De kombi para van, projeto quer exibir filmes para comunidades vulneráveis da Capital

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O cinema é um dos entretenimentos mais consumidos no mundo, e desde 1923 é considerado como a Sétima Arte. Entretanto, o cinema nem sempre consegue atingir a todos os públicos, principalmente as populações mais vulneráveis socioeconomicamente, situação que o ator e produtor cultural Anderson Lima pretende mudar com o seu projeto de cinema itinerante, que passará por pelo menos sete bairros de Campo Grande.

Anderson faz parte do coletivo Flor e Espinho Teatro, que trabalha com teatro, circo e cinema. Em 2013, o grupo fazia exibições abertas de filmes em sua sede, no centro da Capital, promovendo debates a cerca de vários temas no fim. Além disso, o local também oferecia treinamento livre e gratuito com tecidos acrobáticos, monociclo e colchão para acrobacias, para os interessados em aprender técnicas circenses e teatrais. Entretanto, o coletivo sentiu a necessidade de se aproximar mais de outras comunidades, criando assim o projeto ‘Kombinado’, que promovia a acessibilidade em ruas e praças de Campo Grande.

“Compramos uma kombi e preparamos ela para funcionar como uma unidade cultural móvel. Conseguimos o apoio de algumas livrarias e sebos, montamos uma estrutura de livros, colocamos música, circo e cinema, e saiamos por alguns bairros fazendo isso. Em seguida doamos alguns livros para a comunidade. Nós estreamos esse projeto na Cidade de Deus, um bairro que tinha em Campo Grande que na época vivia um conflito, pois não podia ficar no local por ser situação de lixão, e o prefeito precisava dar um lugar para eles, então virou uma crise social ali”, relembra Anderson, em entrevista ao jornal O Estado.

Devido a mudanças na vida pessoal, o ator precisou sair de Campo Grande, entretanto o Kombinado foi com ele. Passando do Rio Grande do Sul até estados no Norte e Nordeste, Anderson conseguiu levar o projeto para diversas populações vulneráveis do país, ampliando o acesso ao cinema. Durante a pandemia, ele voltou para Mato Grosso do Sul, mas o projeto precisou ser parada devido às condições de isolamento social impostas no período. Nasceu então a ideia de um repertório de estudos: mais de 30 artistas foram convidados para gravarem vídeos sobre diversos temas artísticos, que agora compõe um
acervo no YouTube.

Projeto de cara nova

Atualmente, a reestruturação do projeto Kombinado será feita por meio de incentivo da Lei Paulo Gustavo (n.º 195, de 8 de julho de 2022), que prevê repasses ao setor cultural do país. “A gente mudou a nossa estrutura para uma van, e vamos montar tela de cinema, para poder percorrer sete bairros da cidade. Estamos na fase de pré-produção”, explica Anderson. O objetivo é levar cinema para os bairros mais vulneráveis de Campo Grande, promovendo debates sociais. Diferente das viagens pelo Brasil com a Kombi, o novo projeto terá uma equipe de produção para auxiliar, com técnicos especialistas em acessibilidade, som, e imagem, para que assim abarque o máximo possível de público e possa se enquadrar nos parâmetros exigidos pela Lei Paulo Gustavo.

Temáticas

Outro ponto reiterado por Anderson, são as temáticas abordadas nos filmes, que são sempre pensadas para promover discussão, debate e pensamento no público, não importa a idade. Pensando nisso, o coletivo já realizou parcerias com a UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) e com a ativista, Coordenadora do Fórum Municipal de Cultura e Coordenadora do Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro de Mato Grosso do Sul, Romilda Pizani.

A gente gosta de abordar uma temática social, para abordar temas de interesse. Durante um tempo o projeto teve parceria com a UFMS, com o Projeto Ágora, de filosofia. Outra parceria que fizemos, foi com o movimento negro, a partir da Romilda Pizani. Nós fomos para Furnas de Dionísio com o filme ‘Preciosa’, que fala sobre gênero, imagem, situação de abuso dentro de casa, e que teve depoimentos muito emocionantes da plateia, com a juventude se abrindo. A gente coloca a nossa arte a serviço de trazer um desenvolvimento social, além do entretenimento, de assistir algo que não passa nada para a pessoa. Queremos produzir sempre uma reflexão, porque a arte tem esse lugar, a gente acredita na arte que transforma, que alimenta a alma, e alimenta também a nossa cultura, inteligencia”.

Na nova roupagem do projeto, a intenção é trazer o filme de um autor e diretor regional, o Ulísver Silva. “Para esse projeto vamos trabalhar com um autor regional, que aborda questões raciais, que no filme ‘As Invenções de Akins’ trata de uma criança com poucos recursos e que faz seus próprios brinquedos. É um filme que aborda tanto a relação da falta de dinheiro, com a criatividade, como é importante a brincadeira. Pretendemos ir sempre além do entretenimento, a arte pelo serviço social”, diz Anderson.

O ator ainda reitera a importância do edital público de incentivo as artes e cultura, porém considera que é preciso mais atenção no momento da seleção de artistas para receberem o auxílio.

“Somos um grupo profissional, não trabalhamos com outra coisa, a gente entende que os editais públicos são muito importantes, para fazer isso que a gente faz, para defender para a sociedade outra forma de consumo de cultura. Porém, os editais precisam amadurecer em sua análise para reconhecer projetos que já tem uma relevância, que tem um impacto social dentro da comunidade. Esse projeto nasceu sem dinheiro, em lugares de bastante conflito social, com o propósito de atender realmente aquela comunidade”.

O projeto, contemplado pela Lei Paulo Gustavo, está em fase de desenvolvimento e produção.

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