Reajustes nos preços das mensalidades nas universidades preocupam estudantes

Fotos: Nilson Figueiredo
Fotos: Nilson Figueiredo

Custos necessários para principais cursos de graduação superam os R$ 1 mil mensais

 

Os recentes reajustes das mensalidades do ensino superior podem deixar vários estudantes de fora da faculdade, já que muitos podem não ter condições de pagar, segundo uma análise do Quero Educação. Em Campo Grande, a realidade é semelhante, isso porque os valores dos cursos mais procurados são acima da média.

Conforme o levantamento nacional, enquanto os futuros alunos buscam mensalidades de cerca de R$ 500, a média cobrada pelas instituições é R$ 722 pelo país. Na Capital, os valores ultrapassam a média de mil reais por mês, além dos materiais necessários. Isso faz com que 68% daqueles que estão em busca de uma formação superior não encontrem opções viáveis.

Segundo o Inep, os cursos com maior procura nas instituições particulares são: Direito, Psicologia, enfermagem, Administração, Medicina, Fisioterapia, Odontologia, Engenharia Civil, Farmácia e pedagogia. Consulta realizada pelo Jornal O Estado, identificou que na Uniderp cursos como Odontologia custam a partir de R$ 1.649; Medicina veterinária R$ 1.299; Engenharia da Computação R$ 949,00; Direito e enfermagem a partir de R$ 849,00.

À reportagem, a nova acadêmica do curso de Medicina Veterinária da Uniderp, Alessandra Ramos, 20, revelou que o curso sempre foi um sonho, mas o alto valor sempre foi um impedimento. “Terminei o ensino médio aos 17, e só agora consegui ingressar na universidade. Não sou de Campo Grande, moro com minha família em Rochedinho, no interior do Estado, então temos esse gasto a mais, de locomoção”, iniciou ela.

De acordo com a estudante, a qual conquistou bolsa de 40% na mensalidade do curso, os reajustes inibem os que ainda não adentraram na faculdade. “Com o desconto da bolsa, ainda pago o valor de R$ 1.066 por mês. Mas esse não é um valor fixo, pois ainda vai sofrer mais reajustes, e é isso que fica pesado para nós estudantes. Eu mesma antes de entrar na faculdade, me preocupava com esse alto valor a ser pago mensalmente”, desabafou.

Sem bolsa para ajudar na mensalidade, Ana Carolina Magalhães, 18, ingressou na faculdade no início deste ano, e já se preocupa com as mensalidades dos próximos anos. “É um valor alto, e com o custo de vida que temos aqui em Campo Grande, se torna mais preocupante ainda. Mas tem que estudar. Escolhi uma graduação que combina comigo e estou confiante de que no final vai dar tudo certo”, contou a acadêmica de Medicina Veterinária.

Levantamento feito na plataforma Quero Bolsa, aponta que, atualmente, as bolsas ofertadas cobrem, 10% das matrículas. Segundo a Quero Educação, no início deste ano as maiores instituições praticavam, na plataforma, um preço médio nas mensalidades de R$ 530, enquanto os alunos buscavam cursos com preço médio de R$ 526. Ao longo do ano, em meio à queda no poder de compra, os estudantes passaram a buscar graduações presenciais com um preço médio de R$ 495, enquanto o valor médio das mensalidades ofertadas na plataforma foi elevado para R$ 722, aumento de 45%.

Setor privado concentra 77% das matrículas do ensino superior brasileiro

Segundo dados do Censo da Educação Superior 2021, divulgados em novembro do ano passado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), a participação da rede privada na matrícula de educação superior de graduação em 2021 foi de 76,9%. A rede privada contava naquele ano, com mais de 6,9 milhões de alunos, o que garante uma participação de quase 77% do sistema de educação superior. Quando se observam o número de vagas de graduação por categoria administrativa é possível perceber que das 22.677.486 existentes no país, 21.850.441 eram da rede privada.  A rede privada ofertou 96,4% do total de vagas em cursos de graduação em 2021. A rede pública correspondeu a 3,6% das vagas ofertadas pelas IES (Instituição de Nível Superior). 

 

REAJUSTES

Entidades representativas do ensino superior reconhecem a dificuldade dos estudantes em pagar as mensalidades, mas ressaltam que os reajustes são necessários, uma vez que muitas das instituições, durante a pandemia, não aumentaram as mensalidades. “O preço é formado com base no custo. Houve, pela inflação, aumento real de custos nas universidades, aumento de luz, aluguel, correção de salários”, argumenta o diretor presidente da ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior), Celso Niskier.

Ao jornal O Estado, a Uniderp de Campo Grande explicou que os reajustes são feitos conforme a legislação, se fazendo necessário anualmente, para fins acadêmicos. “A Uniderp informa que cumpre a legislação federal Lei n° 9.870/99, que regulamenta o reajuste anual das mensalidades escolares considerando as variações de custo de suas operações”, afirmou.

A UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) e Estácio de Sá não responderam os questionamentos.

 

Acadêmicos das classes C,D e E são os mais afetados

Para o Jornal O Estado, o mestre em economista Eugênio Pavão, confirmou que nos últimos anos têm acompanhado a situação de muitas (os) acadêmicos que trabalham para estudar, ou seja, fazem um grande esforço econômico e financeiro. “Os que apresentam maiores dificuldades são aqueles que são das classes de renda C, D e E. Com idade avançada, tendo família para sustentar, negócios do tipo micro, pequena e média empresa e dos setores que tiveram muitas dificuldades na pandemia e pós-covid”.

Ele ainda destaca, que em alguns casos, como nos cursos da área da saúde, muitas universidades apostam em aulas em período integral, o que dificulta ainda mais o acesso dos alunos. “Com certeza, cursos integrais levam ao sacrifício de bem-estar, sendo considerado esses cursos de elite (medicina, engenharia, etc), tendo poucos acadêmicos da classe B, C e D (exceto pessoas que foram trabalhar no exterior e que fizeram poupança)”, destacou.

Diante destes altos cursos, o mestre em economia pontua que as bolsas podem ser uma alternativa, mas não contemplam um número significativo de estudantes. “As bolsas são essenciais para manter as pessoas estudando, mas são uma parcela não tão grande do conjunto de acadêmicos”, citou.

 

[Brenda Leitte e Tamires Santana – O ESTADO DE MS]
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