Autora de MS apresenta seu livro “Eles vieram com o amanhecer” na VII Steamco
A escritora sul-mato-grossense Tânia Souza leva suas narrativas sombrias e enraizadas na história latino-americana para a VII Steamcon Paranapiacaba, evento cultural dedicado ao universo steampunk que acontece nos dias 19 e 20 de agosto. Além de expor seus livros e participar de sessões de autógrafos, Tânia será uma das vozes do bate-papo literário “Vozes do insólito – Escrever o monstro e as raízes do horror latino-americano”, mesa que reúne autores que exploram o medo como expressão cultural, histórica e imaginativa do Brasil e da América Latina.
Durante a conversa literária, Tânia se une ao jornalista e escritor Jairo Costa e à roteirista e autora Kai Sodré para discutir os monstros que habitam a memória coletiva brasileira, das criaturas do folclore às figuras nascidas dos traumas históricos, como os da Guerra da Tríplice Aliança. O bate-papo promete explorar como o horror latino-americano se enraíza na cultura popular, revelando medos que não se escondem apenas nas sombras, mas também nas páginas da nossa própria história.
Na bagagem, Tânia leva sua obra mais recente, “Eles vieram com o amanhecer”, um conto epistolar ambientado durante a Guerra do Paraguai. Escrita em forma de carta a Visconde de Taunay, a narrativa acompanha um tenente confrontando os horrores da guerra e os limites entre realidade e delírio. O livro se destaca não apenas pela trama que flerta com o fantástico, mas também por seu projeto gráfico ousado: cada exemplar foi artesanalmente envelhecido para simular uma correspondência antiga, intensificando a imersão sensorial do leitor.

Tânia será uma das vozes do bate-papo literário, além de dar visibilidade à sua obra no evento – Foto: Acervo pessoal
MS para o Brasil
Além da participação de Tânia Souza, a VII edição da Steamcon Paranapiacaba oferece uma programação rica e diversificada, que celebra o universo steampunk em todas as suas expressões. O evento contará com concurso de Steamplay, apresentações musicais temáticas, gastronomia inspirada na estética retrô-futurista e uma feira com produtos artesanais e itens exclusivos ligados à cultura steampunk.
Para a reportagem do Jornal O Estado, Tânia destacou a relevância de participar da Steamcon Paranapiacaba como uma oportunidade não apenas de difundir sua obra, mas também de dar visibilidade à produção literária sul-mato-grossense fora dos grandes centros.
“Quando recebi esse convite da organização fiquei muito feliz. Poder sair de MS, levar nossa literatura e conversar com autores oriundos de cenários literários, mas com temas em comum nos enriquece, dá fôlego. Me interessa muito falar dessa literatura que produzimos aqui nessa terra de fronteira, mas que não se restringe a um único espaço”, destaca.
Horror que anda ao amanhecer
Tânia revelou que a inspiração para escrever “Eles vieram com o amanhecer” nasceu de uma conexão profunda com seu território de origem. A criatura central da história, chamada ‘nandi veve co’e’, foi criada pela autora a partir de um empréstimo linguístico do guarani. “O nome correto da criatura é ‘nandi veve co’e’, que significa ‘o horror ou vazio que anda/voa ao amanhecer’. Eu inventei esse nome”, explicou. Tânia destaca ainda que esses seres são diferentes do que se espera em histórias de terror tradicionais:
“Eu escrevi esta obra por ser um tema que me toca muito por ter nascido na fronteira. Ambientar a narrativa no contexto da Guerra do Paraguai foi uma forma de resgatar memórias e transformá-las em linguagem literária. Transformar nossa história, nossa paisagem em cenário de horror foi o modo como encontrei para dar voz ao medo, à dor”, explica.
Tânia Souza é natural de Bela Vista, Mato Grosso do Sul. Escreve horror, poesia, contos insólitos e literatura de infância, entre outros gêneros e temáticas. “Os nandi veve co’e são monstros que preferem o dia. A literatura sombria tem justamente esse papel, o de expor alguns fantasmas reais que habitam a história e o imaginário coletivo”, conta.
Sobre o projeto gráfico do livro a autora contou que a proposta surgiu em parceria com a Editora Avuá. “A editora me presenteou com essa publicação. A aparência de envelhecido, o selo, o envelope feito artesanalmente…”, descreveu. A ideia, segundo ela, era proporcionar uma experiência imersiva ao leitor: “Que ele tenha a sensação de estar recebendo uma carta de outras épocas, com o peso da memória grudado no papel”.
Escrevendo sobre medos
Ao falar sobre sua abordagem do horror, Tânia explicou que escrever sobre monstros é também uma forma de olhar para dentro. Para ela, o imaginário popular, o folclore e os causos da fronteira carregam uma dualidade poderosa.
“Escrever o monstro, dar corpo e ferocidade a essas criaturas sem esquecer de olhar para a fragilidade ou a crueldade do ser humano foi a forma como encontrei para também escrever minhas angústias, enfrentá-las.Trazem essa mistura de amor e espanto com a existência”, revelou.
Questionada sobre sua transição entre gêneros literários, Tânia vê suas obras como espaços de experimentação emocional e estética. Para a autora, temas como amor, tristeza, luto, alegria, medo e sobrevivência atravessam toda a sua escrita, independentemente da forma.
“Certa vez, um amigo leu um poema do meu livro de infância Bichinhos da Horta e comentou que se tratava de um conto de horror para a infância. Achei interessante porque não foi um aspecto intencional. Exploro os gêneros para entender em qual linguagem o texto se realiza de forma mais plena”, explica.
Sobre a autora
Tânia Souza é uma escritora que participa dos coletivos Mulherio das Letras, Coletivo Literário Tarja Preta e do Clube de Leitura Vórtice Literário. Sua obra abrange poesia, contos, literatura infantil e até animação. Entre seus livros de poesia estão De(s)amores e outras ternurinhas (2016), Entre as Rendas dos Ossos e Outros Sonhos Desabitados (2020), Microficções e Outras Fantasmagorias Poéticas (2022) — um livro que transita entre prosa e poesia — e Sudário (2024). No campo dos contos, publicou Estranhas Delicadezas (2017), Perverso Natal (e-book, 2019), Fabulário de Estrelas (2023) e Eles Vieram com o Amanhecer (2024).
Na literatura infantil, destacou-se com títulos como Um Gato no Jardim (2018), Bichinhos da Horta (2018) e o e-book Era uma vez (2021). Sua novela A Encantada (2023) foi vencedora do prêmio Ipê de Literatura, reforçando seu reconhecimento no cenário literário. Além disso, Tânia também atuou na produção do curta de animação A Bruxinha, cujo roteiro foi inspirado em seu texto Era uma vez, ampliando sua atuação artística para além das páginas.
Por Amanda Ferreira
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