Empresas referências na produção do biocombustível relatam força-tarefa para combate aos focos de incêndio
Há, pelo menos, três meses, os focos de incêndios vem castigando os animais e a flora de Mato Grosso do Sul. Aliás, o cenário de destruição pelas queimadas é algo que vem ocorrendo em várias regiões do país. Diante da situação, os prejuízos podem chegar ainda para o bolso dos consumidores e motoristas, refletindo em aumentos no preço do açúcar e do etanol, considerando que algumas chamas ocorrem em plantações de cana-de-açúcar.
O jornal O Estado, conversou com a economista Cristiane Mancini, que explicou a relação entre as queimadas e uma possível alteração nos preços dos produtos. “No caso do preço do etanol com as queimadas a questão é da queda na oferta então consequentemente o preço se eleva. E com certeza pode existir um impacto em outros estados até que isso se persista porque a origem do etanol continua sendo em alguns locais onde as queimadas estão ocorrendo. Então, infelizmente em alguns momentos, a gasolina pode ser mais compensatória do que o etanol”, avalia sobre os impactos.
Preocupados com as usinas instaladas no estado, e na luta para que os consumidores não sejam afetados economicamente. A Biosul (Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul), entidade que representa as usinas produtoras de açúcar, etanol e bioeletricidade, e o Governo do Estado, através da Semadesc e do Comitê do Fogo, se uniram na integração de ações e atendimento aos chamados em áreas de cana e outras culturas.
Sobre os aumentos do açúcar e do etanol, a entidade reforça para os consumidores sul-mato-grossenses que a realidade do estado é bem diferente das queimadas ocorridas em regiões de São Paulo. Que qualquer reajuste de preço, seria especulação de mercado, tendo em vista que os prejuízos ainda estão sendo calculados.
Áreas de canaviais também foram atingidas nos últimos dias no Estado, o que aumentou a preocupação, segundo o diretor técnico da Biosul, Érico Paredes, o setor de bioenergia está em alerta máximo. “Fogo nos canaviais é prejuízo para as usinas, compromete a operação, interrompe a colheita da cana, traz impactos ao meio ambiente e à saúde da população que vive próxima ao local”, explicou.
Além da total atenção às áreas de cana, as brigadas das usinas também atuam no entorno, atendendo produtores vizinhos e os municípios. Um dos exemplos de integração é feito pelo PAME (Plano de Auxílio Mútuo Emergencial). Segundo, José Hermanne, coordenador de apoio técnico do PAME Vale do Vacaria e coordenador de Saúde, Segurança e Meio Ambiente do Polo Sul da Atvos, além do atendimento em ocorrências fora das usinas, o grupo atua fortemente na conscientização da população com ações nas escolas locais e comunidade como um todo.
“Compartilhamos as boas práticas entre as empresas, realizamos simulação de atendimento e combate a incêndios em conjunto e fazemos o envio de mensagem de alertas e conscientização via whatsapp entre os integrantes do PAME”, explicou Hermanne.
BP Bunge
Com capacidade de produzir 1,7 milhão de toneladas de açúcar, sendo considerada uma potencial no processo produtivo, venda de bioenergia e açúcar a partir da cana-de-açúcar, a empresa BP Bunge compartilhou durante entrevista para o jornal, algumas medidas adotadas em 11 usinas instaladas no país, sendo uma em Mato Grosso do Sul. Plano estratégico, que contribui na redução de incêndios e de áreas queimadas. Segundo detalhou o diretor Agrícola, Rogério Bremm.
“Tais medidas acontecem por meio do Programa Brigada 4.0, que já recebeu investimentos de cerca de R$ 30 milhões. O projeto é estruturado em três pilares principais: práticas preventivas, detecção rápida e combate ágil, e conta com um sistema de monitoramento por satélite que alerta sobre as condições climáticas favoráveis para o aumento da propagação de focos de fogo. Além disso, utiliza câmeras térmicas de alta definição, instaladas em torres de observação em nossas unidades que detectam tais episódios de forma rápida e precisa”, frisou.
Tudo isso monitorado de forma online pelo SmartHub – central de gestão logística integrada que abarca recursos da indústria 4.0 “Acompanha durante 24 horas, em tempo real, de forma online e remota, toda a operação da companhia no campo, incluindo plantio, colheita, transbordo e transporte”, detalha Bremm.
Os esforços têm gerado resultados significativos. Dados registrados em 2020 apontaram 508 incêndios nas áreas de influência das 11 usinas da empresa, que com a implantação do programa foram reduzidos, em 2023, para 185 – uma queda de 63,58%. Já o volume de área queimada também diminuiu de forma relevante: de 37.327 hectares em 2020, para 8.059 hectares em 2023, totalizando uma redução de 78,4%.
Em Ponta Porã (MS), entre 2020 e 2023 os indicadores apontaram diminuição considerável no volume de área queimada neste comparativo: de 146 hectares em 2020, para 62 hectares em 2023, totalizando uma redução de 57,5%. Bremm, recorda ainda que no mês passado houve a ocorrência de um incêndio de origem desconhecida entre Dourados e Ponta Porã, próxima a unidade da companhia.
“(…) foi identificada rapidamente por nosso sistema de monitoramento e prontamente iniciamos o combate com nossa estrutura de Brigada que controlou o fogo de forma ágil.Incêndios de origem desconhecida e de grandes proporções que ocorreram no estado de São Paulo, a partir de 26 de agosto, também alcançaram algumas áreas operadas pela BP Bunge Bioenergia na região de São Jose do Rio Preto”.
