Feira Quilombola: Furnas do Dionísio lança amanhã evento mensal que comercializa produção própria

Feira Quilombola
Imagem: Reprodução/Valentim Manieri

Por Méri Oliveira – Jornal O Estado MS

A comunidade quilombola de Furnas do Dionísio, localizada em Jaraguari, a 35 quilômetros de Campo Grande, vai lançar amanhã (6) a Feira Quilombola que, em sua primeira edição, vai disponibilizar itens produzidos e cultivados na própria comunidade na proporção de 90% e mais 10% por pessoas vizinhas e de outras localidades. Para saber mais sobre isso, o jornal O Estado foi conversar com a presidente da Associação de Moradores de Furnas do Dionísio, Vera Lúcia Rodrigues dos Santos; confira.

Nascida e criada na comunidade quilombola de Furnas do Dionísio, Vera Lúcia tem 40 anos e é funcionária pública na Escola Estadual Zumbi dos Palmares desde 2017 e, desde 2019, atua na Associação Furnas do Dionísio, inicialmente como vice-presidente. Atualmente, assumiu o posto de presidente e está em busca de aprimoramento. “Sou acadêmica da UFMS [Universidade Federal de Mato Grosso do Sul] desde 2020, faço Educação do Campo, estou estudando para assumir a educação da nossa comunidade”, afirma.

O evento realizado é a 1ª Feira Quilombola, que é idealizada desde o ano de 2019, mas só agora se tornou realidade. “Desde o mandato do Nilson Abadio Martins, em que eu era vice-presidente, estávamos programando para começarmos a realizar a feira, mas somente agora que vamos conseguir concretizar. A feira vai funcionar uma vez por mês, todo mês, com 90% de produtos dos produtores da comunidade, vendendo tudo o que é produzido e cultivado aqui na comunidade, e 10% de pessoas vizinhas e de outras localidades”, explica a presidente.

Vera explica que, entre outras coisas, a feira objetiva a divulgação do que é produzido na comunidade. “Esse evento partiu de uma conversa da equipe anterior, objetivo é fomentar a captação de renda e divulgação dos nossos produtos, a divulgação da comunidade e dos produtos que produzimos aqui, da nossa cultura, da nossa gastronomia.”

Sobre o que o público pode esperar, Vera é direta: “Podem esperar uma gastronomia boa e saborosa, bebida gelada, música boa e uma recepção calorosa. Os melhores produtos artesanais você encontra aqui: derivados da cana-de-açúcar, farinha de mandioca, caldo de cana, pastéis fritos na hora, artesanato e muito mais”, dispara.

Quanto às expectativas relacionadas ao evento, Vera afirma que um deles é renovar a clientela dos produtores locais. “Nossa expectativa é de atrair nossos clientes e muitos outros clientes novos, vender bastante, e alegrar o dia das pessoas.”

Adriana Santos Silva, produtora de farinha e rapadura, entre outras coisas, tem boas expectativas para o evento. “O que eu espero dessa feira é que ela abra o macro para a comunidade. em vez dos produtos da Furnas ir atrás do cliente, é o cliente que vem atrás dos produtos da Furnas, porque graças a Deus, o nome, a gente tem, então, é só aperfeiçoar mais e acreditarmos no nosso talento, saber que temos o potencial de fazer a diferença na economia produtora do nosso Estado, é isso o que eu espero. Que todos os produtores tenham muito sucesso e que, na próxima, o boca a boca seja bem positivo.”

Importância

A relevância e de um evento desse tipo vai muito além da divulgação dos produtos locais e passa, invariavelmente, pela valorização desses produtos e de seus produtores, principalmente se considerarmos o contexto histórico e sua influência nos dias atuais. A cana-de-açúcar e seus derivados, que no passado acabava por ser cultivada por pessoas escravizadas, hoje é utilizada para impulsionar toda uma comunidade e se torna, ainda, a marca da resistência de um povo que luta para se estabelecer e mostrar seu valor, sua cultura, sua diversidade e, principalmente, escrever uma nova história.

“A importância da feira é para a divulgação dos nossos produtos e a nossa valorização, pois com a feira temos a pretensão de divulgar mais ainda nosso quilombo, nossa cultura e, como é uma feira coletiva, praticar a coletividade, a união para o trabalho”, afirma Vera.

Por exemplo: a rapadura artesanal produzida em Furnas do Dionísio, e que estará à venda na Feira Quilombola, foi declarada Patrimônio Histórico e Cultural do Estado de Mato Grosso do Sul em novembro de 2016, assim como o Festival Anual da Rapadura, outro evento importante do calendário da comunidade.

Furnas do Dionísio

A comunidade quilombola Furnas do Dionísio foi criada em 1890, no município de Jaraguari, por Dionísio Antônio Vieira e Luiza Joana de Jesus, escravizados, vindos de Minas Gerais, após a abolição da escravatura, decretada em 1888. Ao chegar à localidade, Dionísio levantou a primeira casa de pau a pique e ali se estabeleceu com sua família.

O reconhecimento oficial de Furnas do Dionísio pelo Incra como comunidade quilombola somente se deu em 24 de abril de 2009. Localizada em Jaraguari, está a aproximadamente 35 km ao norte de Campo Grande.

SERVIÇO: A 1ª Feira Quilombola será realizada amanhã (6), das 13h a 0h, na sede da Associação Furnas do Dionísio, na Comunidade Quilombola Furnas do Dionísio, em Jaraguari. Mais informações sobre a Feira Quilombola podem ser obtidas por meio do número (67) 99876-8832, com Vera Lúcia.

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