Rússia prepara maior ofensiva desde início da guerra, diz Ucrânia

Foto: Tanque T-72 ucraniano
em posição, na região
de Donetsk, provável
alvo de nova ofensiva/Genia Savilov
Foto: Tanque T-72 ucraniano em posição, na região de Donetsk, provável alvo de nova ofensiva/Genia Savilov

Em meio a contra-ataque de Kiev, Moscou concentrou 100 mil soldados no leste do país 

A Rússia prepara o que pode ser o maior ataque contra a Ucrânia desde as primeiras semanas da invasão promovida por Vladimir Putin, no final de fevereiro de 2022. De acordo com Kiev, mais de 100 mil soldados estão concentrados na região noroeste de Donetsk, no leste do país.

 A informação foi dada a repórteres pelo porta-voz do Grupo Oriental das Forças Armadas da Ucrânia, Serhii Tcherevati. Ele afirmou que há cerca de 900 tanques, 555 sistemas de artilharia e 370 lançadores múltiplos de foguetes na direção de Liman- -Kupiansk.

O alerta foi dado em um dia particularmente agitado no conflito, com o ataque à ponte que liga a Crimeia ocupada à Rússia e a saída de Putin do acordo que permite a exportação de grãos ucranianos pelo mar Negro sem eventual oposição de bloqueio militar.

Segundo a “Folha” ouviu de analistas militares em Moscou, a provável ação visa a romper as defesas de Kiev no momento em que a contraofensiva das forças de Volodimir Zelenski mostra sinais de dificuldades, com avanços apenas incrementais mais a sudeste de Donetsk e em Zaporíjia, no sul do país.

A invasão em 2022 mobilizou cerca de 200 mil militares e se provou insuficiente, por erros logísticos e táticos, para capturar Kiev. Mas a ação ocorreu em três grandes frentes, o que gerou críticas acerca do número de soldados nos esforços principais. Agora, ao que parece, a ofensiva será concentrada.

Se o cenário se confirmar, Kiev pode ter problemas. Sua contraofensiva, iniciada em 4 de junho, não rompeu as defesas russas, apesar de haver batalhas com grande atrito e perdas de ambos os lados – só que há menos soldados ucranianos, talvez 60 mil na ação. Autoridades da Otan, a aliança militar ocidental que armou e treinou as forças de Zelenski, têm baixado suas expectativas acerca de resultados rápidos.

Mas ninguém contava, ao menos publicamente, com uma nova ofensiva russa. Ao contrário, o mantra de analistas ocidentais é o da exaustão das forças de Putin, que ainda enfrentou um motim do Grupo Wagner em junho, perdendo acesso a esse recurso – muito empregado nos meses mais estáticos da guerra.

Se a ofensiva ocorrer de fato, e na direção aparente, pode cortar pela metade os 45% de Donetsk que ainda estão em mãos da Ucrânia, colocando linhas de suprimento para a capital provisória de Alerta Kramatorsk sob risco. É um cenário novo na guerra, com consequências imprevisíveis.

Das quatro regiões anexadas ilegalmente por Putin em setembro do ano passado, Donetsk é aquela em que ele tem menos controle territorial. Domina quase toda a vizinha Lugansk e boa parte de Zaporíjia e Kherson, que estabelecem a chamada ponte terrestre entre a Rússia e a Crimeia no sul ucraniano, às margens do mar de Azov.

O panorama havia sido estimado na semana passada por George Friedman, da consultoria americana Geopolitical Futures. Em texto para seus clientes, ele afirmou que havia a possibilidade de uma ofensiva russa tentar resolver a situação em Donetsk em favor de Moscou, o que poderá levar a um congelamento das fronteiras presumidas.

Campanha eleitoral de 2024

Friedman argumenta que o presidente americano, Joe Biden, não gostaria de entrar na campanha eleitoral de 2024 com uma situação indefinida na Ucrânia, e há fadiga entre os aliados ocidentais, como disse, na semana passada, o tcheco Petr Pavel, na reunião de cúpula da Otan. Mas o presidente da República Tcheca contava mais com ganhos de Kiev do que com uma ofensiva russa, que colocará em xeque o esforço da Otan em preparar Zelenski para contra-atacar

Por outro lado, se for em frente, Putin arriscará o coração de suas forças, e uma derrota será desastrosa, talvez obrigando uma nova rodada de mobilização de reservistas. Estima-se que, dos cerca de 1 milhão de militares russos, de 300 mil a 400 mil estejam em território ocupado na Ucrânia, então uma força de 100 mil homens é muito significativa. 

No auge da ocupação soviética do Afeganistão, que durou de 1979 a 1989, havia 120 mil soldados de Moscou no país. Eles acabaram saindo humilhados pelos guerrilheiros islâmicos do país, uma derrota geracional que acompanhou o ocaso do império comunista – dissolvido logo depois, em 1991.

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