Na ocorrência, Bremm salienta que em todas as situações foram realizadas o combate ao fogo e, felizmente, não houve nenhum incidente com os colaboradores e prestadores de serviço. Como também com os equipamentos, máquinas e instalações não foram atingidos pelo incêndio e estão operando normalmente.
Ações das Atvos
Com usinas em Nova Alvorada do Sul, Costa Rica e em Rio Brilhante – municípios de Mato Grosso do Sul, a Atvos é outra empresa do setor de biocombustíveis que vem atuando, sem medir esforços, no combate aos focos de incêndios. Com capacidade de produzir cerca de 3,3 bilhões de etanol, a companhia possui usinas também em Goiás, Mato Grosso e São Paulo. Para informar e capacitar a população sobre os cuidados para a prevenção e combate aos focos de incêndios, a Atvos, aderiu à campanha #ZeroIncêndios.
“Por conta do risco elevado nesta época do ano, realizamos ações de conscientização ambiental em Costa Rica, Nova Alvorada do Sul, Rio Brilhante e região, onde estão localizadas nossas três unidades agroindustriais em Mato Grosso do Sul. O fogo descontrolado pode gerar danos não somente à lavoura, mas também à vegetação nativa, fauna e áreas de preservação ambiental, além de se espalhar para as cidades próximas. É nossa responsabilidade garantir a segurança nos polos e promover ações para conscientizar nossos integrantes e a população local para evitar e combater incêndios”, afirma Leonardo Mendes, gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente do Polo de Eldorado e Santa Luzia da Atvos.
Entre as iniciativas adotadas pela companhia, destacam-se: visitas periódicas das brigadas de incêndio da Atvos a escolas públicas ao redor das operações no Estado; realização de minitreinamentos e de atividades de simulação, identificação e combate ao fogo controlado nas cidades; blitzes para entrega de adesivos educativos; e veiculação de peças de rádio. A Atvos também está comprometida em promover a conscientização diária e atualização de informações para os seus mais de 4,3 mil colaboradores diretos nas unidades Costa Rica (UCR-Costa Rica), Santa Luzia (USL-Nova Alvorada do Sul) e Eldorado (UEL-Rio Brilhante).
Atualmente, a empresa adota medidas efetivas para combater incêndios em suas operações, onde a colheita é 100% mecanizada, estando vetada a prática da queima da cana-de-açúcar. Por precaução, também são adotados procedimentos rigorosos para evitar que o fogo se inicie, como, por exemplo, a medição a cada hora da temperatura das colhedoras com um termômetro digital a laser. Caso ela esteja acima do normal, o veículo é encaminhado para avaliação mecânica na hora, evitando riscos.
Embora o foco das ações seja a prevenção, a empresa possui uma estrutura com profissionais treinados em todas as suas unidades, que juntas contam com um total de 1,3 mil colaboradores capacitados para evitar e auxiliar no combate. A Atvos também possui uma frota com cerca de 150 veículos, entre caminhonetes, carretas, cavalos mecânicos e tratores, incluindo caminhões com alta tecnologia no canhão d’água – um dispositivo automatizado para maior precisão no combate a incêndio e que proporciona ao brigadista maior segurança, uma vez que ele não precisa subir no veículo para operar o canhão de forma manual.
A campanha #ZeroIncêndios da UDOP (União Nacional da Bioenergia) tem como objetivo mostrar o papel sustentável e muito ligado às questões ESG do setor sucroenergético, e reforçar que a prática de incêndio é crime, prejudica a biodiversidade e traz prejuízos financeiros e riscos à saúde e à vida de todos. Peças como panfletos, cartazes, faixas, outdoor, busdoor e posts para redes sociais fazem parte da comunicação e serão utilizadas pela Atvos e demais parceiros até o fim do ano.
Recursos para o replantio
Diante das queimadas que atingem algumas lavouras, o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) está formatando uma linha de crédito específica para o replantio da cana-de-açúcar. Segundo o ministro Carlos Fávaro, a Secretaria de Política Agrícola está atuando no levantamento dos prejuízos na agricultura brasileira. Após um primeiro diagnóstico, um dos pontos já identificados foi a necessidade do replantio da cana-de-açúcar com foco na próxima safra.
“Nós já vamos fazer um remanejamento do Plano Safra vigente, que é o maior Plano Safra da história, que tem bastante recursos disponíveis para a agropecuária brasileira, mas, no caso específico, então, vai ter um remanejamento, como por exemplo, para ter linhas de crédito específica para replantio de cana-de-açúcar”, anunciou o ministro.
Isso porque, especialmente no estado de São Paulo, foram impactadas lavouras que já tinham sido colhidas e estavam em fase vegetativa. “Elas queimaram e essa cana-de-açúcar morreu, por isso há a necessidade de replantio”, complementou.
Conforme estimativa da Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil), cerca de 80 mil hectares em áreas de cana-de-açúcar e de rebrota de cana já foram queimados. O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e lidera as exportações globais no segmento sucroalcooleiro. Somente neste ano, as exportações de açúcar de cana em bruto registraram mais de U$ 8,69 bilhões.
Incêndio
Conforme noticiado pelo jornal O Estado Online, na tarde dessa terça-feira (3), chamas tomaram conta de uma plantação que fica ao lado da usina de açúcar e álcool laco Agrícola, loca-lizada na MS-425, em Chapadão do Sul, distante 331 quilômetros de Campo Grande.
O fogo que se alastrou rapidamente por toda a plantação mobilizou equipes do Corpo de Bom-beiros. O incêndio foi identificado por satélites de monitoramento da coorporação.
Caminhões-pipa particulares foram até o local para tentar conter as chamas na região. A fumaça escura pode ser vista de outros pontos da cidade. As causas do incêndio ainda não foram esclarecidas.
Por Suzi Jarde
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