Com 33 procedimentos realizados, unidade capta fígado em Cuiabá para paciente da Capital
Com 33 transplantes realizados desde julho de 2024, o Hospital Adventista do Pênfigo, em Campo Grande, avança para se tornar referência em transplantes de órgãos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) no Centro-Oeste. Após protagonizar o primeiro transplante de fígado do Mato Grosso do Sul, o hospital já realiza também transplantes de córnea e está em processo de habilitação para transplante renal.
A conquista da habilitação para transplante hepático foi resultado de dois anos de preparação técnica e estrutural. Antes disso, pacientes com indicação de transplante de fígado eram transferidos para Sorocaba (SP), o que colocava suas vidas em risco devido à distância e à gravidade dos casos.
“Muitos pacientes acabavam morrendo no caminho, por não resistirem à viagem. Por isso, é tão importante termos essa estrutura aqui em Campo Grande”, explica o médico Gustavo Rapassi, coordenador do Centro de Transplantes do HAP.
Atualmente, o hospital realiza transplantes de fígado e córnea exclusivamente para pacientes do SUS. O próximo objetivo é obter a habilitação para realizar transplantes de rim — demanda urgente, já que o Estado possui um número elevado de pacientes em hemodiálise.
“Queremos transformar o Hospital Adventista do Pênfigo em uma referência em transplantes no Centro-Oeste. Com o transplante de fígado em consolidação, o foco agora é ampliar os números de córnea e iniciar os procedimentos renais”, afirma Rapassi.
Órgão captado em Cuiabá é enviado a Campo Grande
No dia 1º de maio, uma operação interestadual reforçou a articulação entre estados na área de transplantes e evidenciou o avanço da estrutura pública de saúde em Cuiabá (MT). Uma equipe de Mato Grosso do Sul, composta por dois cirurgiões e uma enfermeira especializada em transplantes, foi responsável pela captação do fígado de uma paciente de 56 anos no HMC (Hospital Municipal de Cuiabá) Dr. Leony Palma de Carvalho. O órgão foi transportado até Campo Grande e será transplantado no HAP (Hospital Adventista do Pênfigo).

Foto: Reprodução/ Prefeitura de Cuiabá
A paciente teve múltiplos órgãos e tecidos doados: fígado, rins e córneas. O rim esquerdo foi destinado ao Rio Grande do Sul, enquanto o rim direito e as córneas permaneceram em Cuiabá e beneficiarão pacientes da própria capital — um marco inédito na história da cidade, que pela primeira vez realizou um transplante com órgão captado localmente.
O procedimento de captação teve início às 8h e se estendeu até as 11h, mobilizando equipes locais e de outros estados. Toda a operação transcorreu de forma tranquila, sem intercorrências médicas ou logísticas. Para homenagear o gesto de solidariedade da família da doadora, foi formado um corredor humano entre as Unidades de Terapia Intensiva e o Centro Cirúrgico do HMC, com a presença de profissionais de saúde e colaboradores do hospital.
“Hoje vivemos um marco na história da saúde pública de Cuiabá”, declarou o diretor-geral do HMC, Israel Paniago. “A generosidade da família da paciente permitiu que vidas fossem salvas. É um sinal claro de que nossa cidade está pronta para dar novos passos em procedimentos de alta complexidade.”
Avanço estratégico no MS
Para o diretor-geral do HAP, Everton Martin, a atuação do hospital na área de transplantes representa um novo capítulo de protagonismo médico no Mato Grosso do Sul. Conhecida nacionalmente pelo histórico no tratamento de pênfigo foliáceo — o Fogo Selvagem — a instituição hoje amplia sua missão salvando vidas em situações críticas.
“A partir de 2024, com os transplantes de fígado e córnea já em andamento e o processo de habilitação para o transplante renal, elevamos ainda mais o nível da nossa medicina. É uma conquista que fortalece nossa missão de servir com excelência à população do Mato Grosso do Sul”, destaca Martin.
Panorama dos transplantes no Estado
Segundo a SES/MS (Secretaria de Estado de Saúde), os transplantes em Mato Grosso do Sul são realizados por diferentes instituições, conforme o tipo de procedimento:
Fígado: Hospital Adventista do Pênfigo (SUS)
Córnea: Santa Casa, Hospital São Julião, HAP (SUS) e clínicas particulares
Rim: Santa Casa (SUS) e Hospital da Unimed (particular/convênio)
Medula óssea autólogo: Hospital Cassems (particular/convênio)
Tecido músculo-esquelético (ossos): Hospital da Unimed (particular/convênio)
Todo o processo de captação e transplante é coordenado pela CET/MS (Central Estadual de Transplantes), em articulação com o Sistema Nacional de Transplantes. As doações são gratuitas, voluntárias e seguem critérios rigorosos de compatibilidade e urgência médica.
Doe órgãos
Apesar de fundamental para salvar vidas, a doação de órgãos enfrenta desafios como falta de informação, recusa familiar e questões culturais. O Brasil é líder em transplantes, mas necessita de um esforço contínuo para aumentar o número de doadores para que mais pessoas sejam beneficiadas.
A doação de órgãos e tecidos é um processo legalmente regulamentado e realizado após a autorização familiar e pode ocorrer de doadores vivos ou falecidos. O SNT (Sistema Nacional de Transplantes) é responsável por regulamentar e monitorar o processo, garantindo transparência e equidade na distribuição dos órgãos.
Por Suelen Morales
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