Escola de Campo Grande vira modelo ao restringir completamente o uso do celular em sala de aula

Na escola Harmonia, alunos guardam os celulares antes do início das aulas  - Foto: Nilson Figueiredo
Na escola Harmonia, alunos guardam os celulares antes do início das aulas - Foto: Nilson Figueiredo

No Brasil, apenas 28% das escolas adotaram a regra e educadores citam avanços em concentração e em socialização

 

O uso do aparelho celular nas escolas ainda divide opiniões. Em Mato Grosso do Sul, a utilização dos aparelhos é completamente proibida desde 2019 nas unidades de ensino. Em todo o Brasil, apenas 28% das escolas brasileiras adotam essa regra e 60% permitem o uso do celular em horários e locais específicos. O debate sobre o uso voltou à tona, após a França ter iniciado na semana passada os testes para a restrição do uso em todas as escolas a partir de 2025.

Pesquisa divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, com a opinião de cerca de 3 mil diretores de escolas públicas e privadas, urbanas e rurais constatou que entre os alunos dos anos iniciais do ensino fundamental, a proibição subiu de 32% em 2020, para 43% em 2023. Para os anos finais do fundamental, passou de 10% para 21%. No ensino médio, apenas 8% das escolas proíbem o uso do celular.

Em uma breve pesquisa do jornal O Estado sobre o assunto no estado sul mato-grossense, a Resolução da Secretaria de Educação do Estado determina a proibição de utilização dos aparelhos no espaço escolar. Apesar de os alunos serem proibidos de usar, cada escola adota sua conduta. Em algumas, o uso é permitido em dias específicos e em atividades específicas.

“Quanto ao uso de celular, o uso é vedado, fica com os estudantes e só pode ser utilizado em caso de atividades específicas, apontadas pelo professor durante a aula. O protocolo da Rede prevê algo neste sentido se necessário, somente se o uso for adequado, conforme solicitado, não há problema em ficar de posse do estudante”, explica a SED (Secretaria Estadual de Educação) em nota.

É uma geração com ansiedade muito alta, esse é um dos motivos da proibição
Tiago Martins, diretor escola Harmonia – Foto: Nilson Figueiredo

Em outra unidade escolar consultada pela reportagem, a escola Harmonia, de ensino privado da Capital, o diretor, Tiago Martins, revela que a escola é bem radical com alunos até a sétima série, esses não podem levar o aparelho para a escola. Já a partir do oitavo ano é permitida a entrada, porém, os alunos só podem usar durante a entrada, no intervalo e no final da aula.

“Nós observamos estudos que são feitos que essa geração que está vindo aí, dessas crianças e adolescentes, o nível de ansiedade está muito maior, depressão, falta de atenção e foco nos trabalhos de estudo, por conta da tecnologia, da tela de uma maneira geral. Então, esse é um dos motivos pelos quais proibimos o uso do celular na escola. De manhã e à tarde estão concentrados na aula, socializando entre eles, conversando, eles vão para quadra jogar futebol, jogar vôlei, vão brincar. Isso é muito importante”, pontua.

O diretor complementa que os celulares estão dominando as diversas áreas da sociedade. Ele reforça que essa inserção do aparelho é perigoso, além de afetar o desenvolvimento social e intelectual, acaba se transformando em um vício.

“O celular vem sendo usado, nem só pelos jovens, no geral, de maneira equivocada, as pessoas estão dependentes, estão viciadas nos aparelhos telefônicos. Não vejo pontos negativos nessa proibição, porque a partir do momento que bate o sino aqui, eles vão mexer no celular, até eles dormirem. No final de semana também, eles vão mexer no celular. Então aqui eles ficam empenhados em estudar e socializar”

Ganhos em socialização

Para educadores, o uso do aparelho pode ser foco de distrações e os conteúdos acessados, impróprios. Uma preocupação compartilhada com os pais, que travam uma batalha contemporânea contra a grande influência das telas na rotina das crianças. O professor da rede Harmonia, Wilker Ferreira, conta que a aplicação da regra de proibição na escola é vista como ótima para os alunos e para os educadores.

Foto: Nilson Figueiredo

“A gente está vivendo uma era digital, a gente perdeu a questão de olho no olho, a socialização, então a gente não encontra mais aquelas pessoas que param numa roda para conversar, para trocar uma ideia, e o objetivo da escola é esse, as pessoas se conectarem com pessoas realmente e não com aparelho. A gente sabe que é muito importante o uso de tecnologia, o uso de redes sociais, mas o âmbito escolar a gente tenta equilibrar, principalmente na hora de aula, porque se coloca o celular ali em cima da mesa, a gente sabe que o aluno acaba perdendo o foco, ele quer ver a mensagem que chega, então é aquela coisa, ele não consegue focar realmente no conteúdo que está sendo dado, então a gente, para equilibrar, a gente faz isso”.

Melhores desenvolvimentos

O professor enfatiza o rendimento do aluno na aula quando há a regra. “No intervalo eles podem usar tranquilamente, mas durante a aula é melhor que não seja assim para eles terem um foco melhor no conteúdo que está sendo dado mesmo. Durante a aula, a proibição do uso de celular é importantíssima para o bom rendimento da aula, principalmente nos dias de hoje, que a gente está vivendo uma era digital. Se deixar, eles não focam realmente na aula”.

 

Por Inez Nazira

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