Livro de Nelson Araújo Filho será lançado nesta quinta-feira (28), que aborda a construção da região dos Payaguás dos Xarayés
Você conhece a região dos “Payaguás dos Xarayés”? Localizada no Pantanal, essa área ainda é pouco explorada em termos de história e cultura. Com o objetivo de destacar a importância e os aspectos profundos dessa região, o advogado, escritor e poeta Nelson Araújo Filho lança nesta quinta-feira (28) o livro Panranais de Areia. A obra mergulha nas origens, nas dores e nos amores que permeiam a construção da identidade dessa região pantaneira, oferecendo uma visão poética e reflexiva sobre o lugar.
Panranais de Areia é o primeiro livro de Nelson Araújo Filho, que, aos 60 anos, decidiu dar vida aos poemas que ficaram guardados por anos. Com mais de 30 anos de vivência no Pantanal, o autor revela no livro seu profundo conhecimento sobre a região e as emoções que ela desperta.
Nelson descreve sua relação com a região de Paiaguá, como uma grande descoberta. Desde 2009, ele frequentava o local, atraído pela beleza deslumbrante de suas paisagens e águas, que lhe pareciam multiplicadas por dez, por cem. Apaixonado pelo lugar, ele logo se envolveu com a região, mas, com o tempo, começou a perceber que aquele cenário fascinante escondia um grande desastre ambiental, ainda em andamento.
Da natureza para as palavras
Para a reportagem do Jornal O Estado, o autor explica que essa realidade é pouco discutida, o que o deixou perplexo. “O impacto do assoreamento que afeta o Pantanal, principalmente pelos rios Taquari e Paraguai, ainda não faz parte do debate público. Não entendo por que essa questão não é mais visível na consciência da sociedade e da mídia”, afirma. Esse sentimento de inconformismo o levou a escrever Panranais de Areia.
Para Nelson, escrever foi a forma de registrar o que aprendeu a enxergar. Ao perceber que não conseguia transmitir a gravidade do desastre por meio de imagens ou conversas, ele decidiu transformar sua experiência em palavras. “Foi uma capitulação, uma entrega. Se não consegui expressar de outras formas, ao menos o que vi e vivenciei ficaria registrado para que, no futuro, alguém entendesse o que ocorreu ali”, conclui.
Segundo o autor, o Pantanal teve um impacto profundo nele. “Aquele barro, aquela água, me moldaram de um jeito diferente”, destaca. Ele acredita que o contato com a região o transformou e o tornou mais sensível. “Eu precisava deixar registrado de algum modo o que estava vendo ali”, explica. Nelson destaca que, embora conheça poucas pessoas que realmente entendem a região como ela é, ele sentiu a necessidade de compartilhar sua visão e experiência. Para ele, os quarenta anos sem escrever foram, na verdade, um chamado de volta do Pantanal, que o levou a retomar sua escrita e registrar o que viu e vivenciou.
Nelson reflete sobre o impacto de sua escrita e se questiona se o que produziu realmente servirá para contar a história do Pantanal. “Eu fiz com essa intenção, mas não sei se vou conseguir”, diz ele. O autor expressa o desejo de que sua obra consiga, de fato, despertar a conscientização sobre a região, algo que, segundo ele, ainda é muito distante para muitas pessoas.
Ele observa que, embora o Pantanal seja frequentemente mencionado, a discussão se limita a aspectos como o fogo e as caravanas de ajuda, muitas vezes promovidas por entidades e governos. “Eu sei que eles não enxergam o que realmente está acontecendo, pelo que falam e pelo que propõem”, afirma. Nelson reconhece que a tarefa não é fácil, mas, apesar das dificuldades, ele reforça seu desejo de que sua obra ajude a mudar essa realidade. “Eu realmente gostaria muito que isso acontecesse”.
O autor reflete que seu livro é, o tempo inteiro, uma defesa do ecossistema do Pantanal. “Desde o começo até o fim, o livro fala sobre conservação”, afirma. Para ele, é essencial usar os recursos naturais, mas de forma harmoniosa, e não destrutiva. “O livro transmite essa mensagem constantemente: é sobre aproveitar o que a natureza oferece, mas respeitando o equilíbrio”, explica.
O poeta ressalta que, ao simplesmente contar a história de um Pantanal diferente, ele já está levantando uma bandeira, fazendo um alerta. “Quando você revela que há um Pantanal que poucos conhecem, você está dizendo: ‘Não venha com a mesma mentalidade, não venha com as mesmas regras, não venha com as mesmas teorias'”, afirma. Para ele, a defesa do ecossistema começa com o reconhecimento de sua existência e de sua diferença. Assim, sua obra se torna, em sua visão, um “grito” e um “brado” de defesa do Pantanal e de sua preservação.
Um Pantanal de dois biomas
Para o público, a intenção de Nelson é que os leitores compreendam que existem, na verdade, dois Pantanais. “Hoje, temos o Pantanal da areia, afetado pelo assoreamento, e o Pantanal tradicional, que se alaga anualmente, de forma permanente”, explica. Ele acredita que, no mínimo, os leitores devem entender essa diferença e, se possível, também perceber que o cenário descrito é, na verdade, uma recriação da natureza, um processo que ocorreu sem a intervenção humana. “Esse novo cenário se recriou com toda a sua exuberância graças ao isolamento e ao abandono da atividade econômica na região. O entorno acredita que aquilo não serve para nada, o que permitiu que a natureza agisse livremente”, afirma.
O autor também ressalta que, onde o homem interfere, a destruição tende a ocorrer, devido aos modos predatórios de exploração e ocupação do Pantanal. “Mas isso é uma outra conversa”, conclui, deixando claro que a reflexão sobre as formas de exploração da região é um tema complexo que merece uma análise mais profunda.
O livro possui ilustração do artista visual campo-grandense Apres Gomes, apresentação do jornalista Alex Fraga, prefácio do professor Dr. Carlos Magno Amarilha e fotografia da capa feita por Sandro Calixto Maciel.
O livro foi lançado na IV FELIT – Feira Literária de Dourados (MS), na Feira Providencial del Libro, realizada no Centro de Convenções Corrientes, em Corrientes, Argentina, e também com distribuição no Paraguai, Chile e Bolívia. De acordo com sua assessoria, a obra do poeta e escritor será apresentada em breve em diversas cidades de Mato Grosso do Sul, como Corumbá, Ponta Porã, Três Lagoas, Bonito e Rio Verde.
Serviço
O lançamento do livro ocorrerá na próxima quinta-feira, dia 28, das 18h às 21h, na Rua Uberlândia, 489, Vila Rosa Pires. A obra, editada pela Editora Arandu, possui 104 páginas e será comercializada por apenas R$ 50,00.
Por Amanda Ferreira
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