Recentemente, encontrei um velho amigo que me perguntou se eu estaria mesmo disposto a seguir na vida política. A indagação veio repleta de uma carga negativa, o que já virou rotina.
Meus irmãos, por exemplo, me dizem, constantemente, que eu deveria parar de me meter com isso. Sim, isso é como eles se referem à política. Parece-me óbvio, para qualquer vivente que me acompanha, o quanto eu gosto e acredito na política, mas isso não me impede de notar o quanto as pessoas não gostam, não querem se envolver e, inclusive, acham chato a eleição, o processo eleitoral e as discussões políticas. Negar esse fato é negar o cotidiano da vida.
Mas por qual motivo as pessoas não gostam da política? Bem, são muitos motivos, mas especialmente porque elas são formatadas para não gostarem. Nós não tivemos uma disciplina na escola, por exemplo, que mostre a importância da política, dos políticos, dos partidos políticos.
Na via inversa, cresci vendo escândalos de corrupção e uma mídia que pouco mostra os bons feitos da política e dos políticos. O jargão de que todo político é corrupto e que a política não tem saída é a máxima desse formato de sociedade feita para o fracasso. Uma sociedade que não gosta, não se envolve e não respeita a política e ela não se respeita. Inexiste sociedade sem política e política sem sociedade. A vida na cidade e no campo se faz pela e na política.
“Nós não tivemos uma disciplina na escola, por exemplo, que mostre a importância da política, dos políticos, dos partidos políticos. Na via inversa, cresci vendo escândalos de corrupção e uma mídia que pouco mostra os bons feitos da política e dos políticos. O jargão de que todo político é corrupto e que a política não tem saída é a máxima desse formato de sociedade feita para o fracasso”
Portanto, tudo é político. Viver é um ato político, mesmo que muitos neguem a política. E vai além, a matriz religiosa que você professa passa por uma escolha política individual. O respeito a sua profissão de fé é um ato político que passa pela laicidade do Estado. A alimentação, o meio ambiente ecologicamente equilibrado, o SUS, o respeito à diversidade sexual, os subsídios que o agronegócio recebe ou o Minha Casa Minha Vida passam por atos políticos. Mas, mesmo tendo essa importância toda, a sociedade brasileira está entre uma das que menos gosta de política.
Não acho que culpar a sociedade brasileira seja a alternativa, pois fomos formatados, desde a colonização até os dias de hoje, a um modelo de política em que o povo, parte predominante da sociedade, é pensadamente afastado dos espaços de poder. A própria Constituição Federal, chamada de Constituição cidadã, garante poucos instrumentos de participação popular na vida política brasileira. Política não pode se resumir a votar e ser votado. Precisamos democratizar a democracia e, assim, democratizar a política e seus espaços de poder.
O povo precisa se ver parte e não como objetivo de manipulação às vésperas da eleição. O Brasil é um país negro, mas que possui poucos negros no poder. O Brasil é um país de mulheres, mas que não abre espaços proporcionais para as tomadas de decisões. O Brasil é um país diverso, mas que sua diversidade é escondida com violência. O Brasil é um país de múltiplas religiões, mas que nega suas muitas fés. O Brasil é um país agrário, mas que não dá espaços para quilombolas, camponeses, ribeirinhos e indígenas. São essas ausências que transformam a política em um espaço chato e esvaziado.
Há um esvaziamento de gente, de povo, de sociedade, de cultura. A política, na democracia, não pode ser a reunião apenas dos homens, brancos e detentores de muito dinheiro. Esse modelo esgota o sentido da política, esvazia sua função e faz com que cheguemos até aqui, um país em que falar de política é, para muitos, algo chato. Minha pedagogia da esperança, aos moldes de Paulo Freire, seguirá sempre acreditando e defendendo uma política em que caiba aqueles que não estão nos espaços de poder, pois somos nós que podemos e preencheremos a política com nossa carga humana.
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Que texto! Quanta verdade!
Parabéns por pensar a política dessa forma que deveria ser a verdadeira!
Vamos continuar acreditando… e educando!!!