“Queremos continuar existindo. Manter o espaço pulsando cultura.” Com uma programação repleta de espetáculos e oficinas até novembro, Teatral Grupo de Risco celebra em setembro seus 37 anos de história e resistência cultural
O teatro é uma das expressões artísticas mais populares e essenciais na construção da identidade cultural de uma cidade. Em Campo Grande, essa história não poderia ser contada sem a presença marcante do Teatral Grupo de Risco. Neste mês de setembro, o TGR comemora 37 anos de trajetória, resistência e contribuição artística.
Fundado em 1988, o grupo nasceu com o objetivo de pesquisar a linguagem teatral, valorizando a identidade sul-mato-grossense e incentivando a participação do público em debates culturais. Para celebrar, uma programação especial começa hoje, com diversas apresentações já confirmadas e outras que serão anunciadas ao longo do mês.

Foto: Vaca Azul/Divulgação
Criado por Lú Bigatão, Leandro Melo, Serginho Carvalho e Murillo Effe, o TGR se consolidou como um dos grupos mais antigos e atuantes de Mato Grosso do Sul. Ao longo dessas quase quatro décadas, tornou-se referência por seus projetos culturais e sociais, com forte viés político e comunitário. O grupo é reconhecido não apenas por sua produção artística, mas também por manter um espaço que acolhe e impulsiona o fazer teatral no estado.
Desde então, centenas de artistas passaram pelo grupo, desenvolvendo seus trabalhos sob a orientação do TGR e ampliando sua atuação para além das fronteiras do estado. O grupo já se apresentou em diversas regiões do Brasil e também em países da América do Sul, como Chile, Argentina, Bolívia e Paraguai.

Foto: Vaca Azul/Divulgação
Programação
Como parte da programação especial pelos seus 37 anos, o TGR promove ao longo de setembro e novembro uma série de ações culturais em diferentes regiões de Campo Grande.No dia 5 de setembro, às 7h30, será realizada uma oficina com jovens no Jardim Tijuca, seguida às 19h15 pela apresentação da peça Guardiões no espaço do TGR (Rua Trindade, 401).
No dia 11 de setembro, às 19h, acontece a apresentação da peça “Tesoura”, acompanhada de uma oficina voltada para a comunidade LGBTQIA+, também no TGR. No dia 26 de setembro, às 19h, o grupo se apresenta com “A Princesa Engasgada” e promove uma oficina na Associação de Moradores Buriti (R. Jaime Costa, 589).
No dia seguinte, 27 de setembro, às 8h, será exibido o filme 1º Ato – A Liberdade é Dentro no mesmo local. Já em novembro, nos dias 6 e 7, das 8h às 10h, serão realizadas oficinas com jovens no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), culminando no dia 7, às 10h, com uma apresentação teatral na instituição.
Segundo a gestora do grupo, Fernanda Kunzler, para o Jornal O Estado, estão sendo realizadas atividades no âmbito do projeto Afrodite-se em Ponto, com apoio da Política Nacional Aldir Blanc.
“Falar do TGR é muito emocionante, porque ele representa quem nos tornamos. Vai além de um trabalho é uma missão, uma militância, um espaço de construção social e cultural. É onde criamos pensamento, memória, resistência e lutamos contra a opressão. Para mim, é impossível estar nesse lugar sem entender o teatro como um projeto de vida, uma forma de acreditar em outras realidades possíveis”. destaca.

