Moradores abandonam a região central pela falta de segurança

Marcos Maluf
Marcos Maluf

Alta incidência de roubos e dependentes químicos são alguns dos problemas apontados em audiência

Conforme a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), o Centro de Campo Grande perdeu, nos últimos 30 anos, 20 mil moradores. Além disso, serviços básicos já não estão mais concentrados na região central, o que afasta ainda mais a população para os bairros. Na manhã de ontem (16), moradores e empresários da região participaram da audiência pública na Câmara de Vereadores, para discutir soluções para dar “vida” à área central da cidade.

Entretanto a falta de segurança e os usuários de droga ganharam destaque no debate que foi convocado pela Comissão Permanente de Controle e Eficácia Legislativa, composta pelos vereadores William Maksoud (presidente), Luiza Ribeiro (vice), Prof. Juari, Júnior Coringa e Claudinho Serra.

Segundo informações repassadas pelo corretor de imóveis, Pedro Henrique, da Vetor imóveis, a baixa procura e os altos valores cobrados pelos aluguéis, aliados com a situação atual relatada pelos moradores e comerciantes da região tem provocado uma queda na procura pela locação. Situação que fez com que a imobiliária esteja optando por atuar com imóveis em outras regiões da Capital. “Nós quase não trabalhamos com aluguel. No momento, temos um imóvel próprio para locação comercial, no Centro. O valor é R$ 14.000,00. Notamos que o preço nos últimos meses subiu muito (uma sala, que custava, em média, 850,00 – 40 m², hoje é alugada por 1.400,00). Acredito que hoje as pessoas também preferem ir aos shoppings e nos comércios dos bairros, principalmente dos mais populosos”, destacou

Outra corretora, que preferiu não ser identificada, também confirma os prejuízos para a locação de imóveis residenciais, mas destaca que não é uma situação limitada ao Centro. “Os apartamentos são anunciados numa média de R$ 1.000,00 a R$ 2.000,00, dependendo do tamanho e da condição de manutenção e do condomínio. A falta de segurança em Campo Grande não é reservada ao Centro, pois vários bairros amargam aumento de criminalidade”.

 O presidente do Secovi (Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul), Geraldo Barbosa de Paiva, assegurou que o problema só vem aumentando. “A região vem se degradando. Da Calógeras foi para a Mato Grosso e agora, na 14 de Julho e 13 de Maio. As medidas tomadas pelo poder público, como a revitalização, não surtiram efeito, vêm apenas maquiando um problema. Só vamos conseguir resolver se colocarmos pessoas para morar ali.”

Desocupação por medo

Segundo a presidente da Associação de Moradores do bairro Amambai, Rosane Nely, o Centro não está vazio, mas sim povoado de usuários de drogas e criminosos. Ela afirmou ainda que a falta de segurança tem afastado os moradores da área central. “Temos que priorizar o problema dos dependentes químicos, que é um problema de saúde, de direitos humanos, de todas as secretarias. Precisamos desenvolver um projeto de políticas públicas para atender os dependentes químicos. O que adianta revitalizar a 14 de Julho com os vândalos depredando? O Centro está sendo desocupado por medo”, assegurou.

A mesma bandeira de politicas públicas para os usuários foi levantada pelo presidente do Conselho de Segurança da Região Central, José Luiz Kreutz. “Os comércios estão sendo arrombados à noite. Há roubos de fios de luz indiscriminadamente. Precisamos ter uma política pública mais austera. Para onde vai esse material roubado? O que a prefeitura faz para que os moradores de rua tenham uma vida digna?”, questionou

Morador da região central, o geógrafo Paulo Sérgio Calves ressaltou que já foi assaltado e que pensa seriamente em mudar de residência, devido à criminalidade. “Falo com a experiência de dois assaltos, três roubos de fio e um de relógio. São coisas que incomodam e a gente sofre. Não posso dizer que estou feliz morando no Centro. O primeiro problema é a segurança pública”, afirmou.

Segurança também foi a reivindicação do presidente da associação dos comerciantes do Camelódromo, Narciso Soares dos Santos. “É preciso segurança preventiva, ronda ostensiva, para que o pai de família se sinta seguro ao fazer suas compras. Hoje, temos 12 seguranças. Quando prendemos alguém, a polícia vem. Mas, cadê a polícia preventiva? Os marginais estão tomando conta. É preciso fazer algo urgente”, reclamou. 

go urgente”, reclamou. Mesma opinião defendida pelo empresário e produtor rural Chico Maia. “Para existir vida nova, tem que ter gente. É preciso povoar o Centro. Fazer com que a prefeitura, por meio de seus mecanismos de incentivo, faça com que as pessoas voltem a morar no Centro. É muito difícil ter uma parte da cidade que, de dia, tem gente e à noite, não. Não adianta ter uma bela rua, cheia de bancos, se não tem gente para sentar.”

Com a audiência, o vereador Papy argumentou que provocará o Executivo para que providências sejam tomadas. “Audiência pública é a sede do debate. Aqui, colocamos a fala da indignação, dos problemas e do diagnóstico. O Poder Legislativo é o provocador. Ele é quem vai cutucar o Executivo, que vai pôr a mão na massa. Nós, corajosamente, todos os anos, temos ouvido a população e aberto a Casa para dar voz à comunidade. A audiência pública é a oportunidade para esse debate ser evidenciado”, explicou.

Marcos Maluf

Policiamento ostensivo e preventivo

Em Campo Grande, na análise da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), de janeiro a julho deste ano, indica a ocorrência de reduções expressivas, exemplo destes números foi observado nos roubos seguidos de morte, que caíram -80%; os furtos de veículos, -30,5%; os furtos em residência, -26,6%; roubos em residências, -16,9%; feminicídios, -16,7% e os homicídios, -13%.

Questionado sobre os crimes com maior incidência na região central, o major Andrew Matheus Xavier do Nascimento destacou que existem algumas variações, em decorrência de fatores como eventos, feriados, datas comemorativas, que ampliam o fluxo de pessoas e na área comercial as ocorrências tendem a ser mais de furtos, diferentes nas áreas residenciais, em que existem mais problemas com perturbação do sossego.

“A PMMS realiza, frequentemente, o policiamento preventivo/ostensivo na região informada por meio do 1º Batalhão de Polícia Militar, com apoio das unidades especializadas como BPChoque, Bope e Batalhão de Polícia Militar Ambiental. Rondas preventivas e abordagens policiais ocorrem diariamente em todos os bairros da Capital. Todo policiamento é realizado com base na análise de dados estatísticos, extraídos dos boletins de ocorrências e também dos atendimentos à comunidade local. Assim, é imprescindível que os moradores repassem essas informações às equipes policiais ou registrem tais crimes na delegacia da região, de modo que todo o poder público possa atuar, de forma mais precisa. Cumpre esclarecer que a Polícia Militar é responsável pelo policiamento ostensivo e preventivo, visando prevenir a ocorrência de crimes ou de infrações administrativas sujeitas ao controle da instituição policial. Após a ocorrência do delito, cabe à Polícia Civil a apuração das infrações penais, bem como cabe à referida instituição a investigação das ações realizadas pelos possíveis autores dos delitos”, explicou.

 

Por Rafaela Alves e Michelly Perez– Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

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