Chuvas revelam aumento na superfície alagada do Pantanal e deixam estragos em cidades de MS

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Foto: Nilson Figueiredo/Jornal O Estado MS

Enquanto o Bioma se recupera da severa estiagem, municípios sofrem as consequências dos temporais

Após atingir a menor área de superfície de água dos últimos 37 anos, em 2021, com 474.638 hectares, Mato Grosso do Sul inverteu a perigosa curva e iniciou uma marcha de recuperação no ano passado, com o incremento de 82.892 ha (hectares) de superfície de água em um ano. O bioma deve superar o período de seca neste ano, com a chegada do maior volume de chuvas na bacia.

Apesar de ser considerado um sinalizador importante, ainda há uma enorme distância separando o ambiente hídrico atual daquele de quase 40 anos atrás. Em 1985, eram 1,593 milhão de hectares de superfície de água, a maioria localizada na planície pantaneira, conforme dados do estudo elaborado pelo Projeto MapBiomas, uma iniciativa do Observatório do Clima, desenvolvido por uma rede multi-institucional, envolvendo universidades, ONGs e empresas de tecnologia.

Para o jornal O Estado, o Coronel Angelo Rabelo, presidente fundador do IHP (Instituto Homem Pantaneiro) destacou que a história do Pantanal é marcada por grandes ciclos de cheias e secas. Segundo ele, desde 2017, já havia indicativo do início de um ciclo de seca, que normalmente oscila a cada 10 ou 15 anos, de acordo com o a janela de tempo, desde 1900.

O último grande ciclo de cheia foi há mais de 25 anos e o que acontece agora é uma inversão dessa tendência, sabendo que o Pantanal está voltando a encher, especialmente no período de chuvas.

“A gente começa a não ter uma lógica cíclica na análise, o que representa um grande desafio para todas as competências envolvidas e requer, especialmente, o desafio de respeitar as imposições que a natureza define. Então, o grande problema desse processo são as construções de estradas, que, na hora de construir, deve-se respeitar os extremos dos fluxos para que não interfiram na dinâmica do Pantanal, que já é uma realidade, na BR-262. A rodovia cortou o Pantanal no meio, interferindo brutalmente na hidrodinâmica e, consequentemente, em uma série de problemas ecológicos e de produção. Vamos precisar reaprender, cada vez mais, que quem comanda é a natureza”, destacou, alertando que, como o Pantanal ainda está muito seco, não devem ser registradas grandes cheias, mas cheias pontuais.

O secretário da Semadesc (Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jaime Verruck, destacou que o governo do Estado tem tomado medidas que vão ao encontro da mitigação do problema, como a transformação da planície pantaneira para Área de Uso Restrito, onde é obrigatório manter 50% da vegetação nativa e ações para recuperação do solo nas nascentes do rio Taquari, um dos principais tributários do Pantanal, em parceria com o Instituto Taquari Vivo e prefeituras da região.

“Essa sinalização é positiva e pode indicar que está chegando ao fim o longo ciclo de seca que atinge, em especial, a região pantaneira. Esperamos que, para os próximos anos, aumente o índice de chuvas e o Pantanal volte à normalidade, com toda sua biodiversidade, que é diferenciada”, pontuou.
Cabe destacar que, em 2020, o Pantanal ardeu em chamas e o Estado teve mais de 1,7 milhão de hectares queimado.

Previsão prevê tempo instável

A previsão do tempo indica que até quinta-feira (2), Mato Grosso do Sul deve ter tempo instável, com chuvas de intensidade fraca a moderada, porém, localmente, podem ocorrer chuvas mais intensas e tempestades, acompanhadas de raios e rajadas de vento, com destaque nas regiões centro-sul e leste do Estado.

O Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima) revelou que os maiores acumulados de chuvas devem ocorrer entre terça e quinta-feira, com valores acima de 50 mm/24h. Atenção aos locais onde o solo já encontra-se encharcado, devido ao excesso de chuvas ocorridas nos últimos dias, havendo o risco de inundações e alagamentos e, pontualmente, deslizamentos.

O outro lado da moeda

Por outro lado, a mesma chuva que está enchendo e favorecendo o bioma, causou estragos em outras cidades como a Capital e a cidade turística de Bonito. Nesta última, o Corpo de Bombeiros resgatou 47 pessoas e oito animais que ficaram completamente ilhados, após forte temporal durante a noite de sexta-feira (24). Ao todo, 11 pedidos de socorro foram atendidos pelos oficiais.

Na manhã de ontem (27), A Prefeitura de Bonito, com apoio da Defesa Civil do município, removeu as famílias das áreas de risco do Distrito Águas do Miranda. O volume de água surpreendeu os moradores do Pesqueiro do Noé, onde vivem cerca de 30 famílias, que não tiveram tempo para retirar móveis, eletrodomésticos e veículos.

As equipes estão no local com maquinário e caminhões para fazer o transporte dos bens, e fornecendo água potável, lona e embalagens.

Em Campo Grande, na noite de domingo (26), a chuva provocou enxurradas em diversos bairros da cidade, contudo, o que chamou a atenção foi que uma ponte, localizada na rua Rivaldi Albert, na região do Alves Pereira, cedeu.

No momento do acidente, uma família passava pelo local em uma caminhonete S-10, que acabou presa na cratera. Na manhã de ontem, equipes da prefeitura estiveram no local para avaliar os estragos. A expectativa é que os trabalhos durem 15 dias.

Cachoeira ‘Boca da Onça’ volta a ter água após seis meses

Na última sexta-feira (24), o guia turístico Rosivan Cardoso e um grupo de turistas que o acompanhava tiveram uma grata surpresa. A cachoeira “Boca da Onça”, em Bonito, voltou a ter águas após secar no mês de agosto, do ano passado.

Em entrevista ao jornal O Estado, ele destacou que o momento foi de muita emoção. “Fui para a trilha da cachoeira ‘Boca da Onça’, com 11 visitantes de vários locais do país. Iniciamos a trilha com chuva no transporte de acesso ao passeio, a trilha no início estava com uma garoa leve e o grupo estava muito animado. Quando chegamos no último ponto da trilha, que era a cachoeira ‘Boca da Onça’ comecei a tirar fotografias dos visitantes sem chuva, e já estávamos a uns 40 min com muita chuva e eu disse a eles que com a chuva que estava até teríamos a chance de ver cair água na ‘Boca da Onça’. Aí, o visitante saiu correndo, animado, a cachoeira começou a cair água e foi uma alegria geral, o povo tava pulando, de muita alegria. Foi a felicidade de todos os visitantes: ver a queda d’água da cachoeira, eles gritavam de felicidade e gratidão a Deus, pela oportunidade”, comemorou.

Além disso, na cidade de Jardim, os visitantes se depararam, no sábado (25), com uma paisagem diferente na trilha submersa. O volume de chuvas ocasionou a cheia do rio Olho D’ Água, mantendo a paisagem de águas cristalinas e cheia de peixes.

Por Brenda Leitte e Tamires Santana – Jornal O Estado do MS.

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