123 anos: Hábitos e culinária dos campo-grandenses mostram confluência de culturas

berrante aniversário de CG
Imagem: Reprodução/Nilson Figueiredo
Hábitos e culinária dos campo-grandenses mostram confluência de culturas

Por Méri Oliveira – Jornal O Estado do MS

A Capital Morena traz, em hábitos diários de seu povo, vários costumes, que marcam a formação da população local, seja pela chipa e pelo tereré, da cultura paraguaia, ou do sobá, trazido pelos japoneses e, ainda, pelos berranteiros, com influência do homem pantaneiro. Agora o jornal O Estado te traz um pouco mais de detalhes sobre tudo isso; confira.

De acordo com registros históricos, a chipa teve origem no Paraguai, nas áreas das Missões Jesuítas quando, após a guerra, havia escassez na região e os índios preparavam alguns tipos de pães à base de mandioca e milho. Com o passar do tempo, o alimento cruzou fronteiras e hoje faz parte do cotidiano do campo-grandense.

O jovem Matheus Hattene Brito, proprietário de uma chiparia, explica que não tem ascendência paraguaia direta, mas conta que a chipa é presença certeira em sua família, dona da receita da iguaria que diariamente alimenta diversas pessoas que passam pelo seu comércio, a fim de garantir uma chipa quentinha e saborosa para o café da manhã. “A receita é de família, mas o meu empreendimento foi à parte. Entre primos, tios, dentro da nossa família tem umas dez lojas em Campo Grande, com nomes diferentes.”

Matheus acredita que a chipa é tão apreciada não apenas pelo sabor, mas também por ser algo mais ao alcance do trabalhador. “A chipa vem com um atrativo muito forte, por causa do custo, né? Não tem quem fique sem comer, pelo custo mais em conta, em comparação a salgados, pães, etc., e ficou no dia a dia, como uma coisa gostosa com um cafezinho, principalmente no frio, a pessoa já tá pensando na chipa”, pontua.

Berrante

Os berrantes surgiram há mais de três séculos e, inicialmente, a função do instrumento era ajudar os tropeiros a agrupar a manada, e inicialmente eram feitos dos chifres de uma raça bovina conhecida como “boi pedreiro”, que tinha chifres longos o suficiente. Atualmente, é um item presente e marcante na cultura atual, mesmo em meio à cidade e, nos últimos tempos, em parte, por influência da novela “Pantanal”, que fala muito da vida no bioma.

O empresário Paulo Cesar Pizzolito contou à nossa reportagem que uma coisa que consegue observar no dia a dia, já há mais ou menos dez anos, é que o campo-grandense não tem hábito de usar botas, chapéu, ou de tocar berrante, itens à venda em sua loja. “Quem se veste mais ‘a caráter’ é o pessoal do interior, o homem do campo, o pessoal do CLC [Clube de Laço Comprido]. O campo-grandense mesmo, da cidade, não usa muito esses itens. Se você encontra na rua, e você for a fundo, você vai ver que é do mato, do campo”, afirma.

Berranteira

Luiza Gabriely Dias Rodrigues, filha de berranteiro, começou a tocar berrante há pouco tempo, mas conta que levou apenas uma semana para pegar o jeito. “Comecei faz pouco tempo. É um pouco complicado no começo, eu levei mais ou menos uma semana para aprender a tocar, mas tem gente que já consegue de cara. Eu demorei um pouco, mas é divertido”, disse a jovem.

Luiza conta que o pai, que trabalha em fazenda, faz uso constante do berrante na lida, mas que ela aprendeu para poder fazer demonstrações ao público que procura pelo instrumento. “Eu acho bonito por demais. Às vezes vem um turista, quer ver como funciona, então a gente vende, ensina, tudo. Um turista do Nordeste, por exemplo, não conhece tanto, porque é uma coisa nossa, daqui, então bate o olho e acha legal”, explica Luiza.

Tereré

A origem do tereré remonta ao período da Guerra do Chaco, entre os anos de 1932 e 1935, quando as tropas teriam começado a consumir a infusão a frio, em vez de quente, para evitar acender fogueiras e, assim, impedir que fossem notados pelo inimigo. Isso teria tomado lugar em Ponta Porã, cidade ao sul do Estado, que à época pertencia ao Paraguai.

Pedro Ferreira da Silva comenta que a procura pela erva de tereré é muito grande, principalmente por pessoas que são daqui e hoje moram fora. “A procura é muito grande. Tem gente que quando vem pra cá chega a levar sacas de 20 quilos de erva, porque não acha em outros lugares. Em Mato Grosso eles também tomam, mas [a erva] é muito mais cara por lá”, conta o vendedor.

Fortalecendo laços

Ele afirma que tem o hábito de tomar tereré e que também vende o produto, e o vê como uma maneira de fortalecer laços de amizade. “O que eu vejo – igual aos gaúchos, que têm o mate [chimarrão] – sempre reunidos ali, igual a todo mundo aqui, também, sempre reunidos. A gente constrói amizades por meio do tereré: em rodas, você vai numa quadra de vôlei, de futebol, num parque, numa pracinha, ajuda bastante”, afirma Pedro.

Sobá

Carro-chefe da “Feirona”, o sobá é um prato típico da gastronomia campo-grandense, que se tornou patrimônio cultural imaterial do município, e foi adaptado da culinária oriental pelos imigrantes vindos, em 1908, da província de Okinawa, arquipélago de influência chinesa, na região sul do Japão.

Dona Jadi, dona de uma das mais famosas barracas de sobá da Feira Central, a Jadi Sobá, é só gratidão aos seus antepassados. “Eu vejo com muita gratidão aos meus avós que vieram de Okinawa, no Japão. É o nosso trabalho, e ver as pessoas consumindo o que a gente prepara desperta muita gratidão já há 20 anos. Criamos os filhos, formamos os filhos… são conquistas que o sobá nos trouxe”, finaliza.

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