Alunos com deficiência intelectual expressam seus sentimentos, sonhos e ansiedades por meio da arte
A Associação Juliano Varela realiza hoje (25), a partir das 18h30, a primeira Mostra Cultural da associação, com o tema ‘Meu, Seu, Nosso Mato Grosso do Sul Inclusivo’, com produções artísticas e culturais desenvolvidas pelos alunos com deficiência intelectual atendidos na instituição durante o ano de 2024.
Os participantes da mostra desenvolveram suas obras do decorrer das aulas dos projetos ‘Traçando Caminhos Através da Arte Inclusiva’, ‘60+’, ‘Cuidar do Bem’, ‘Mão na Massa’, ‘Mergulhar para o Sonho’ e ‘Educação ao Longo da Vida’.
Divida em dois ambientes, a mostra contará com a exposição das telas e cerâmicas pintadas pelos alunos, por meio da releitura de artistas locais, e de apresentações musicais, de dança e teatro com temas voltados para a cultura regional sul mato-grossense.
O evento tem como principal objetivo promover a inclusão através da arte e valorizar o lado artístico das pessoas com deficiência intelectual. “Não podemos aceitar a ideia de que uma pessoa com deficiência intelectual seja incapaz de se expressar artisticamente. Nossa Mostra vem para quebrar esse preconceito e mostrar que todos somos capazes”, declarou a diretora pedagógica, Eluzia Alves dos Santos.
Temas
A exposição tem foco no Mato Grosso do Sul, de sua fauna a flora, e segundo a diretora pedagógica, a escolha do tema foi feita com objetivo de levar o conhecimento aos próprios alunos de quão ampla e rica é a cultura do Estado.
“Usamos da arte para levar esse conhecimento a eles, porque ela compreende um universo amplo, de múltiplas formas de linguagem, como artes visuais, música, dança e teatro, que serão apresentados no dia”, explica.
Além disso,Souza ainda pontua como a arte pode ser utilizada como forma de comunicação e expressão para os alunos. “Autoafirmação, criatividade, favorece a socialização, estimula o desenvolvimento psicomotor dos nossos alunos. Por meio da arte eles se expressam, seus sentimentos, desejos, sonhos, ansiedades. Com a mostram iremos fazer não só um resgate, mas também uma valorização de tudo isso”, complementa.
“Eficiência dentro da deficiência”
Com atendimentos do nascer ao envelhecer para alunos com diversas condições, a associação oferece projetos voltados a educação artística como o ‘Traçando Caminhos Através da Arte Inclusiva’ e ‘Educação ao Longo da Vida’. Para a diretora, um dos maiores desafios durante o ensino, é mostrar para a sociedade e até mesmo para os pais desses alunos, que eles são capazes de produzir, de se expressar por meio de suas próprias obras.
“Um dos desafios seria entender, tanto para os profissionais, quanto para a sociedade, quanto para as famílias também, de que não é por conta da deficiência que eles são incapazes de produzir. Aqui dentro da associação, nós temos alunos que são escultores, escultores em madeira, alunos que dançam, cantam. Então, não é a deficiência que vai trazer essa limitação. É a eficiência dentro da deficiência”, destaca.
“Eles são capazes de produzir, de realizar, tendo suas habilidades respeitadas dentro dos seus gostos, dos seus quereres”, completa.
Eluzia Alves também destaca a importância do projeto ‘Mão na Massa’, que auxilia no mercado de trabalho. Alunos que não possuem perfil para serem empregados no trabalho formal, são treinados em produções gastronômicas como produção de receitas, higiene e manipulação de alimentos, atendimento.
“Criamos essa cozinha inclusiva pensando nas pessoas que não podem ou não se adaptam. Treinamos mãos de obra na parte da arte culinária então. Temos alunos que seguiram carreira na produção de salgados com a mãe, de pão de queijo congelado também, o que gerou renda para suas famílias, de uma forma que não era ligado diretamente a um contrato formal com regime de CLT, mas que não impede que eles possam desenvolver uma atividade de maneira autônoma, como qualquer cidadão”.
