Rio Miranda sofre com seca alarmante e alcança marca de 80 cm de profundidade

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[Texto: Ana Cavalcante, Jornal O Estado de MS]

Especialistas revelam os impactos do comprometimento das nascentes e o desmatamento da vegetação

Um dos dois mais importantes rios que causam influência direta no Pantanal, o Rio Miranda, localizado na região entre Jardim e Guia Lopes da Laguna, encontra-se em estado alarmante. Notável por sua profundidade, em trechos localizados próximos à cidade de Jardim, o Rio Miranda já alcançou quase nove metros de profundidade há oito anos. Em dias atuais, o mesmo trecho do rio não chega a 80 centímetros. Especialistas do IHP (Instituto Homem Pantaneiro) e Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) comentam sobre as possíveis causas.

Segundo profissionais da área, a seca e o desmatamento podem ser as principais causas para a perda de profundidade do rio. Até o momento, o rio Miranda é o único gravemente comprometido, com um nível muito baixo de água. Contudo, diversas nascentes estão em estados de alerta. “Na Praia Marli (trecho do rio Miranda), houve uma significativa redução na profundidade do local. Há cerca de 8 a 10 anos, a profundidade era de 9 metros, enquanto hoje mal chega a 80 centímetros. Esse processo de perda de profundidade ocorreu em um período relativamente curto, de aproximadamente 5 a 10 anos”, destaca o biólogo Sérgio Barreto, do Instituto Homem Pantaneiro.

A seca é resultado do comprometimento das nascentes e dos principais afluentes do rio, explicou o biólogo, que cita os impactos do desmatamento das áreas circundantes, principalmente das matas ciliares. “Esse desmatamento acaba por permitir o assoreamento do rio e o surgimento de processos erosivos, levando à perda gradual de sua profundidade. Essa perda de profundidade tem impactos diretos na biodiversidade que depende do rio, especialmente na migração dos peixes, afetando a ictiofauna e, consequentemente, a população de peixes”, diz Sérgio.

Além disso, o biólogo acrescenta que a população local, que depende do Rio Miranda para o abastecimento de água, também é afetada por essa situação. Portanto, a perda de profundidade do rio não afeta apenas a fauna, mas também as pessoas que fazem uso dele. Diante desse cenário, o Instituto Homem Pantaneiro, por meio do Programa Cabeceiras do Pantanal, realiza um diagnóstico das áreas afetadas e busca parcerias para a recomposição desses ambientes degradados, principalmente nas áreas de nascente e matas ciliares.

“Alguns exemplos aqui do nosso programa Cabeceira do Pantanal: além do próprio Rio Miranda, que tem a sua nascente muito comprometida, temos o Rio Santo Antônio, importante afluente do Rio Miranda, que tem não só sua nascente, como praticamente seu trecho todo comprometido; Rio Aquidauana, Rio Negro, Rio Salobra também estão sendo afetados. Precisamos entender que a área de nascente é a área mais vital de um rio, que é onde a gente tem a origem de nossas águas. E lembrando que todas essas águas e esses rios que citei abastecem o Pantanal, a nossa planície inundável”, pontua o profissional.

Esses rios desempenham um papel fundamental no abastecimento do Pantanal, tornando essencial a preservação de suas nascentes para a saúde desse ecossistema único. O IHP também promove ações de conscientização junto aos produtores rurais e agricultores, buscando alternativas para minimizar os impactos do desmatamento e da conversão de áreas para a monocultura. “Há algum tempo,
essa região era predominantemente voltada para a pecuária. Nos últimos anos, a agricultura tem se expandido significativamente, com quase todas as áreas sendo convertidas para a monocultura. Por isso, atualmente, buscamos parcerias para conscientizar sobre esses danos, muitas vezes involuntários. Nosso objetivo é trabalhar em conjunto com os produtores rurais, promovendo uma coexistência harmoniosa entre a agricultura e a preservação ambiental”, conclui o biólogo Sérgio Barreto.

Além da crise ambiental, a crise econômica

Embora rios como o Paraguai, o Taquari e o Cuiabá enfrentem problemas semelhantes, o agravante de profundidade, por hora, é exclusivo ao rio Miranda.

“A perda de profundidade dos rios reduz a conectividade aquática, afeta negativamente a qualidade da água e diminui a diversidade de habitats, comprometendo a resiliência do Pantanal frente a mudanças ambientais e climáticas”, acrescenta o gerente de recursos hídricos Leonardo Sampaio, do Imasul.

Outro impacto da seca é a dificuldade de navegação, afetando a economia local e limitando o acesso a áreas remotas e a movimentação de bens e pessoas.

“O impacto é sobre a pesca, uma atividade econômica crucial para muitas comunidades locais, que sofrem com a redução dos estoques pesqueiros devido à alteração dos habitats aquáticos. Além da dificuldade de navegação, afeta também a economia local, limitando o acesso a áreas remotas e a movimentação de bens e pessoas”, conclui o especialista Leonardo Sampaio do Imasul.

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