Nova montagem do Arrebol Cultural acompanha a jornada de sete tropeiros pelo Pantanal
‘Onde a comitiva esperança chega já começa a festança… ’. Todo sul-mato-grossense que se preze conhece a música ‘Comitiva Esperança’, ou já aprendeu na escola como as boiadas eram conduzidas no Pantanal, realizadas pelos peões tropeiros. E é essa narrativa, costurada com muito mistério e músicas bem regionais, que compõe a nova peça do Arrebol Cultural, ‘Comitiva Esperança – O Musical’, com estreia no dia 7 de novembro.
A dramaturgia é de Ewerton Goulart e Fernandes F, e acompanha a jornada de sete tropeiros conduzindo uma boiada nos rincões do Pantanal. Durante esta jornada as histórias destes homens vem a tona, com suas dores, alegrias e segredos, relatadas por meio das músicas de Almir Sater, Sérgio Reis, Grupo Acaba, entre outros.
Na comitiva há o jovem inexperiente Zé Vicente, os irmãos mineiros contadores de causos, João Quebra Toco e Mané Quindim, o apaixonado Tião, o cozinheiro Hélio, o neto de paraguaios Moacir, braço direito e, ao mesmo tempo, forte opositor do chefe da tropa, Luís Mário Silvino. As três últimas personagens foram nominadas em homenagem ao tradicional cozinheiro Helinho da Comitiva, Moacir representando um dos integrantes do grupo Acaba e Luís Mário é o mais antigo chefe de tropa ainda vivo, residente em Aquidauana–MS, o qual foi entrevistado várias vezes para a construção do musical.
Samir Henrique, que interpreta o protagonista Luís Mário Silvino, contou ao jornal O Estado, que sempre teve vontade de fazer um trabalho regional, que retratasse os sul-mato-grossenses e seus costumes.
“Foi uma honra e uma felicidade poder fazer parte desse trabalho. Como a minha personagem é o ‘chefe da Comitiva’, tivemos um longe laboratório para conhecer todas as referências e costumes. Fora todo o estudo de mesa, fomos para Aquidauana, onde conhecemos uma família de comitiveiros. Aprendemos muito com eles e com certeza me ajudou bastante”.
O diretor Fernandes F. reforça que a escolha dos atores foi baseada em cada personagem, intercalando semelhanças. “Para o Zé Vicente convidamos um jovem e inexperiente ator justamente para contribuir com essas características, uma vez que a personagem é um novato na jornada da comitiva. O mesmo que corre com Luís Mario Silvino, o qual fomos até Aquidauana para entrevistar várias vezes e o Samir Henrique, ator veterano e experiente no grupo, esteve sempre presente”, explicou.
Além disso, Fernandes ainda destaca que é preciso um meticuloso processo de escrita para que a história de cada tropeiro fosse destacada no musical. “Primeiramente definimos os solos musicais de cada personagem, isso já garantiu o espaço de cada um. A partir daí foi só entrelaça as histórias, cuidando sempre para que nenhuma personagem fosse ‘esquecida’”.
Musical
Com uma dramaturgia que mistura música e narrativa, Fernandes relembra como a própria infância foi fonte de inspiração para a escolha das músicas do espetáculo.
“As músicas regionais, especialmente as do Grupo Acaba, sobre o qual nós já queríamos fazer um trabalho há algum tempo. As demais músicas escolhidas, muitas das quais são a trilha sonora da minha infância, foram uma forte inspiração. Muitos nomes das personagens vieram dessas músicas”.
Para Samir, a música pantaneira já estava enraizada na sua criação, dentro de suas próprias referências, e ele considerou a construção do musical como uma visita ao passado.
“Sou nascido e criado em Campo Grande. Cresci ouvindo músicas sertanejas, então foi tudo muito dentro das minhas próprias referências mesmo. Meu pai era jornalista e amigo pessoal do Almir e do Moacir (grupo acaba), isso também de certa forma me aproximou ainda mais desse universo todo. A cada música que ensaiávamos era uma visita ao passado. Junto ao fato de que todos os meninos têm um nível técnico vocal muito elevado, então a parte musical foi um deleite para nós, e tenho certeza que o público também vai sentir o mesmo”.
Emoções
Outro destaque da peça é as emoções conflitantes entre cada personagem, que se moldam por meio de seus passados e as dificuldades da vida em comitiva, das dores aos segredos.
“Esta série de emoções é praticamente universal e onipresente em qualquer grupo. No caso, a comitiva composta de 7 homens, surgem naturalmente os conflitos de liderança, traição, exposição de dores e segredos. E colocar este grupo dentro do Pantanal, que por si só tem duas fores e segredos, foi uma simbiose incrível!”, destacou o diretor.
Segundo Samir, seu personagem é cheio de nuances, quebras e surpresas, traços que o inspiraram a trazer um pouco da vida de comitiva para dentro dos ensaios.
“O fato da gente conviver com pessoas durante meses na maioria das vezes nos aproxima muito. Eu sempre tentei trazer um clima amistoso para os ensaios. Um lugar onde pudéssemos colocar nossas opiniões, aprender e crescer juntos. Tal qual uma comitiva mesmo, um time. Posso dizer que foi um prazer trabalhar com todos os meninos, atores, cantores, que estão nesse trabalho. Aprendi a admirar as qualidades de cada um e também lidar um pouco com suas personalidades, com seu modo de ver as coisas, então construímos algo muito em coletivo mesmo, com a ajuda do nosso querido diretor. Sou grato por ter pessoas tão talentosas e comprometidas como eles ao meu lado”, destacou.
O Pantanal por pantaneiros
Com toda a crise climática que assola o pantanal, tanto sua fauna quanto flora, Samir relata que sua expectativa com o musical, é que as pessoas entendam como é “viver e lutar a vida com água até no joelho, no meio desse Pantanal”, pontua. “Me arrepia falar da nossa terra em momentos tão difíceis, de mudanças climáticas e tantas outras questões que nos afetam profundamente”.
“A expectativa é que o público se envolva com a história, cante junto as músicas e saia do espetáculo apaixonado pelo Pantanal! A gente quer, atrair obviamente, a atenção para o pantanal, mas através de suas histórias e lendas. Queremos ainda resgatar músicas antigas que falam da jornada dos tropeiros”, finaliza o diretor.
Serviço
A peça “Comitiva Esperança – O Musical”, é uma produção do Arrebol Cultural UEMS, que após o sucesso de ‘Delinha, O Musical’, retorna com a temática regional com texto autoral.
As apresentações serão nos dias 7 e 8 de novembro, às 19h45, no Teatro Aracy Balabanian. Ingressos estão disponíveis no Sympla.
Por Carolina Rampi
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