TikTok: diversão ou problema?

Foto: Ilustrativa
Foto: Ilustrativa

Pais devem buscar informações sobre o aplicativo e é preciso ter interesse pelas atividades realizadas pelos pequenos

Coreografias, dublagens, vídeos com efeitos, memes e desafios. Essas são algumas das funções disponíveis no aplicativo TikTok, o 4º mais acessado do mundo. A ferramenta lançada em 2016 tem prendido a atenção de jovens e crianças. Mas, será que a nova sensação do momento é segura para os pequenos?

As produções exibidas no Tik Tok são “caseiras”, despretensiosas e próximas da realidade. Não raro, vemos brincadeiras um tanto quanto agressivas ou preconceituosas, mas que engajam rapidamente e viralizam.

De acordo com a professora do curso de Psicologia da Estácio Campo Grande, Michelle Zompero, o uso do aplicativo é indicado a partir dos 13 anos de idade. Por isso, os pais devem estabelecer um diálogo sobre valores familiares, construir relacionamento de confiança, explicar e delimitar. As crianças devem compreender que não se pode tudo e é preciso controle. “É importante os próprios pais refletirem sobre como usam, qual importância e o seu posicionamento em relação a exposição em mídias sociais. O maior impacto está relacionado com a falta de atenção e o abandono afetivo da criança, que muitas vezes é deixada de lado pelos pais que não saem do celular. Além de que, o recurso das telas tem sido muito utilizado por pais que julgam estar sem tempo para educar e conectar-se com seus filhos. Por fim, é fundamental verificar o quanto essa criança entende, ou não, o que tudo isso significa”, explica a docente.

Crianças e adolescentes são pessoas em desenvolvimento físico e mental, com identidade e autoconceito em formação. Sendo assim, a identificação com padrões estéticos, o sentimento de pertencimento, aceitação e empoderamento devido ao alto número de seguidores em torno daquilo que eles gostam, oferece reforço com muita rapidez, principalmente, para aqueles adolescentes que encontram-se numa fase em que a aprovação social é supervalorizada. “Sob essa perspectiva, a celeridade com que o reforço chega para eles pode gerar dependência e busca excessiva desse engajamento. Isso os tornam consumidores e espectadores passivos, gerando maior dependência e exercendo influência em funções cognitivas como memória, atenção, capacidade de planejamento ou de autocontrole em função da gratificação imediata”, revela Michelle.

Segundo a professora, é preciso haver interesse dos pais pelas atividades dos filhos, eles devem buscar informações gerais sobre o aplicativo e seu uso, ler as diretrizes da comunidade que consta no aplicativo, investigar sobre o tipo de conteúdo e influencers, principalmente aqueles que os pais observam seus filhos mais atraídos. “É importante que estejam atentos e verifiquem se o conteúdo está adequado, ou não, para a idade do seu filho. É sugerido optar por uma conta privada, onde possam ter maior controle dos pedidos de amizades, assim como das definições de privacidade e gerenciamento do envio de mensagens, comentários e transmissões ao vivo. O tempo de conexão e os horários permitidos para o acesso também devem ser considerados. Vemos muitos adolescentes que utilizam o aplicativo durante a madrugada, o que pode aumentar a situação de vulnerabilidade, além de afetar aspectos fisiológicos como sono e alimentação”, alerta.

O impacto é negativo quando o seu uso sai da “normalidade possível”, principalmente, quando favorece o acesso a aspectos da vida cotidiana e doméstica da criança, ocasionando exposição excessiva.

Lado positivo do aplicativo

Na atual era da informação instantânea, o aplicativo pode mediar interações descontraídas, que colocam o corpo para mexer, ou contribuem para amenizar o sentimento de tédio que crianças e adolescentes vivenciam diante das recomendações de isolamento social, em decorrência da pandemia do novo coronavírus. “Ademais, pode propiciar momentos de entretenimento entre pais e filhos que constroem cenas para o aplicativo ou participam de desafios juntos. Contudo, isso só será válido se houver conexão, escuta e acolhimento. Vale ressaltar que nada substitui a interação real e presencial entre pais e filhos. Tudo depende do uso que se faz da ferramenta, devendo ser considerado a idade da criança, o tempo de acesso e a capacidade dessa família monitorar e proteger seus filhos”, finaliza.

Nove anos e mais de 6 mil seguidores

A pequena Beatriz Genovez Novais, 9 anos, criou uma conta no TikTok e chegou a ter 6.473 seguidores. Em sua página no aplicativo ela montava personagens de anime, onde conseguia conversar e criar cenas, além de criar vários mundos virtuais jogando Roblox.
A tia da Beatriz, a publicitária Bianca Novais, 27 anos, conta que a sobrinha é inteligente, esperta e se entregava nos vídeos. Ela lembra que um certo dia ela parou a brincadeira com a amiga para alimentar a rede social. “Teve um dia que ela veio dormir aqui em casa e estava na varanda brincando com uma amiguinha e do nada ela chegou correndo para pegar o celular dizendo que tinha prometido postar o vídeo tal hora e precisava cumprir. Achei que seria uma forma dela mesmo entender sobre responsabilidades”, relata.

Bianca revela que quando bebê, Beatriz era bem simpática com todo mundo, com o passar dos anos foi ficando mais tímida. Falar sobre os vídeos que ela fazia e entrar em seu mundo foi uma forma que a titia coruja encontrou de permanecer sendo próxima da sobrinha. “Não sei dizer se ela se fechou por entrar nesse mundo virtual ou se é só uma fase. Mas também vejo que ela me ensina muita coisa interessante que ela tira desse meio”, explica.

Um dia Cayo Cruz, namorado da Bianca disse para Beatriz que ela poderia aprender a editar vídeos e fazer disso uma profissão, na hora a pequena contou que não queria mais saber do aplicativo porque começou a ser atacada virtualmente por outras crianças. “Ela disse que estava meio cansada dos vídeos por algumas crianças dizerem que ela não era original e que seu conteúdo era chato. Nós conversamos com ela sobre o motivo das pessoas agirem assim, que o problema não era com ela e sim com a pessoa que tentava diminuir seu trabalho, aí depois dessa conversa ela disse que continuaria. Mas depois de um tempo fiquei sabendo que excluiu porque enjoou”, conclui.

*Bruna Marques

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *