Paralisação do transporte coletivo surpreende passageiros e mantém terminais fechados

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Foto: João Gabriel Vilalba

Para quem depende do transporte coletivo para se locomover por Campo Grande, teve uma surpresa na manhã desta quarta-feira (18). Isso porque os terminais do transporte coletivo amanheceram fechados e os ônibus não circularam na Capital, após decisão do STTCU-CG (Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande) de paralisar as atividades devido ao impasse na negociação do reajuste salarial, entre a categoria e o Consórcio Guaicurus. 

Alguns desavisados ainda foram encontrados nos pontos de ônibus e nos terminais, como a zeladora Aparecida de Moura, que aguardava uma carona do patrão no Terminal Guaicurus. 

“Eu não sabia [da paralisação], mas o patrão sabia. Eles vivem de mídia e não avisaram ninguém. E com o salário que eu ganho, não vou tirar do meu bolso para ir até eles. Eu preciso? Preciso, mas eles precisam mais de mim”.

Foto: João Gabriel Vilalba

Sem a confirmação do patrão, Aparecida não irá pagar por corridas de aplicativo, mesmo que perca o dia de trabalho. “Eu vou para minha casa agora, o trabalho que tem que chegar até mim, eles tem condições de vim me buscar, não tem como eu pagar táxi para ir até o patrão, que tem carro importado, viagem marcada… e eu? Eu tenho conta marcada para pagar, viagem não”, finaliza.

Para Juarez de Lima, que trabalha como motorista em um estacionamento no Centro, o dia de trabalho nem chegou a começar, já que o patrão se negou a ir buscá-lo. 

“Só sobra pra gente. Fiquei sabendo ontem a noite.Eu pago água, pago luz, aluguel, agora o pessoal faz isso. Quer fazer suas coisas , mas põe 50 ônibus pra ninguém  ficar na mão, mas daí para tudo. Todo mundo tem direito de caçar seus direitos mas não pode parar tudo, a empresa é grande. O patrão nunca vem buscar porque o carro tá estragado ou porque não é dever dele e quem sofre é só a gente e se falar a gente que se ferra”, comenta revoltado.

Já o casal Rene Silva e Gabriela Feitosa não sabiam da paralisação. Ela trabalha em uma loja no Comper da rua Brilhante e ele em uma Livraria e agora pensam em chamar um aplicativo para seguirem. “Totalmente pegos de surpresa. Agora é arrumar outro jeito de ir trabalhar. A gente veio de carona até aqui, atravessamos a rua e vimos que estava vazio”.

Foto: João Gabriel Vilalba

No Terminal das Moreninhas, o vendedor Joseph Leonardo era outro que esperava a carona do chefe. “O patrão falou que está esperando resposta da diretoria [para ir buscar]. Eu tô de boa, se não der resposta eu não vou trabalhar, e meu serviço não é perto. A corrida de aplicativo daqui para o Shopping Campo Grande está R$ 50,00, eles aproveitam porque geralmente é só R$ 30,00 ou R$ 35,00”.

Foto: João Gabriel Vilalba

Reunião

Na manhã de ontem (17), o presidente do Sindicato, Demétrio Ferreira de Freitas, se reuniu com o presidente do Sindicato das Empresa de Transporte Coletivo Urbano do MS (Setur), João Resende Filho e com Gerente executivo do Consórcio Guaicurus, Robson Luis Strengari para debater as demandas reivindicada pelos motorista, entre elas o reajuste salarial de 16%. Na ocasião, Resende afirmou que não teria como atender as reivindicação do Sindicato, uma vez que a prefeitura municipal de Campo Grande não definiu a nova tarifa, conforme preconizado nas rodadas de negociação anteriores.

Sem um parecer favorável por parte do Consórcio Guaicurus, Demétrio reafirmou a posição do Sindicato de “cruzar os braços” até que as demandas sejam atendidas e reiterou que a decisão tem o apoio dos motoristas, visto que o tema foi amplamente debatido e que a categoria se sente desrespeitada pelo poder público.

Por sua vez, João Resende afirmou que caso o STTCU não a reconsidere decisão, o departamento jurídico entrará com medidas judiciais para garantir que o transporte público não seja interrompido.

Em um áudio que circula pelas redes sociais, o tesoureiro do Sindicato, William Pereira, explica que a categoria reivindica o reajuste desde novembro do ano passado e que a paralisação é o único meio de pressionar a empresa responsável pelo transporte para que atenda a demanda dos motoristas.

“Hoje teve uma reunião e não avançamos na negociação, conforme foi dito se a empresa não sentar para negociar nós vamos cruzar os braços e paralisar o serviço, porque essa é a única maneira de forças a negociação, ou seja, amanhã não haverá ônibus em Campo Grande, só vamos voltar quando a empresa definir uma vez por todas o reajuste que aguardamos desde novembro. Eles falam que depende da prefeitura, mas não dependemos, nosso serviço é com o Consórcio”, disse.

Aumento da tarifa

Em novembro do ano passado, a Agereg (Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Campo Grande) apresentou um novo relatório que eleva o valor da tarifa técnica do transporte coletivo para R$ 8,00 em 2023.

O preço repassado hoje aos passageiros é de R$ 4,40, de início a tarifa técnica era de R$ 5,15, mas após judicialização no Tribunal de Contas e assinatura de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), o município reduziu o reajuste.

Desde o ano passado categoria reivindica o reajuste salarial de 16%, contudo, empresários pontuam o limite de 6,4%. Em Campo Grande, mais de 120 mil pessoas que utilizam diariamente o transporte coletivo, terão sua rotina afetada caso haja uma nova paralisação.

Com informações dos repórteres Lethycia Anjos e João Gabriel Vilalba.

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