O projeto Máscaras de papelão e a sensibilização teatral entre pessoas com deficiência intelectual, desenvolvido pela professora Ana Paula Nogueira, juntamente com o artista visual Maurício Cintrão, ficou entre os cinco finalistas do 25º Prêmio Arte na Escola Cidadã, promovido pelo Instituto Arte na Escola.
Desenvolvido nos meses de setembro e outubro de 2023, o projeto envolveu cerca de 60, alunos de 14 a 60 anos, atendidos pela Associação Juliano Varela. Todos com deficiência intelectual.
“Ficar entre os 5 melhores do país é uma vitória que não podemos medir. É uma emoção muito grande. E não podemos deixar de dizer que nossos alunos têm deficiência intelectual e concorreram com alunos não deficientes de escolas de todo o Brasil”, salientou a professora. “Foi uma experiência fascinante e, com certeza, vamos repetir”, concluiu Ana Nogueira.
Arte e educação
A diretora pedagógica explica que a arte no ensino é uma porta para o desenvolvimento dos alunos, ao abordar diversos pilares, temáticas e públicos.
“Existe arte para todos os tipos de públicos. Então, através da arte a gente chega à sociedade de uma maneira geral. E é com essa intencionalidade que decidimos trabalhar a arte sul-mato-grossense na questão inclusiva, porque nós vimos a arte como uma porta aberta para levar à sociedade todo o potencial dos nossos alunos e trazer para eles essa experiência mágica que é viver a arte em todos os seus âmbitos”.
Ela ainda compartilha que o ensino inclusivo é um desafio todos os dias, pois todos são diferentes. “Somos desafiados a todo momento dentro da escola. Uma de nossas instigações é poder identificar dentro da deficiência a habilidade de cada aluno, porque eles são como qualquer um de nós, ditos ‘normais’, com suas próprias habilidades e gostos”, finaliza.
Associação
A Associação Juliano Varela, fundada em janeiro de 1994, atua como instituição sem fins lucrativos, que atua na defesa e garantia de direitos de pessoas com deficiência intelectual diversas como Síndrome de Down, Transtorno Global de Desenvolvimento, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, Microcefalia e Transtorno do Espectro Autista.
O público alvo são crianças, adolescentes e idosos em situação de vulnerabilidade e seus familiares, nas áreas de assistência social, reabilitação, trabalho, cultura, esporte, lazer e educação, com objetivo de facilitar a integração e emancipação social de seus alunos.
A organização foi fundada por Maria Lúcia Fernandes, a Malu. Dois anos da fundação, Malu teve seu primeiro filho, o Juliano Varela, que nasceu com Síndrome de Down, que era ainda pouco conhecida em Campo Grande, na época. Com o apoio da amiga Mariita Cançado Soares, Malu descobriu a Estimulação Precoce na cidade do Rio de Janeiro, onde levou Juliano para tratamento, o que levou a mãe do menino a encarar a síndrome com outros olhos.
Interessados em doar qualquer valor a Associação Juliano Varela podem contribuir via PIX, depósito bancário, boleto, assinaturas mensais, por meio da conta de energia elétrica, com cestas básicas ou se tornar uma empresa amiga. Também é possível doar brinquedos, calçados, roupas, produtos de higiene, materiais de limpeza e alimentos. Mais informações podem ser obtidas pelo site www.julianovarela.org.br/como-doar/.
Serviço: A 1ª Mostra Cultural da Associação Juliano Varela acontece nesta sexta-feira, 25/10, a partir das 18h30, no Teatro Aracy Balabanian, no Centro Cultural José Octávio Guizzo, rua 26 de agosto, 453. Entrada Gratuita.
Por Carolina Rampi
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