Abandono de crianças e adolescentes está ligado com dependência do uso de drogas

Abandono
Foto: Valentin Manieri

Conselheira tutelar pontua os principais fatores ligados com os crimes contra menores

Por Suelen Morales – Jornal O Estado

Mais de 90 crianças e adolescentes foram vítimas do crime de abandono de incapaz em Mato Grosso do Sul. Destes, 38 casos foram registrados somente em Campo Grande, conforme dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública). O Conselho Tutelar da região norte aponta como principal fator, para que pais ou responsáveis comentam essa negligência, a decorrência do uso de drogas ou álcool.

A conselheira tutelar da região norte, Vânia Nogueira, explica que a maioria dos pais que são denunciados sofre dessa dependência química e omite informações na tentativa de reaver os filhos.

“Sempre procuram uma justificativa, tentam ludibriar a situação. A maioria dos casos de abandono de incapaz está relacionada ao uso de drogas ou álcool. A casa de um dependente químico você reconhece assim que chega, abandonada e suja. Mas existem outros casos também de mães que saem para trabalhar, para ir para a balada, beber ou que deixam os menores sob os cuidados de alguém. São várias as situações”, revelou Vânia.

O caso mais recente de abandono de incapaz ocorreu na madrugada dessa terça- -feira (23). Três crianças de 12, 10 e 2 anos de idade foram encontradas abandonadas em uma residência na Rua Santa Gertrudes, Vila Santa Luzia, em Campo Grande. Os menores estavam em situação de abandono, em meio a comida podre, fezes, roupas sujas e lixo.

Ao jornal O Estado, a conselheira revelou que a mãe das crianças já foi localizada, sofre de dependência química, mas aceitou fazer tratamento para a doença.

“Indiquei um local onde ela pode ficar com as crianças, que tem ônibus escolar para levar e trazer as crianças. Agora depende dela ir até lá e posteriormente da decisão do promotor de justiça, para que as crianças fiquem com a mãe”, explicou.

Conforme o Boletim de Ocorrência desse caso, a Polícia Militar recebeu uma denúncia de crime de abandono de incapaz. Ao chegarem ao local, os policiais encontraram a criança de 12 anos cuidando dos dois irmãos, de 10 e 2 anos. Ambos não sabiam informar onde a mãe estava.

Os policiais tentaram contato via celular com a mãe, mas, sem sucesso, acionaram o Conselho Tutelar.

Segundo os relatos, a conselheira chegou a passar mal em razão do forte odor que havia na casa. Na cozinha havia na pia alimentos podres e no banheiro, o vaso sanitário não funcionava pois estava entupido e exalava mau cheiro.

Em levantamento feito pela Sejusp, em 2021 foram registradas no Estado 164 ocorrências de abandono de crianças e 12 de abandono de idosos. Já em 2022 foram 90 ocorrências de abandono infantil e 11 de idosos.

Já na Capital foram registradas 81 ocorrências de abandono de crianças e 2 de abandono de idosos, no ano de 2021. E, de janeiro até julho de 2022, já foram contabilizadas 38 ocorrências de abandono infantil e 6 de abandono de idosos.

Relembre outros casos na Capital

Também na terça-feira (23), uma criança de 2 anos foi encontrada, por volta de 0h40, andando sem calçados e desorientada na Rua Evelina Figueiredo Selingardi, no bairro Lageado, em Campo Grande.

Os policiais da Rotac (Rondas Ostensivas Táticas da Capital) acionaram o Conselho Tutelar e o menino foi levado para a Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário). Já por volta das 2h, a mãe, de 22 anos, ligou para a polícia à procura do filho. O caso está sendo investigado.

No dia 23 de junho, uma menina de apenas 2 anos foi encontrada na madrugada, chorando no portão de uma residência no bairro Jardim Colúmbia, em Campo Grande.

As moradoras acionaram a polícia e relataram o susto ao ver a criança por elas desconhecida. A delegada responsável pelo caso, Anne Karine Sanches Trevizan, informou que a mãe foi localizada e alegou ter deixado a pequena aos cuidados de uma pessoa da família para trabalhar. Apesar de a criança aparentar estar bem cuidada e sem sinais de violência, a menina foi levada para abrigo e a família deve aguardar decisão judicial para reaver a tutela da criança.

Outro caso registrado em janeiro deste ano foi de uma bebê de 1 ano e 4 meses que estava internada há 104 dias no setor pediátrico da Santa Casa de Campo Grande, para tratar de uma cardiopatia congênita. No dia 20 de dezembro de 2021, a mãe da criança, que é de nacionalidade boliviana, viajou para ver os outros filhos e parentes, mas não retornou ou buscou saber sobre o estado de saúde da filha. O caso também segue em investigação.

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