ABL na ASL: Palestras Imortais

(Foto: Site ABL)
(Foto: Site ABL)

            Academia Sul-Mato-Grossense de Letras promove encontro acompanhados de chás e rodas de conversa mensalmente com Imortais da Academia Brasileira de Letras.

 

A Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL) irá proporcionar uma grande oportunidade para os entusiastas da literatura e cultura em Mato Grosso do Sul. Sob o título “ABL na ASL: Palestras Imortais”, a instituição promoverá encontros mensais em seu auditório, iniciado neste mês de março. O Evento estará apresentando cinco destacados membros imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL) para palestras, chás acadêmicos e interações com o público.

Arno Wehling, pesquisador e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, bem como membro e ex-presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, está agendado para liderar a palestra intitulada “Um Idealismo Constitucional’? No bicentenário da Constituição de 1824″ nesta quinta-feira. Esse documento, que completa 200 anos, representa um marco significativo na história brasileira.

Em uma entrevista concedida ao Jornal O Estado, Arno Wehling, 8º ocupante da cadeira 37 na Academia Brasileira de Letras, eleito imortal em 2017, destacou a relevância dessa constituição, que permaneceu em vigor por sessenta e cinco anos, até o final do império em 1889. Ele irá enfatizar os aspectos críticos da constituição, especialmente as críticas surgidas tanto no próprio império quanto posteriormente, devido ao que era considerado um excesso de idealismo.

“Trata-se de uma época muito conturbada no mundo ocidental, na América espanhola, na América Portuguesa e no Brasil. O esforço que se procurava fazer era acabar com a sociedade do antigo regime, a sociedade de ordens, que estabelecia diferenças entre diversas ordens sociais, clero, nobreza e povo, e dar liberdade em primeiro lugar, porque estava saindo da época do absolutismo, liberdade política, liberdade de opinião e liberdade de imprensa”, explica o Imortal.

Um dos pontos a qual Wehling irá debater durante a palestra, é sobre a polarização de políticas enviesadas por diversos grupos sociais. “Na elaboração da Constituição, diferentes correntes políticas entraram em conflito. Uma minoria buscava restaurar o sistema colonial, com apoio de alguns portugueses ligados aos interesses de Portugal e dos comerciantes. Um dos pontos delicados desse processo era a questão da escravidão. Este tema foi inclusive abordado por José Bonifácio, uma figura de destaque juntamente com D. Pedro I no processo de independência. Um grupo mais radical defendia a instauração de uma república, suspeito de fragmentar potencialmente o Brasil. No entanto, foi o grupo moderado que predominou na formulação da Constituição. Eles visavam criar um documento centralizador para garantir a unidade nacional e estabilidade durante a formação do país”.

Trabalho em Campo Grande

Arno compartilhou detalhes sobre sua passagem por Campo Grande em 2010. Na ocasião, a convite do presidente Hildebrando Campestrini, ele realizou uma palestra no Instituto Histórico Geográfico de Mato Grosso do Sul. O tema em destaque foi as complexas interações entre memória e história.

“Minha passagem teve como foco destacar o papel do instituto estadual no processo de valorização da memória e da história de Mato Grosso do Sul. Uma região de grande relevância desde os tempos coloniais, atuando como ponto estratégico entre as colonizações portuguesa e espanhola, e posteriormente entre o Brasil e o Paraguai.”

IHGB e cultura

O historiador compartilhou sobre seu trabalho como presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Ele destaca o programa implementado para valorizar a memória histórica e a história científica, ressaltando a importância de diferenciar a valorização da memória da análise científica do passado.

“É crucial distinguir entre a valorização da memória e a análise científica do passado, destacando o papel do historiador como um cientista social. Além disso, gostaria de ressaltar minha preocupação em valorizar o acervo do instituto histórico, que engloba documentos, uma biblioteca e obras raras. A revista do instituto, com quase quinhentos números editados desde 1839, é uma fonte significativa de estudos ao longo dos anos, produzidos por várias gerações de historiadores, geógrafos, sociólogos e antropólogos. Esta publicação é reconhecida pelo Guinness como a segunda publicação científica mais antiga do mundo.”

