“Porque não há nada mais prático do que a teoria”: nasce o primeiro mestrado acadêmico em Filosofia de Mato Grosso do Sul

Foto: Divulgação
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A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul consegue uma grande conquista para o Estado ao abrir o seu primeiro Mestrado Acadêmico em Filosofia – cujas inscrições, aliás, estão neste momento abertas –, e que deve passar a funcionar, a partir do segundo semestre desse ano, como centro de pesquisa e estudos avançados em duas linhas: (1) Epistemologia e Filosofia da Ciência e (2) Ética e Filosofia Política. Um Mestrado Acadêmico é de suma importância para o desenvolvimento da pesquisa fundamental e a expansão das fronteiras do conhecimento em uma determinada área do conhecimento científico. Por estar desonerado da necessidade de gerar produtos práticos, utilitários, que se revertam em inovações tecnológicas e ganhos profissionais imediatos, os Programas de pós-graduação acadêmicos tendem a aprofundar a pesquisa básica, a teoria, o estudo “desinteressado” (ao menos dos compromissos e das pressões instrumentais mais imediatas).

Em um primeiro momento isso pode parecer um contrassenso para a sociedade, que, desde os bancos escolares, diante de qualquer matéria, foi repetidamente estimulada a perguntar “para que isso serve?”, cobrando do conhecimento resultados práticos de curto prazo, tangíveis, monetizáveis, capazes de simbolizar uma espécie de “crescimento “econômico” a olhos vistos. O fato histórico, entretanto, é que nenhuma nação que se tornou verdadeiramente rica, e que sustentou essa riqueza a longo prazo, o fez sem investir ousadamente em pesquisa básica, fundamental, em teoria, e isto, por uma razão muito simples. É a expansão das fronteiras do conhecimento, em última instância sem finalidades utilitárias, que pode gerar a médio e a longo prazo a massa crítica e a matéria prima necessárias para o incremento da técnica e o desenvolvimento de tecnologia e inovação.

Um Mestrado Acadêmico em Filosofia no Mato Grosso do Sul nos permitirá o desenvolvimento da pesquisa filosófica no nível dos fundamentos em áreas que unem a mais longeva tradição histórica em campos consolidados como, por exemplo, Epistemologia e Ética, Filosofia da Ciência e Filosofia Política, ao mesmo tempo que nos permitirá também pensar problemas contemporâneos, questões atuais, contribuindo para a criação de conhecimento novo em áreas estratégicas com debates abertos e dinâmicos em nível local, regional, nacional e internacional. Da mesma forma, o Programa tem um duplo potencial: Por um lado, ao produzir pesquisa de excelência, ele nos convida à inserção no debate internacional, pensando questões de âmbito global, demonstrando como Mato Grosso do Sul pode exportar conhecimento de alto nível, sob a forma de artigos, livros e eventos, para outros países da América do Sul, da Europa e de outras partes do mundo. De outro lado, a pesquisa desenvolvida no Mestrado Acadêmico também tem a vocação de olhar para dentro, de ajudar a entender o Brasil, a realidade regional, os desafios científicos, políticos e éticos de nosso próprio Estado. Um Mestrado Acadêmico é, primordialmente, a casa da “teoria”, e como diria Boltzmann, importante físico filósofo austríaco do século XIX, não existe nada mais prático do que a teoria.
Nosso grande sábio, Manoel de Barros, perguntou: “Pode o homem enriquecer a natureza com a sua incompletude?”. É o que nos esforçaremos por fazer por aqui, Manoel. Enriquecermos e sermos enriquecidos pela natureza com nossos inesgotáveis problemas filosóficos. Manoel disse também que “a maior riqueza de um homem é a sua incompletude”. Assim como você, poeta, “nesse ponto somos abastados! ”. Vamos, de mãos dadas, incompletos, pela natureza afora, aprendendo a cada dia um pouquinho mais, colecionando novos olhares, juntando perspectivas, agrupando saberes. Já que o sonho e a poesia não têm limites, que nosso Mestrado Acadêmico em Filosofia seja como foi o próprio quintal do poeta: “maior do que o mundo”.

Vinícius Carvalho da Silva é Doutor em Filosofia pela UERJ, professor do Curso de Filosofia da UFMS. Coordenador do Grupo de Pesquisa Physikós. Email [email protected]

Este artigo é resultado da parceria entre o Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul e o FEFICH – Fórum Estadual de Filosofia e Ciências Humanas de MS.

 

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