“O artesanato é liberdade, é terapia, e minha fonte de renda”
Em 2025, Campo Grande celebra 126 anos de história, e o artesanato é uma das formas de preservar memórias, responsável por manter viva a identidade cultural da cidade e de Mato Grosso do Sul. A produção artesanal deixou de ser, a muito tempo, algo tratado apenas como um passatempo, e hoje é sinônimo de geração de renda, atrativo turístico e fortalece a economia da Capital.
O artesanato de Campo Grande está fortemente ligado com a produção Estadual, já que muitos dos artistas do interior trazem seus trabalhos para vendas e exposições na Capital, como na Casa de Cultura, Casa do Artesão e Bioparque Pantanal.
Para o Jornal O Estado, a diretora de artesanato da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), Katienka Dias Klain, o artesanato é uma poderosa engrenagem econômica e cultural. “Ele gera renda, impulsiona a economia criativa, preserva saberes tradicionais e mantém viva a identidade de um povo”.
A diretora ainda enfatiza que, quem visita à cidade, quer levar um pedacinho dela, e o artesanato é a melhor forma de guardar a lembrança de um local, de um jeito único e autentico. “Como resultado disso, o Estado se mantém entre as três maiores localidades em volume de vendas em feiras nacionais, com destaque também para a comercialização continua no atacado”, explica.
A analista-técnica do Sebrae-MS, Daniele Muniz, pontua que o artesanato gera renda especialmente para os pequenos empreendedores. “Vemos mulheres, povos originários, quilombolas, comunidades tradicionais, transformando saberes antigos em produtos com valor de mercado. Para essas famílias, é a principal renda e o que garante comida na mesa”.
O poder do artesanato está, segundo a analista, alinhado com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU (Organização das Nações Unidas), e cita para a reportagem três deles, onde o feito à mão está engajado. “O DS1, erradicação da pobreza, à medida que gera renda para os envolvidos; DS5, igualdade de gênero, considerando que a maioria das pessoas atuando no setor são mulheres; e o DS12, consumo e produção responsáveis, porque muitos artesãos utilizam-se de matérias-primas locais, reciclados e reaproveitados”.
E foi no artesanato que Maria Aparecida Ferreira, 50, encontrou uma forma de cura e de sustento. Apaixonada pelo trabalho manual desde a infância, começou a carreira de artesão na costura. Mas, devido a uma doença, seguido de uma cirurgia, Maria não conseguia mais ficar sentada por longos períodos, então buscou outras artes. “Passei a fazer peças de cimento para jardim, onde trabalhava em pé, em uma mesa alta”.
Com o tempo, as peças feitas de cimento já não eram tão atrativas. Foi no biscuit então que a artista se encontrou. Hoje, ela vende suas criações em feiras livres na Capital, com o destaque sendo suas ‘Capivaras Bailarinas’.
“No começo, clientes me falavam para fazer capivaras, mas eu achava feia! Mas eu vi a polêmica com a capivara Filó e me apaixonei por ela, achei linda; fiz igualzinha, de cimento primeiro. Depois comecei a fazer pequenininha. O pessoal começou a gostar e percebi que dava para fazer de vários jeitos, e é fácil pintar”. Há peças de vários jeitos: são capivaras bailarinas, atletas, tomando tereré, com computador, livro e até comendo sobá, prato típico de Campo Grande.
“O artesanato é tudo”
Tendo criado cinco filhos por meio do artesanato, é assim que Maria define o ofício. “Para mim, o artesanato é tudo. Pago todas as minhas contas com ele. Nunca trabalhei fora, só tenho a carteira assinada de quando tinha 18 anos. Inventar é comigo mesma. O artesanato é liberdade, é terapia, além de ser minha fonte de renda. Nunca precisei deixar meus filhos em creche ou com babá. Sempre cuidei deles com o meu trabalho”.
As peças de Maria já ganharam outros países por meio dos turistas. “Muita gente de fora do Brasil compra para levar de presente. Daí me viro como dá!”.
“Quem visita à cidade quer levar uma lembrança com significado. E o artesanato entrega isso com muita autenticidade. Ele tem tudo para valorizar Campo Grande como um destino criativo. Quando apoiamos o artesanato, estamos ajudando a preservar os saberes tradicionais, a memória das nossas comunidades. Investir no artesanato é investir na memória, na diversidade e, consequentemente, no nosso futuro”, finaliza Muniz.
Por Por Carolina Rampi