Mulheres que Bailam: Embrujos de España, composto exclusivamente por mulheres, celebra a rica tradição da dança flamenca

Foto: Divulgação
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E vi o par da dança flamenca. Não sei de outra em que a rivalidade entre homem e mulher se pusesse tão a nu. […] Enquanto o dançarino fala com os pés teimosos, a dançarina percorrerá a aura do próprio corpo com as mãos em ventarola: assim ela se imanta, assim ela se prepara para tornar-se tocável e intocável. — Clarisse Lispector.

A dança que cativou tanto os olhos quanto o intelecto de Lispector continua a encantar até hoje, e no próximo domingo (8), o público de Campo Grande terá a oportunidade de vivenciar essa arte em sua forma mais autêntica, com o grupo Embrujos de España. Há 36 anos, a companhia mantém viva a cultura e a tradição espanhola por meio da dança flamenca em Mato Grosso do Sul, e nesta data, apresentará o espetáculo “Mulheres que Bailam”. O evento será realizado às 19h30min, no Teatro Allan Kardec, em Campo Grande.
O espetáculo, formado exclusivamente por mulheres e com 30 bailaoras, é dirigido por Maria Helena Pettengill, criadora do grupo, coreógrafa e educadora física. Esta é a 3ª edição do evento, que reúne mulheres de diferentes idades, unidas pela paixão pela dança, transformando o cotidiano em uma fonte de prazer e expressão.

A conexão entre o grupo e a dança flamenca remonta a 1988, quando o Centro Beneficente Espanhol de Campo Grande criou um grupo de dança com membros da colônia espanhola para preservar as tradições populares da Espanha. A bailarina argentina La Morita, responsável por montar a primeira coreografia, batizou o grupo com o nome Embrujos de España, representando os “feitiços da Espanha”. Desde então, o grupo tem se apresentado em diversas cidades do interior, em estados vizinhos e até no Paraguai, mantendo viva a cultura e tradição espanhola, e agora, através deste espetáculo, celebrando a força e a união das mulheres.
Mulheres que dançam

Ao longo de 36 anos, o grupo tem se dedicado à divulgação e preservação da cultura, não apenas apresentando o flamenco em Mato Grosso do Sul, mas também contribuindo para a história do flamenco nacional. Pioneiro ao lado de grupos de São Paulo e Minas Gerais, o grupo teve a oportunidade de, durante a pandemia, integrar um coletivo e conhecer a história de outros grupos, estabelecendo parcerias e realizando grandes espetáculos.

Ao longo dessa trajetória, grandes nomes do flamenco, como Iara Castro, Blanquita Serrano, Márcio Bonefon, Roberto Angerosa, Marcelo Rodrigues e Talita Sanchez, marcaram presença em Campo Grande, sendo considerados como padrinhos do grupo. Além disso, Embrujos de España percorreu diversas cidades de Mato Grosso do Sul, levando não apenas o flamenco, mas também promovendo a arte e cultura do Estado.

“O “Mulheres Que Bailam” nasceu de uma proposta focada no empoderamento feminino através da dança, criando um coletivo onde mulheres se reúnem para dançar, trocar experiências e se apoiar. O projeto cresce a cada edição, com a participação de novas integrantes e o retorno de quatro bailarinas que, após um período afastadas, voltam a somar ao grupo”, relata Maria Helena Pettengill para a reportagem.

O espetáculo que encerra as atividades de 2024 traz uma emoção ainda maior para Maria Helena Pettengill, ao marcar a celebração de seus 60 anos dedicados à dança. “Esta terceira edição tem um significado especial para mim, pois no dia nove completarei 60 anos. Continuar atuando e dançando com essa idade é um feito importante. O que mais me marca ao longo dessa trajetória são os amigos, o carinho e os momentos felizes vividos através da dança”, revela emocionada.

Maria Helena Pettengill acumula 48 anos dedicados à dança, com uma trajetória que começou aos 12 anos, inicialmente no balé clássico, dança contemporânea, jazz e sapateado americano. Somente aos 20 anos ela se encantou pelo flamenco, tendo a oportunidade de conhecê-lo e de viver diversas experiências nesse universo.

Durante 13 anos, junto com a coreógrafa Sônia Rollon, Maria Helena fundou a Companhia de Artes Belforma UNIDERP, voltada para a dança contemporânea, com a qual realizou espetáculos e viajou por todo o estado de Mato Grosso do Sul, participando de eventos e congressos, o que ela considera uma experiência enriquecedora.

Flamenco para todos

Sidmaiá Pedroso, uma das dançarinas do grupo Embrujos de España, está há mais de 20 anos acompanhando Maria Helena Pettengill no flamenco. Para ela, participar de mais um espetáculo de dança, especialmente para comemorar os 60 anos de Maria Helena, é uma experiência grandiosa e única. “Estar ao lado de uma pessoa como ela é algo único. Só quem convive com Maria Helena entende a importância dessa mulher para a dança, para a arte e para todos ao seu redor”, afirma Sidmaiá para a reportagem.
A dança flamenca é uma arte que exige muita emoção, coordenação e um ritmo intenso. Para dançar, é necessário estar extremamente atenta, pois envolve movimentos de braços, pernas, sapateado e coreografias complexas. Essa dança trabalha a coordenação motora de forma aguçada, exigindo que o corpo se mova de maneira sincronizada, com a cabeça, os braços, o tronco e as pernas em perfeita harmonia.

Esses movimentos são benéficos, especialmente à medida que envelhecemos, já que a dança flamenca ajuda a manter a agilidade mental e física. Além disso, ela tem um grande impacto na autoestima, pois nos permite sentir que conseguimos dançar, independentemente da idade. À medida que ganhamos experiência, conseguimos melhorar constantemente e dar o nosso melhor”, destaca Sidmaiá.O grupo atual, formado principalmente por mulheres mais maduras, tem demonstrado que a dança flamenca permite dançar com alegria e sem a pressão de atender a padrões estéticos. O foco está em estar bem consigo mesma e em transmitir ao público a felicidade e o amor pela dança.
Segundo Sidmaiá, A dança flamenca é uma arte completa, que envolve sonoplastia, iluminação, figurino, coreografia e direção. Embora o flamenco seja frequentemente associado ao público feminino, ele também oferece benefícios para os homens, sendo acessível a todos, independentemente de idade, tipo físico ou gênero.
Serviço

O espetáculo “Mulheres que Bailam” será realizado às 19h30min, no Teatro Allan Kardec, localizado na Av. América, 653 — Vila Planalto em Campo Grande. Os ingressos estão disponíveis pelo WhatsApp (67) 99613-1703

Por Amanda Ferreira

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