Eleição causa divisão dentro de casa ou entre parentes e amigos

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Imagem: Reprodução/Nilson Figueiredo
Irmãos são opostos na política, mas se respeitam e seguem tentando convencer sobre suas bandeiras

A polarização entre os apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na atual corrida presidencial está cada vez mais forte. É comum haver grupos de amigos e famílias onde nem todos partilham da mesma opinião política, o que muitas vezes gera desavenças, já que estão em “lados opostos”. Esse é o caso dos irmãos Miranda, que tendo a mesma educação e criação, optaram por caminhos opostos quando se trata das eleições. Irmãos na vida, mas opositores na política.

“Meu irmão tem de rever os conceitos dele”, alfinetou a petista Valéria Miranda, de 42 anos, quando perguntada sobre as escolhas políticas de seu irmão.

“É complicado. Ela que sabe sobre a vida dela”, devolveu Maurício Miranda, de 36 anos, ao ser questionado sobre como é ter uma irmã petista.

De forma descontraída, os irmãos defendem o que acreditam, mas sem romper os laços familiares. “Respeito. É isso que temos como princípio. Vivemos em uma democracia, e temos a liberdade de escolher em quem votar. Hoje, não concordo com a opção dela de voto, mas é um direito dela, independente do que eu acho”, ressaltou o irmão.

“Eu digo o meu ponto de vista, e ele o dele. Não concordamos na maioria das vezes, essa é a verdade, mas com o respeito que aprendemos a ter dentro de casa, não deixamos que isso interfira em nosso relacionamento de irmãos. A menos que ele venha falar mal do governo do Lula”, brincou a irmã.

Gerando divergência entre homens e mulheres desde a época entre Collor e Lula, as discussões sobre as eleições de 2022 se configuraram como a segunda maior disputa entre gêneros desde 1989, é o que aponta um levantamento, feito por “O Globo”, a partir de pesquisas Datafolha, disponíveis no Cesop (Centro de Estudos de Opinião Pública), o qual mostra que a disparidade de votos entre gêneros em 2022 é alarmante.

“Votar no Lula é pelo que foi o governo do PT. Foi um governo que olhou diferente para as pessoas, teve um papel social muito grande e, gostando ou não, não dá para fechar os olhos e não dizer que: viajar, entrar numa faculdade, comprar um carro, comprar uma casa, salário-mínimo valorizado; não melhorou a vida de muitos brasileiros. Com isso, foi um governo que deixou os mais pobres terem esperança e sonharem com dias melhores, o que não podemos dizer o mesmo sobre o atual governo. Não consigo enxergar isso atualmente, por isso voto e peço voto para quem olha para nós”, pontuou Valéria.

Em contrapartida, para Maurício, o foco não está no passado, e sim no futuro. “Temos um presidente sistemático, concordo. Às vezes fala e faz o que não concordamos muito… mas precisam admitir que temos um presidente que ama o Brasil, os valores e a liberdade. Sem falar da luta contra a corrupção, que é o que precisamos. Não sou extremo, e tenho comigo que, se ele errar, vamos ter outra eleição futura para corrigir. Voto no Bolsonaro e defendo os mesmos princípios, pois é o melhor que temos para o Brasil neste cenário, onde o PT não pode tomar conta novamente”, afirmou o irmão ao jornal O Estado.

Analista

A história dos irmãos Miranda, que moram na Capital, revela um dos traços do eleitorado, não somente de Mato Grosso do Sul, mas do Brasil, que pode ser decisivo nesta eleição. No próximo domingo (2), eleitores devem ir divididos às urnas para escolher os próximos representantes. Segundo análise do cientista político Tito Machado, a divergência faz parte da democracia. “Quanto maior a quantidade de opiniões diferentes, mais rico é o diálogo e, quem ganha é a sociedade. No passado, como no presente, a divergência de ideias e opiniões sobre partidos e candidatos existiram entre amigos de longa data, no ambiente de trabalho e, inclusive, no ambiente familiar”, destacou.

“Apesar de todas as turbulentas agressões, pouco se observava o fim de amizades, ou de casamentos, por conta dessas discordâncias. A divergência de opiniões políticas é quem dita a riqueza de um processo político”, acrescentou ele.

Radicalizado

Com as divergências levando às atitudes mais drásticas, de forma mais radical está a família de Sarah Chaves, que aos 24 anos diz não ter muitos de seus familiares nas redes sociais, após romper laços em razão de opiniões diferentes quanto à política brasileira.

“Após completar 18 anos, fui cobrada para me posicionar na política, e tinha de ser o mesmo lado da minha família, que vota no Bolsonaro. Após isso não acontecer, as divergências começaram e com elas as discussões, os quais passaram a me taxar de petista. As publicações pró-Bolsonaro nas redes sociais foram causando ainda mais discussões entre a gente”, relatou a jovem jornalista

Não concordando com a opinião da mãe e da irmã, Sarah optou por excluir das redes sociais a família. “Tento falar que essas informações que minha mãe recebe todo dia em vídeos do Whats, TikTok e Facebook, em sua maioria são falsas, e que ela devia averiguar antes de sair compartilhando, mas não adianta. Com isso, pela minha saúde mental, não somos amigas no Facebook, e nem nos seguimos nas demais redes sociais, para evitar essas brigas e manter um bom relacionamento entre a gente após as eleições”, contou Sarah.

Violência política contra a mulher preocupa

Em 2021, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei nº 14.192/21, que estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher durante as eleições e no exercício de direitos políticos e de funções públicas. A norma considera violência política contra as mulheres toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos delas. Diante disso, a lei altera o Código Eleitoral, proibindo a propaganda partidária que deprecie a condição de mulher ou estimule sua discriminação em razão do sexo feminino.

De acordo com a conselheira estadual da OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil/Mato Grosso do Sul), advogada Andressa Basmage, o ambiente político majoritariamente masculino causava desconforto e insegurança às mulheres, desestimulando a participação no cenário político, resultando em poucas mulheres engajadas e ativas na política.

“Com a alteração do Código Eleitoral em 2009 passou-se a obrigar ao preenchimento de 30% das vagas para candidaturas de cada sexo, obrigando a que partidos e coligações registrassem ao menos 30% de suas vagas com mulheres. Tal medida foi um avanço gigantesco, no entanto, com o passar do tempo observou-se que, mesmo com a obrigação, ainda havia uma participação muito pequena das mulheres”, pontuou.

A nova norma também alterou a Lei das Eleições para definir que, nas eleições proporcionais – para cargos do Legislativo – os debates fossem organizados de modo a respeitar a proporção de homens e mulheres fixada na própria lei eleitoral, ou seja, de no mínimo 30% de candidaturas de mulheres.

“Com a promulgação, em 2021, da lei que criminaliza a violência política contra a mulher e assegura a participação de forma igualitária, as mulheres são incentivadas a participar, dando a estas a segurança e a certeza de que serão respeitadas, ouvidas e tratadas com igualdade. Prevenindo, combatendo e reprimindo qualquer tipo de desrespeito, discriminação, desigualdade ou conduta que tenha a finalidade de excluir ou diminuir a mulher. É um avanço sem igual para as mulheres brasileiras”, finalizou Andressa.

Por Brenda Leitte – Jornal O Estado do MS

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