A contribuição das “Humanidades” para a compreensão das mudanças climáticas

Foto: reprodução
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O Mato Grosso do Sul, com sua vasta biodiversidade e riquezas naturais, enfrenta desafios significativos em relação às mudanças climáticas. O agravamento dos desastres ambientais, como queimadas e desmatamento, coloca em risco não apenas o meio ambiente, mas também o desenvolvimento sustentável da região. Neste cenário, o papel das “humanidades” torna-se fundamental para a compreensão desses fenômenos e para a construção de respostas adequadas que contemplem tanto as dimensões sociais quanto as ambientais.

É pela apropriação dos canais dialógicos que teremos ferramentas a fim interpretar os impactos das mudanças climáticas sob diferentes perspectivas, possibilitando a integração entre sociedade, governo e as comunidades afetadas.

Numa superação do negacionismo tem-se a ciência que possibilita a reflexão sobre a relação entre o ser humano e o ambiente, ressaltando a necessidade de uma transformação cultural em nossa interação com a natureza. As questões ambientais no Mato Grosso do Sul são complexas e, ao trazer o olhar humanístico para a equação, ampliamos as soluções possíveis, que vão além das abordagens disciplinar para uma vivência multidisciplinar e transdisciplinar.

O estado já vivencia diretamente os efeitos das mudanças climáticas, como o aumento das temperaturas e a intensificação de fenômenos extremos. O desmatamento no Cerrado e no Pantanal tem sido uma grande preocupação. No entanto, a legislação ambiental, que promove a recuperação de áreas degradadas e incentiva a sustentabilidade, precisa ser interpretada e aplicada com um olhar que considere os impactos sociais, culturais e econômicos sobre a população local. Esse é o papel das ciências humanas: colocar em perspectiva o direito das gerações presentes e futuras à sobrevivência em um ambiente saudável, algo essencial no contexto regional.

A justiça climática, como desdobramento de um Estado de Direito Climático, emerge como central nesse processo. O Mato Grosso do Sul, com sua importância ecológica e cultural, é um terreno fértil para o desenvolvimento de políticas públicas que integrem as dimensões sociais e ambientais. A noção de justiça climática destaca a necessidade de proteger comunidades mais vulneráveis e garantir que a resposta às mudanças climáticas seja equitativa e inclusiva. Nesse contexto, a educação ambiental, como direito humano fundamental, contribui para o entendimento das responsabilidades socioambientais, enfatizando a necessidade de prevenir a degradação ambiental e promover o desenvolvimento sustentável.

O recente desenvolvimento de marcos legais que reconhecem a importância da descarbonização e da preservação ambiental coloca o Mato Grosso do Sul em posição estratégica para liderar iniciativas que promovam a sustentabilidade. No entanto, essas medidas exigem a articulação de diferentes saberes para serem eficazes. É preciso pensar a legislação e as políticas públicas de maneira holística, levando em consideração a complexidade do ambiente e a diversidade sociocultural da região, como prevê o Projeto de Lei 5.482/2020, denominado de Estatuto do Pantanal, que já foi aprovado no Senado e hoje encontra-se em discussão na Câmara dos Deputados.

Assim, as ciências humanas e sociais desempenham um papel crucial na criação de estratégias de enfrentamento às mudanças climáticas no estado. Elas não apenas fornecem as ferramentas para entender o impacto ambiental, mas também orientam as decisões que afetam o futuro da nossa relação com o planeta. Ao promover o diálogo entre o direito, a sociedade e o ambiente, Mato Grosso do Sul pode tornar-se um exemplo de governança climática e sustentabilidade, em sintonia com as exigências globais de proteção ao meio ambiente e de justiça social.

Marcos Paulo Andrade Bianchini é Professor do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da ANHANGUERA UNIDERP. Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. Pós-Doutor em Instituições Sociais, Direito e Democracia. Advogado. Email: [email protected]

Este artigo é resultado da parceria entre o Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul e o FEFICH – Fórum Estadual de Filosofia e Ciências Humanas de MS.

 

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