Dirigido por Ramiro Giroldo, filme produzido em Campo Grande explora o terror sobrenatural em uma trama sul-mato-grossense
“O vazio não é tranquilo como pensam, não é como um sono sem sonhos, é como uma noite muito escura, cheia de pesadelos. Pesadelos sem forma.”
É com essa citação inquietante que começa o trailer de As Mortes de Hera, um longa-metragem de terror dirigido e roteirizado por Ramiro Giroldo. Gravado em Campo Grande, o filme independente estreou em outubro de 2024 e já foi exibido no festival Cine Horror em Salvador, além de fazer parte da seleção oficial do Lift-Off Festival no Reino Unido. Embora a trama seja ficcional, ela é baseada em uma experiência real vivida pelo próprio diretor durante um acampamento em Piraputanga, que serve como inspiração para a atmosfera sombria e misteriosa do filme.
A trama se desenrola ao redor de Hera, uma jovem com múltiplas personalidades, que enfrenta uma ameaça sobrenatural disposta a bani- -la para o vazio da inexistência. Cada uma das personalidades de Hera, possui uma forma única de se expressar e agir. A interpretação de Nicole Tomassini, que dá vida à protagonista, foi fundamental para transmitir essas mudanças de maneira orgânica e sutil.
Além de Nicole, o elenco conta com Renata Cáceres, Pepa Quadrini, Felipe Lourenço, Karen Centurion e Jessé Marques de Souza. A direção de fotografia foi de João Pelosi, que também contribuiu para a estética visual única do filme, e a produção contou com Esdras Dürks e Pedro Miyoshi.
Da realidade para a ficção
O enredo de As Mortes de Hera tem suas raízes em um acontecimento real vivido pelo diretor Ramiro Giroldo, que inspirou a complexidade do roteiro. Em entrevista ao Jornal O Estado, Giroldo revelou que a ideia para as personagens começou a tomar forma há cerca de 20 anos, durante um acampamento em Piraputanga.
“O lugar estava coberto por uma inundação, e quando nos aproximamos de um saco preso entre os galhos na margem do rio, um cheiro estranho e podre surgiu. A ideia de algo sinistro vindo daquele saco ficou na minha cabeça e, embora nunca tenhamos descoberto o que realmente era, inventei uma história baseada nesse evento para o filme”, conta Ramiro.
O filme também se destaca por sua mistura entre o sobrenatural e os conflitos psicológicos da personagem, de forma que o filme lida com os elementos sobrenaturais de uma maneira não imediata.
“A dúvida sobre o que é real e o que é criação da mente de Hera é central. A cada entrevista que ela concede, seja para um cineasta ou um psiquiatra, o público é desafiado a questionar se o que está acontecendo é uma manifestação externa ou parte da mitologia pessoal da protagonista”. O suspense psicológico é explorado ao longo do filme, gerando uma tensão constante.
A transição entre as diferentes personalidades de Hera é não apenas psicológica, mas também física. Enquanto Hera, a protagonista, mantém um visual mais sóbrio, Aurora e Ísis – personalidades da personagem – são caracterizadas por elementos físicos distintos, como as mechas brancas e vermelhas no cabelo, que ajudam a evidenciar essas diferenças.
A direção de fotografia de João Pelosi em “As Mortes de Hera” é crucial para a construção da atmosfera do filme. O trabalho visual se destaca pela forma como a equipe utiliza a fotografia para destacar a transição entre o mundo real e o sobrenatural.
“Nas sequências mais sobrenaturais, buscamos uma estética mais surreal, inspirada em filmes de terror dos anos 70 e 80, como os de Mario Bava e Dario Argento. A ênfase nas cores vermelha e azul ajudou a intensificar a sensação de mistério e tensão”, comenta João.
Produção
A maquiagem de efeitos especiais também foi um aspecto importante para a criação do clima de terror do filme. Mariana Tzaschel, responsável pelos efeitos, teve que trabalhar com recursos limitados, mas com muita criatividade.
“Um dos maiores desafios foi criar as maquiagens de efeitos sem o uso de próteses, devido ao orçamento. Usei materiais acessíveis e explorei diferentes técnicas para alcançar um efeito realista. Ela também destaca o uso de gelatina incolor e Eno para criar efeitos de “bolhas” realistas, uma solução inovadora e criativa dada a limitação orçamentária”, detalha.
A colaboração de Tzaschel com a equipe de direção e fotografia foi essencial para criar o tom visual e o impacto desejado no público. “Trabalhar em conjunto com a direção e a fotografia foi fundamental. Eu busquei referências em imagens reais, ao invés de seguir outras maquiagens de filmes, porque isso me permitiu criar algo mais autêntico e verdadeiro para o filme”, explica
O processo de filmagem foi um dos mais desafiadores da carreira de Ramiro. Em um momento pessoal difícil, ele enfrentava uma costela trincada, o que dificultava sua atuação nas gravações. “Foi um período muito atribulado para mim. Tinha acabado de trincar uma costela e precisei lidar com a dor durante as filmagens, sem deixar que a equipe percebesse. Disfarcei o máximo possível para manter o set funcionando bem”.
O filme já passou por dois festivais importantes: o Cine Horror em Salvador e o Lift-Off no Reino Unido. Ambos foram passos significativos para uma produção independente. “A entrada do filme em festivais é uma grande conquista para uma produção com um orçamento reduzido. O filme ainda está no circuito de festivais, o que é típico das produções independentes. Estamos aguardando mais exibições para 2025, antes de pensar em uma distribuição comercial”, diz Giroldo.
“As Mortes de Hera” reflete não só os conflitos internos da protagonista, mas também o isolamento e a busca por identidade. “Hera sente que suas diferentes personalidades estão sendo ‘assassinadas’ ao longo da trama, o que traz à tona questões de solidão e vazio. O filme é, de certa forma, sobre o renascimento e a busca por respostas”, conclui Giroldo.
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