Ele ressalta também a importância em seu mandato de ter criado parcerias com outras instituições estaduais para pesquisa. “Outro ponto que sempre foi articular o nosso trabalho nacional com o trabalho dos institutos históricos estaduais e também municipais. Por isso, aliás, eu fui a Mato Grosso do Sul. Naquela ocasião, em 2010, um dos objetivos era estreitar os laços com o então Instituto Histórico de Mato Grosso.”

O pesquisador destacou a importância de valorizar e explorar a riqueza da diversidade cultural do Brasil. Em um país de dimensões continentais, ele ressalta que a diversidade não se limita apenas à geografia, mas abrange aspectos linguísticos, artísticos, étnicos e regionais.

“Somos um país continental, de dimensões continentais, e isso não quer dizer apenas extensão geográfica, mas quero dizer também diversidade cultural, linguística, de expressão artística, regional e assim por diante. E a nossa diversidade étnica também, com as diferentes culturas étnicas que colaboraram e colaboram para a construção do Brasil. Então, eu acho que só aí é um imenso programa para desenvolver em diferentes áreas.”

Diante desse cenário, ele enfatizou a necessidade de um amplo programa de desenvolvimento cultural em várias frentes. Além de sua própria contribuição na pesquisa histórica, ele destaca a importância de disseminar a cultura brasileira por meio de diversas atividades, ressaltando que a educação desempenha um papel fundamental nesse processo.

“A disseminação da cultura brasileira é crucial e deve ser encarada como prioridade, não apenas pelas políticas públicas, mas também pela iniciativa privada e pelos núcleos familiares. Essa disseminação, especialmente por meio da educação, é essencial para fortalecer e preservar nossa cultura e diversidade. Diante dos graves problemas educacionais e de formação cultural e científica no Brasil, é necessário lutar de forma contínua e persistente contra essas questões.”

Encontro mensal

Essas figuras de destaque na literatura brasileira serão acompanhadas pelos próprios imortais da ASL ao logo do evento, como; Américo Calheiros, Ana Maria Bernardelli, Elizabeth Fonseca, Henrique de Medeiros e outros, que também participarão das Rodas Acadêmicas. Além disso, os eventos visam homenagear figuras marcantes da cultura sul-mato-grossense, como Maria da Glória Sá Rosa, Ulysses Serra, Hidelbrando Campestrini e Manoel de Barros.

Os membros imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL) que participarão no ano de 2024, como parte do projeto, são Ana Maria Machado, Antônio Torres, Arno Wehling, Godofredo de Oliveira Neto e Ricardo Cavaliere.

Além disso, nas Rodas Acadêmicas, ao longo de 2024, teremos a presença e palestras dos imortais da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL), incluindo Américo Calheiros, Ana Maria Bernardelli, Elizabeth Fonseca, Henrique de Medeiros, Lenilde Ramos, Marisa Serrano, Raquel Naveira, Rubenio Marcelo, Sérgio Cruz e Sylvia Cesco. Eles abordarão e prestarão homenagem aos trabalhos dos imortais falecidos que marcaram história na cultura do Estado, tais como Maria da Glória Sá Rosa, Ulysses Serra, Hidelbrando Campestrini e Manoel de Barros.

O presidente da ASL, Henrique de Medeiros, destacou a importância dessas iniciativas para enriquecer o cenário cultural do Estado, ressaltando também a colaboração da UFMS e da Confraria SociArtista.

Serviço: O encontro “ABL na ASL: Palestras Imortais” acontecerá nesta quinta-feira, 28 de março, na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, que fica na rua 14 de Julho, 4653 – Altos do São Francisco, a partir das 19h30. Entrada franca.

Por Amanda Ferreira

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