Obra será lançada nesta quinta-feira no auditório do Hospital Cassems
Isolada em meio à tempestade da pandemia, a advogada e professora aposentada Jucli Stefanello descobriu um novo propósito: imortalizar histórias de força e resiliência. Em um momento em que o mundo parecia desmoronar, ela mergulhou na reflexão sobre legados e memórias, culminando na pesquisa que resultou no livro “Herança de Força – A Jornada Inspiradora de uma Mulher Resiliente”. A obra será lançada nesta quinta-feira (17), às 18 horas, no auditório do Hospital Cassems.
A pandemia surpreendeu Jucli Stefanello, assim como milhões ao redor do mundo. Funcionária da Cassems, operadora de autogestão em saúde, ela enfrentou a desmarcação de todas as agendas e a transição do atendimento presencial para o formato remoto. Em razão de seu grupo de risco, Jucli, que possui mais de 60 anos, precisou se recolher. No entanto, manteve a liderança ao mobilizar toda a equipe de atendentes e líderes das unidades Cassems no estado por meio de reuniões online.
De repente, ela se viu isolada e, como sempre foi curiosa, começou a estudar sobre o assunto e sobre as pandemias anteriores na história da humanidade, como a gripe espanhola.
“Buscando minha árvore genealógica, vi que meus avós viveram nesse período. Meu bisavô materno, filho de mãe solo, foi entregue pra doação em Vicenza, na Itália. Meus avós maternos Celina Mello e Vitorino Descovi faleceram com 15 dias de diferença e deixaram 10 filhos órfãos. Eles teriam histórias para contar sobre tudo que passaram, mas não encontrei nenhum registro. Pensei sobre como, daqui a algumas décadas, o mesmo poderia acontecer com meus netos e bisnetos”, relata a autora.
A partir dessa reflexão, Jucli, que nunca tinha imaginado escrever um livro, decidiu começar a documentar suas experiências e observações durante a pandemia. Ao convidar o pesquisador e escritor Eronildo Barbosa para ajudá-la nessa empreitada, ele a incentivou a explorar um novo enfoque.
“Nesse processo, lembrei das mulheres da minha família. É comum ver homenagens a homens—meu pai e meu avô têm ruas nomeadas em sua honra na cidade que ajudamos a construir, e meu tio tem uma praça. Mas e as mulheres que também desempenharam papéis fundamentais? Onde estão as homenagens para elas?” detalhaJucli.
Processo
o Livro inclui a história pessoal de Jucli: suas origens, como se tornou doadora de rim e sua participação como fundadora da Cassems. Assim, o livro, além do caráter autobiográfico e do relato do período pandêmico por quem o acompanhou de perto, faz um registro da trajetória das mulheres da família da autora, desde o nascimento de sua nonna, em 1900.
“Foi uma experiência única. As entrevistas que mais me marcaram foram com tia Rosa Stefanello, de 93 anos, que contou sobre a infância e juventude de meu pai, e tia Lurdes Kovaleski, que detalhou a quase inexistente participação das mulheres na política em contraste com a influência dos homens”, Destacou Jucli para a reportagem.
Ao longo de todas essas narrativas, estão entrelaçadas memórias de superação e a experiência de uma doença genética que afeta diversos membros da família: a síndrome renal policística. Essa condição levou Jucli a se tornar doadora de rim para sua irmã em 2012.
“Geralmente, o que temos de histórico familiar se resume a documentos. Para ir além disso, consegui entrevistar essas mulheres da minha família, algumas das quais faleceram logo depois. Isso se tornou uma oportunidade valiosa para eternizar suas memórias, que, sem esse registro, poderiam se perder com o tempo. Meu desejo é inspirar as pessoas a documentarem suas próprias histórias, independentemente de serem grandiosas ou simples; o importante é registrar e deixar um legado”, afirma Jucli.
Por meio de toda a luta da família com a síndrome renal policística, a autora quer, também, conscientizar sobre a importância da doação de órgãos. Durante o processo de doação, ela descobriu pessoas que encontravam resistência dentro da própria família para encontrar doadores de rim, por desconhecimento ou falta de informação. Parte da renda arrecadada com a venda dos livros será destinada para a Associação Beneficente dos Renais Crônicos (Abrec).
“Existem campanhas de conscientização da doação de órgãos após a morte do doador. No entanto, o rim pode ser um órgão que pode ser doado em vida, desde que o doador tenha condições de saúde para fazê-lo. Ocorre que existe pouca informação sobre esse assunto. Quero contribuir na divulgação e conscientização desse ato de amor”, relatou a professora.
Para a entrevista, Jucli revelou que Rosa Descovi faleceu há um mês, enquanto Lurdes Kovaleski, que sofreu um AVC, permanece inerte devido às consequências da doença. Jucli espera que seu livro inspire outras pessoas a registrarem suas próprias histórias e legados, especialmente em um momento em que muitos lidam com angústias em relação à sua identidade.
“Resgatar suas origens tem a grande oportunidade de autoconhecimento e o verdadeiro sentido da existência humana. O resgate da essência humana, do amor as pessoas, amor a própria vida e aos semelhantes”, concluiu a escritora.
Serviço
O livro “Herança de Força – A Jornada Inspiradora de uma Mulher Resiliente”, da autora Jucli Stefanello, publicado pela Life Editora, será lançado nesta quinta-feira (17) de outubro, a partir das 18 horas, no auditório do Hospital Cassems, localizado na Av. Mato Grosso, nº 5.151, com entrada gratuita.
Por Amanda Ferreira
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