Foto: Vaca Azul/Divulgação
As peças Guardiões e Revolução, que integram a programação, representam com força a identidade e o pensamento artístico do grupo. Guardiões faz parte de uma trilogia de pesquisa iniciada em 2008 e retomada em 2014, abordando o Pantanal sob uma perspectiva crítica, distante da imagem turística, para expor relações de poder e o desequilíbrio ambiental da região.
Já Revolução é uma adaptação de um texto de Augusto Boal, escrito em 1961, mas ainda atual. A montagem, que estreou em 2016, retrata a precarização do trabalho assalariado e os conflitos sociais e políticos que o cercam. Ambas as obras fazem parte do repertório do TGR e refletem o compromisso do grupo com um teatro engajado, que provoca reflexão sobre o Brasil de ontem e de hoje.
“Com quase uma década a menos que o Estado de MS, o Grupo sempre focou na cultura identitária e na valorização das vozes historicamente invisibilizadas. Inspirado por Campo Grande, retrata realidades locais e usa o teatro como ferramenta de reflexão entre oprimidos e opressores , cidadania e empoderamento”.
Integrantes
Ewerton Goulart é um dos pilares do Teatral Grupo de Risco na atualidade, onde atua desde 2015 e vem construindo uma trajetória marcada pela versatilidade e entrega. Além de atuar nos espetáculos do grupo, Ewerton também assina direções, escreve dramaturgias (como a peça Circo do Absurdo), e contribui com a formação musical dos integrantes, ensinando canto e instrumentos, além de assumir a parte técnica de som.
Sua chegada ao TGR, para a remontagem de A Princesa Engasgada, representou a realização de um sonho e o início de uma vivência artística profunda com um grupo que ele já admirava. Para ele, o TGR é mais que um coletivo: é uma escola prática e afetiva de teatro, que moldou sua trajetória multifacetada. Ao celebrar os 37 anos do grupo com peças como Revolução e Guardiões, Ewerton vê refletida no palco a história coletiva de um teatro feito com urgência, verdade e identidade.
“De 2015 pra cá nós formamos uma comunidade interna no grupo que tem sua própria cultura praticamente, o modo de convivermos, gírias próprias, modo de produzir a arte que amamos. Todas as peças são sobre nossa realidade humana, são peças que mesmo no entretenimento discutem a nossa condição nesse’ planetinha’ chamado Terra e também nesse outro chamado Campo Grande”, explica Ewerton.

Foto: Vaca Azul/Divulgação
A 37 anos atrás…
Lú Bigatão, uma das fundadoras do Teatral Grupo de Risco, carrega em sua trajetória a memória viva de um sonho coletivo que há 37 anos se transformou em realidade. Formada em Artes Cênicas pela Escola de Arte Dramática da USP, chegou a Campo Grande ainda jovem, cheia de energia e vontade de construir algo significativo.
Desde o início, o TGR foi mais que um grupo: tornou-se um espaço de formação, acolhimento e criação intensa, funcionando quase como uma escola informal para artistas locais.
“Lembro com carinho do tempo em que o grupo tinha seu próprio espaço, com várias montagens acontecendo ao mesmo tempo, mesmo sem editais ou políticas públicas para a cultura. Mesmo seguindo outros caminhos, nunca deixei de me sentir parte do TGR. Sigo participando ativamente, seja na assessoria, na dramaturgia ou na divulgação. O grupo é, para mim, uma família artística, unida pelo trabalho, pela convivência e pelo sonho de um teatro transformador e socialmente engajado”.
Entre os muitos marcos dessa trajetória, Lú destaca a peça “A Princesa Engasgada”, criada há quase três décadas e ainda em cartaz, como uma das obras mais simbólicas e queridas pelo público. Foi justamente por meio da remontagem dessa peça, em 2015, que Ewerton Goulart entrou para o grupo. A peça também integra a programação especial de comemoração do aniversário, com apresentação marcada para o dia 26/09.

Foto: Vaca Azul/Divulgação
Futuro
Pensando no futuro do Teatral Grupo de Risco, Ewerton e Fernanda reforçam a importância da presença e da participação. Para Ewerton, o público pode esperar um teatro de “carne e osso”, conectado à realidade e aberto à convivência, não apenas como espectadores, mas como parte do coletivo.
Já Fernanda sonha com um futuro onde a arte e a cultura estejam acessíveis a todos os territórios, com políticas públicas eficazes e espaços vivos, como o TGR, pulsando cultura, memória e democracia.“Queremos continuar existindo. Manter o espaço pulsando cultura e aberto à comunidade”.
Serviço: Para acompanhar a programação completa e ficar por dentro das novidades do Teatral Grupo de Risco, acesse o Instagram oficial do grupo @teatralgrupoderisco e confira todas as atualizações e informações sobre seus espetáculos e atividades culturais.
Por Amanda Ferreira
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