Com tributo a Nêgalu, Festival Afronta realiza esquenta neste domingo

Galera do Festival Afronta, posa para foto preparando um evento com atitude e visibilidade - Foto: Muriel Xavier/divulgação
Galera do Festival Afronta, posa para foto preparando um evento com atitude e visibilidade - Foto: Muriel Xavier/divulgação

Esquenta terá intervenções, tributo e lançamento de videoclipe, de forma gratuita

 

Neste domingo (21), a partir das 15h às 23h, será realizado o esquenta para o Festival Afronta, que tem por objetivo reconhecer e promover a visibilidade aos artistas pretos, bem como artistas indígenas da cena cultural estadual e nacional. O encontro será no Capivas Cervejaria, na rua Pedro Celestino, 1079, com entrada gratuita.

Um dos principais objetivos do Festival é contratar e evidenciar artistas pretos e indígenas das culturas hip hop, LGBTQIAP+ e periféricos, para que tenham o devido respeito e reconhecimento em qualquer mês do ano, não somente em datas específicas que abordem temáticas pretas, por exemplo.

O Esquenta, que é produzido e idealizado por Afrojess e Camila Maiara, terá a presença de artistas contempladas pelo projeto Afronta Dialeto Preto: Suburbia Única, Serena MC e Perséfone MC cantando suas músicas gravadas por meio do projeto, bem como o lançamento do vídeo clipe de todas as artistas, chamada Cypher Front e Versa.

Novatos e Veteranos

Para a reportagem do Jornal O Estado, a cantora Karla Coronel se prepara para sua estreia no Festival Afronta, onde apresentará seu repertório autoral em um show que aborda as lutas de uma mulher negra em sua busca por existência e resistência no mundo contemporâneo. Filha de uma mãe negra e de um pai estrangeiro, Karla explora suas raízes afro-latino-americanas na canção “Única Defesa”, que integra sua apresentação. O show promete contar sua história, refletindo a vivência e as experiências da artista em solo sul-mato-grossense.

“Estou muito animada para este festival, pois sempre o acompanhei e sonhei em estar na programação. Desta vez, vou me apresentar como cantora e estou radiante, já que é a minha estreia no evento. No meu show, “Solita”, que leva o nome de uma das minhas músicas gravadas com um artista da República Dominicana, trago um pouco da minha mistura cultural.sou paraguaia e brasileira, com meu pai sendo do Paraguai e minha mãe do Brasil”,explicou Karla.

A cantora Karla Coronel traz ao evento seu repertório autoral que aborda a luta das negras – Foto: Muriel Xavier/divulgação

O título “Solita” reflete temas de empoderamento e questões raciais, que são centrais à na apresentação de Karla. A cantora está especialmente empolgada por poder valorizar sua música autoral, apresentando mais composições próprias do que covers. “Acredito que o autoral ajuda a vencer desafios e romper barreiras. Estou muito feliz por ter a oportunidade de mostrar quase 100% do meu trabalho autoral neste show”, destacou a artista.

A artista destaca a importância de ampliar a presença de músicos negros em diversas plataformas, como televisão e redes sociais, especialmente em Campo Grande. Ela acredita que, ao se destacar, inspira outros artistas a acreditarem em seus próprios potenciais.

“Já ouvi muitas pessoas dizerem que, ao me ver cantando, sentem que também podem alcançar seus sonhos”, afirma. Essa identificação é fundamental, pois gera esperança não apenas para aspirantes a músicos, mas para todos que buscam realizar seus objetivos na vida. Karla ressalta que sua música, que fala sobre o amor como a única defesa, também transmite um sentimento de afeto e proximidade, tornando seu trabalho ainda mais relevante.

O veterano do Festival Afronta, o cantor Silveira, retornará para mais uma edição do evento. Natural de Corumbá, no interior do Mato Grosso do Sul, ele começou sua carreira musical aos 13 anos. Nos últimos anos, Silveira se apresentou em grandes festivais do estado, incluindo o Festival de Inverno de Bonito, onde abriu o show da cantora Iza, além do Festival América do Sul, Batalha de Bandas, Sesc Cultura e Som da Concha.

“Eu já canto no Festival Afronta há algumas edições, e esta é especialmente significativa. O festival traz arte para as ruas de forma democrática, e para mim é incrível participar ao lado de outros nomes da nossa cultura preta aqui em Campo Grande. Sempre levo isso no coração: a comunidade se fortalece e cresce unida. Crescer junto com o Afronta é uma honra e um prazer, é uma satisfação enorme fazer parte desse festival”, afirmou o cantor para a reportagem.

Homenagem

Além disso, o evento ainda irá fazer um tributo a Rapper Nêgalu, a qual participou do projeto, gravando suas músicas e o vídeo clipe com as outras três integrantes, mas que infelizmente faleceu em maio deste ano. Nêgalu foi e é referência para a cena da Cultura Hip Hop do estado, uma liderança para o movimento, com um enorme legado.

Luciana Ferreira da Silva, a Nêgalu, era figura central na cena musical de Campo Grande. Desde 2014 atuava ativamente em eventos como a Batalha de Poesias das Minas e da Comunidade LGBTQIAPN+, comprometida em utilizar sua arte como ferramenta de transformação social.

Ela ainda era membro do colegiado estadual do hip hop, voz ativa nas questões sociais, comprometida com a expressão artística, sempre com temas relevantes e inspiradores. Sua influência ultrapassava os palcos, envolvendo-se em importantes diálogos e ações, especialmente na luta contra a violência sexual infantil e a violência contra a mulher. Além disso, Nêgalu equilibrava sua vida entre o rap, seu trabalho e sua família, destacando-se não apenas como uma talentosa artista, mas também como uma mãe dedicada e profissional na confecção de roupas para a moda hip-hop.

Atualmente trabalhava costurando e com produção cultural na Afronta Produções e Produção do grupo Vadios 67 (renomado grupo de rap do estado).

A multiartista, agitadora cultural e DJ AfroQueer irá realizar intervenção performática em tributo a Nêgalu. “Ela foi uma das pessoas que estava dentro da organização da Afronta. Minha performance será para celebrar a vida e a arte dela aqui em Campo Grande”, comentou em entrevista ao jornal O Estado.

No evento também terá o lançamento das camisetas com as fotos produzidas das quatro
artistas pelo projeto, com a assinatura da fotógrafa Muriel Xavier, uma Colab da Afronta +
Touché, fortalecendo a moda autoral do Estado.

Confira a programação completa do Festival Afronta: DJ Gabis (Dourados/MS), DJ Lattynaa, uma intervenção performática com AfroQueer, Roda de Samba com Negabi, Desfile Afronta + Touché, Serena MC, Suburbia Única, Perséfone MC, um tributo à Nêgalu com suas músicas, o lançamento do videoclipe Cypher Front e Versa, além da apresentação de Jéssika Rabello.

 

Por Amanda Ferreira e Carolina Rampi

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