMAS. Defender o direito de o cidadão comum ter o porte de armas não significa encher um caminhão com armas e sair distribuindo para a população. Eu cheguei a ser expulso do prédio do Congresso nas vezes em que fui expor as minhas ideias como ativista, agora sou um parlamentar eleito, e por isso tenho a legitimidade para defender, em nome dos que votaram em mim, o meu pensamento.

O Estado: O PROARMAS elegeu 23 parlamentares para o Senado e a Câmara. As políticas para flexibilização das armas serão uma das pautas que devem ganhar mais fôlego para se discutir no país?

Polon: Lançamos candidatos em 80 municípios do país e conseguimos eleger 23 parlamentares, e isso representa uma bancada bem maior que boa parte dos partidos que estão representados no Congresso Nacional. Com essa sustentação já estou conversando com deputados e senadores para tratar dos projetos que tratam da flexibilização das leis que regulamentam o porte de armas pelas pessoas de bem. Queremos debater e sermos ouvidos agora com representação no Congresso Nacional. Como ativista consegui pautar cinco vezes as propostas, mas todas não prosperaram, agora poderei lá dentro atuar de forma mais direta neste sentido.

O Estado: O PROARMAS bem como o Movimento Conservador podem vir a se tornar um partido?

Polon: Eu tenho certeza de que sim, mas acredito que esse é um projeto para daqui uns 20 ou 30 anos, sendo que agora temos outras prioridades e a principal delas é a reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Outra prioridade é lutar pelo fortalecimento dos segmentos da sociedade civil de uma forma organizada, como ocorre nas pequenas cidades dos Estados Unidos, e pode ter muito mais força que partidos políticos.

O Estado: Mas com essa decisão do Supremo que levou o controle de armas no país para o patamar de 2004, revogando os decretos presidenciais, não ficará mais difícil?

Polon: O Brasil está mudando e a nova composição do Congresso Nacional, a partir do resultado da eleição deste ano, isso ficou bem claro e deverá se refletir na sociedade como um todo. O momento é muito diferente daquele em que iniciamos a nossa luta em 2005 e agora estamos com uma bancada composta por gente preparada para defender a proposta de regularização do direito ao uso de armas por parte do cidadão. Eu mesmo sou especialista no assunto, então estamos preparados para o embate.

O Estado: Temos, do outro lado, o candidato do PT à Presidência, Lula. Ele pouco tem falado sobre o assunto, mas deixou escapar que “se o PT voltar ao governo, as pessoas vão devolver essas armas”. A eleição de Lula é uma ameaça para quem luta contra a criminalização das armas no país?

Polon: Estamos lutando muito para que não ocorra o retrocesso que seria a volta de Lula à Presidência. Não queremos que o Brasil volte a viver com a corrupção, pois isso levaria o país a viver situações em que se encontram Argentina, Colômbia, Chile, Venezuela e Nicarágua. Não podemos perder tudo o que construímos nestes últimos quatro anos. No caso de acontecer uma vitória da oposição, tenho plena certeza de que eles deverão enfrentar uma oposição extremamente dura no Congresso como nunca enfrentaram.

O Estado: Na reta final da campanha, o senhor apoiou o candidato a governo Capitão Contar (PRTB), mesmo sendo do PL, que estava com Riedel. Vai manter esta postura no 2º turno?

Polon: Apesar de estar filiado ao PL, que apoia Eduardo Riedel, eu mantive o meu projeto sem me envolver diretamente na disputa majoritária. Por orientação do presidente Jair Bolsonaro, permaneci sem me manifestar, e o fiz mais abertamente depois que ele próprio, durante o debate da Globo, anunciou o seu apoio ao Capitão Contar. Não tenho nada contra o Eduardo Riedel, mas me incomoda muito o fato de ele ser candidato pelo PSDB, um partido que foi opositor das ideias que nós do movimento armamentista defendemos e criou obstáculos às propostas que apresentamos no Congresso Nacional. Agora, no segundo turno, estou apoiando abertamente a candidatura do Capitão Contar.

O Estado: A eleição de governo em MS promete ser tão acirrada como a da Presidência?

Polon: Não é fácil disputar com a máquina, mas o resultado do primeiro turno demonstrou que a população quer mudança e, mesmo sem todo o poderio econômico das outras candidaturas, o Capitão Contar chegou em primeiro lugar. Acho que o apoio do presidente Jair Bolsonaro foi decisivo para a votação que o Capitão Contar obteve.

Neste segundo turno acredito que será uma luta difícil como a disputa presidencial, contrariando as previsões de que poderia acontecer uma vitória de Lula já no primeiro turno.

Por Laureano Secundo – Jornal O Estado do MS.

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