Aumento do salário mínimo? “Vai todo no mercado, nas contas e nos remédios”, dizem aposentados

Reajuste do salário mínimo será de R$ 106 em 2025, o que representa 7,5% acima da inflação - Foto: José Cruz/Agência Brasil
Reajuste do salário mínimo será de R$ 106 em 2025, o que representa 7,5% acima da inflação - Foto: José Cruz/Agência Brasil

Cesta básica pesa no orçamento e valor ideal deveria ser de quase R$ 7 mil, segundo Dieese

 

Para muitos aposentados, o tão aguardado aumento do salário mínimo mal dará para cobrir as despesas do dia a dia. Apesar do reajuste de R$ 106 — o que representa 7,5% acima da inflação —, o impacto será pequeno, como já noticiado pelo O Estado na semana passada. O novo piso de R$ 1.518, previsto para janeiro, ainda está longe de atender às necessidades básicas desse público.

À reportagem, Maria Madalena, 62, cabeleireira que complementa a renda com diárias, conta que o marido, de 61 anos, recebe o salário mínimo. Para o casal, o aumento de R$ 106 não faz diferença significativa no dia a dia. “A gente ganha, vai ao mercado e já foi todo o salário. O básico, como água, luz e arroz e feijão, consome tudo. Para carne e outros itens, tem que fazer bicos.”

A aposentada Anézia Cassemiro, 71, concorda: “A gente só tem direito de comer o básico, muitas vezes nem carne. Para conseguir mais, tem que fazer milagre ou uma renda extra. Hoje, o salário mínimo deveria ser pelo menos R$ 2.000, para acompanhar o custo de vida.”

Já Valdivino Cordeiro, 80, que trabalhou por 30 anos como segurança de banco, aposentou-se em 2000 com um benefício equivalente ao salário mínimo. “Hoje, o mínimo só dá para comida e remédio. Com o tempo, a aposentadoria foi perdendo valor, e é isso que sobra para quem trabalhou uma vida inteira.”

Enquanto o governo defende o aumento real como uma conquista, muitos que dependem do salário mínimo continuam enfrentando dificuldades, destacando que, mesmo com reajustes, o custo de vida ainda pesa mais no bolso.

Entenda o reajuste

O reajuste do salário mínimo traz reflexos diretos para aposentados e pensionistas que recebem benefícios vinculados ao piso salarial. Com o novo valor estimado de R$ 1.518 para 2025, um aumento de 7,5% em relação ao piso atual, esses beneficiários terão seus rendimentos corrigidos para preservar o poder de compra.

A regra sancionada por Lula determina que o aumento real do salário mínimo estará limitado ao teto de 2,5% acima da inflação, o que influencia diretamente na correção dos benefícios do INSS. Aposentados que recebem valores acima do piso também terão reajustes, mas baseados exclusivamente no INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).

Conforme projeções, o INPC acumulado em 2024, estimado em 4,84%, será determinante para os reajustes. Com essa fórmula, o governo busca equilibrar o impacto fiscal, visto que cada R$ 1 de aumento no salário mínimo representa uma despesa de R$ 392 milhões.

Além de preservar a renda dos aposentados, a medida reduz custos públicos, especialmente para benefícios atrelados ao piso salarial, garantindo maior controle das contas públicas no contexto do novo arcabouço fiscal.

Cesta básica e salário mínimo

De acordo com pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o custo da cesta básica em Campo Grande alcançou R$ 772,45 em novembro de 2024, representando 59,14% do salário mínimo líquido. Além disso, o levantamento estima que o salário mínimo necessário para atender às despesas básicas de uma família de quatro pessoas deveria ser de R$ 6.959,31 — quase cinco vezes o valor atual de R$ 1.412,00.

A discrepância reflete o impacto do aumento dos preços de itens essenciais, como carne, óleo de soja e batata, que apresentaram variações expressivas na capital sul-mato-grossense. Enquanto isso, a jornada de trabalho necessária para adquirir a cesta básica subiu para 120 horas e 21 minutos em novembro, demonstrando o peso crescente do custo de vida para os trabalhadores.

Direito trabalhista

A reportagem conversou com a especialista em direito do trabalho e presidente da Comissão da Advocacia Trabalhista da OAB/MS, Camila Marques, que explicou que o reajuste do salário mínimo impacta diretamente no planejamento de alguns direitos trabalhistas. “O primeiro que destaco é o adicional de insalubridade, que via de regra é calculado com base no salário mínimo, independente do piso salarial do trabalhador”, explicou.

Ela também destacou outros direitos que são influenciados pelo reajuste, como férias, 13º salário, depósitos do FGTS e horas extras. “Esses direitos são calculados com base na remuneração do empregado, ou seja, um aumento no salário mínimo pode significar um aumento proporcional nesses benefícios para os trabalhadores que recebem o piso salarial”, afirmou a advogada.

A advogada também chamou a atenção para o impacto do reajuste nas negociações coletivas: “O reajuste do salário mínimo também pode influenciar na negociação coletiva do salário base, para as categorias que ganham mais. Alguns sindicatos usam como referência o salário mínimo para negociar o valor ou percentual do reajuste do salário base daquela categoria”, concluiu.

 

Por Djeneffer Cordoba

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