Evento inédito será realizado no sábado e é o primeiro do país com a participação de 500 alunos indígenas
Alunos das etnias Terena, Guarani e Kaiowá de Mato Grosso do Sul, além de diversas outras que abrangem o Estado, irão se unir em um evento inédito no país, o “I Festival de Bandas de Percussão e Fanfarras Indígenas “NZOPÚNE”, que será realizado neste sábado (27), das 7h30 às 17h, na Aldeia Buriti, no município de Dois Irmãos do Buriti. Serão 18 bandas de percussão e fanfarras no evento que ainda terá programação com apresentações musicais, danças dos povos originários, exposições culturais, culinária, mostra de artesanatos e atividades ligadas à cultura indígena. Na linguagem indígena terena, ‘Nzopúne’, significa “Meu Sonho”.
O principal objetivo do festival é a valorização da cultura indígena, mostrando para o Estado e para o país a existência desse tipo de projeto, realizado por meio da SED (Secretaria de Estado de Educação) e do NUAC (Núcleo de Arte e Cultura).
Maestro das aldeias indígenas do Estado há 17 anos, o professor de música do NUAC, Gabriel Pigosso, destaca que o evento será o primeiro do país nessa modalidade, que oferecerá a oportunidade de cada etnia mostrar a sua cultura por meio da dança e das bandas de percussão e fanfarras.
“Esse Festival é de extrema importância, pois traz a pluralidade entre os povos originários por meio dos seus talentos, músicos e percussionistas em Mato Grosso do Sul. Este é o primeiro festival nesta modalidade a ser realizado no Brasil. Ao mesmo tempo que o som dos instrumentos indígenas são emitidos, é possível compreender e reviver com o som da natureza, a conexão com os pássaros, a chuva, o trovão. Assim, a musicalização e socialização que o NUAC proporciona permite a cada estudante vivenciar essa experiência por meio da música e a quem assiste se conectar diretamente com a natureza por meio do som”, pontua Pigosso.
Em entrevista para o jornal O Estado, o professor contou que uma das maiores conquistas para a realização do festival, é a incorporação dos trajes indígenas, de cada etnia, para a apresentação. “Quando você pensa em bandas e apresentações de fanfarras e percussão, vem a mente um estilo de vestimenta mais norte-americano e europeu. Mas, no festival, os nossos músicos poderão usar suas vestimentas tradicionais, valorizando a cultura de cada etnia. Isso foi, inclusive, um pedido das próprias lideranças”, contou.
Mesmo estando há 17 anos conduzindo as bandas indígenas, Pigosso relatou que em todo esse tempo apenas uma banda realizou uma apresentação, por vergonha e timidez dos próprios alunos participantes. Entretanto, o festival foi o ponto de partida para que eles vencerem o medo. “Os alunos são muito tímidos, mas a expectativa está imensa, inclusive dos pais. Além disso, a comunidade está em peso envolvida nas preparações. Duas empresas até irão liberar os funcionários para virem prestigiar o evento”.
Pioneiros
Ao todo são 500 alunos participantes. O professor e maestro ainda relatou a falta desse tipo de estilo musical no país. Segundo ele, no Brasil inteiro existem apenas quatro bandas de fanfarras e percussão indígena. “Mato Grosso do Sul então desponta como o local com mais bandas, sendo 19 ao todo”, disse.
Para a apresentação, além dos instrumentos tradicionais de fanfarras e percussão, os alunos tocarão com seus instrumentos originários, para realizar essa mescla de sons e valorizar as criações étnicas.
Para o gestor do NUAC, professor doutor Fábio Germano, o festival pode ajudar a encontrar novos talentos para o universo da música. “Quando pensamos em organizar o I Encontro Estadual de Bandas e Fanfarras Indígenas partimos da necessidade de promover e incentivar os talentos que existem nas escolas que estão localizadas em diversas aldeias do Estado. Assim, o Festival possibilita a interculturalidade e aproxima essas corporações para que possam mostrar através da arte as suas distintas manifestações artísticas, celebrando dessa forma a diversidade cultural dos povos originários de MS”.
Conforme Germano, a proposta do festival foi solicitada ao núcleo no segundo semestre de 2023, porém a preferência foi para a realização em 2024, principalmente no mês de abril, também como parte das celebrações do Dia dos Povos Indígenas, comemorado no dia 19 de abril.
“Logo, tomamos conhecimento de que essa iniciativa é pioneira no Brasil. Recentemente estivemos em Amparo–SP no Congresso da Liga brasileira de bandas e fanfarras e o Presidente da liga acrescentou a modalidade de “bandas e fanfarras indígenas e quilombolas” com mais um item de relevância nas competições e campeonatos brasileiro”, contou ao jornal O Estado.
“Estamos bem confiantes nesse evento, pois, ao todo teremos a participação de 18 corporações. Não esperávamos contar com esse número logo na primeira edição. Estamos surpresos e confiantes que será um sucesso”, finaliza o gestor.
O secretário de Estado de Educação, Helio Queiroz Daher, explica que o evento tem o objetivo de estimular o fomento de bandas de percussão e fanfarras indígenas do Estado. “O Festival vem com a missão de promover aos integrantes mediante a produção musical uma experiência única e de incentivo às corporações musicais indígenas como meio de preservar a cultura, língua e o grafismo indígena. Esse Festival realizará o intercâmbio cultural entre as comunidades dos povos originários de Mato Grosso do Sul e lá eles poderão mostrar as riquezas de cada etnia por meio de seus adereços como: cocar, tiara, roupas e pinturas”.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com oito povos indígenas (Guarani, Kaiowá, Terena, Kadiwéu, Kinikinaw, Atikun, Ofaié e Guató), Mato Grosso do Sul é o terceiro estado com maior população indígena do país. Ao todo, são 116 mil habitantes indígenas que estão presentes nos 79 municípios do Estado. Desta forma, os povos originários celebram a memória de seus antepassados, mantendo e passando suas culturas de geração em geração.
Serviço
O I Festival de Bandas de Percussão e Fanfarras Indígenas ‘NZOPÚNE’ 2024 acontece no dia 27 de abril, das 7h30 às 17h, na EE Natividade Alcântara Marques e Escola Polo Municipal Indígena Alexina Rosa Figueiredo – localizadas na Aldeia Buriti, no município de Dois Irmãos do Buriti.
Por Carolina Rampi
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