Há alguns dias estou vendo, nas redes sociais, uma briga infantilizada entre bolsonaristas, o influenciador digital Felipe Neto e o chocolate Bis, mas resolvi ignorar, pois confesso que ando sem paciência para me inteirar de todas as brigas sem sentido que viralizam nas redes sociais. Mas como a confusão nunca acabou e passei a ver políticos postando fotos com o chocolate Bis e outros com o chocolate KitKat, então resolvi dar uma lida no assunto. Só para constar, gosto tanto de Bis quanto de KitKat! Sou tão fascinado por chocolate que até aqueles em formato de guarda-chuvas, super glicerinados, me agradam.
Mas, vamos lá. De tudo o que li, chego à conclusão que muito se parece a uma briga de adolescentes da quinta série, mas se fosse da quinta série, seria super aceitável, pois a pouca idade costuma justificar desentendimentos corriqueiros. O problema é que não estamos falando de pessoas da quinta série, mas de políticos que deveriam estar preocupados com pautas mais importantes para sociedade, ao invés de lacerações nas redes sociais.
O influenciador digital Felipe Neto foi convidado pela multinacional Mondelez para ser garoto-propaganda do chocolate Bis, mas, por ser simpatizante e ter apoiado o presidente Lula na última eleição, passou a ser alvo da campanha de boicote #BISnuncamais ou #prefiroKitkat por grupos bolsonaristas. A dimensão foi tamanha que a empresa precisou vir à público e afirmou que a contratação de influenciadores está relacionada unicamente à relevância deles na internet, sem qualquer vínculo ou apoio político e diz respeitar a diferença de opiniões.
O deputado federal mais votado do Brasil, Nikolas Ferreira, do PL de Minas Gerais, resolveu investir seu tempo atacando a empresa e afirmou, em seu Twitter “E claro, #BisNuncaMais”, Carla Zambelli, do PL de São Paulo, achou que seria interessante uma deputada boicotar uma empresa e afirmou em suas redes que teria “mais razões para não comermos nada da Lacta. #BisNuncaMais”.
É decadente ver o nível do debate feito por parcela dos políticos no Brasil. Não é aceitável que políticos eleitos para representar o povo e a supremacia do interesse público se achem no direito de iniciar um boicote em suas redes sociais contra uma empresa, que investirá R$ 1 bilhão no Brasil, pelo simples fato dela ter contratado um influenciador que, na última eleição, apoiou o projeto político que derrotou Bolsonaro, ex-candidato apoiado por Nikolas e Carla.
O pluralismo político é direito constitucional, que garante às pessoas pensarem política de forma diferente na democracia, apoiarem presidentes opostos e, passada a eleição, viverem sem serem perseguidas ou boicotadas por suas defesas. É inaceitável que sigam dividindo o Brasil com atitudes mesquinhas e tacanhas. Tal debate empobrece a política e a economia. Um deputado que prega o boicote a uma empresa por perseguição política não entendeu seu papel enquanto cidadão e sequer enquanto deputado.
Por Tiago Botelho.
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