“Eu quero cantar até o fim”.
Como na música “Mulher do Fim do Mundo”, Elza Soares fez bonito, e se despediu cantando, até o último suspiro de vida. Na tarde de hoje (20), ela encerrou sua longa trajetória nos palcos musicais, com a mesma intensidade que tinha para a vida. De causas naturais, morreu aos 91 anos em sua própria casa, no Rio de Janeiro.
“É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares. Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a ‘Voz do Milênio’ teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação. A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade dela, cantou até o fim”, escreveu em nota a assessoria da cantora.
Em Mato Grosso do Sul, a última apresentação da cantora foi no ano de 2016. O evento foi o Festival de Inverno de Bonito, na época em sua 12ª edição. Não é preciso dizer que ela foi a atração principal.
Veja abaixo:
História
A voz rouca não era o único traço marcante dessa suburbana, nascida entre os bairros do Realengo e Padre Miguel (onde hoje fica Vila Vintém), em 1930. Elza da Conceição Soares foi filha de um operário com uma lavadeira, e se consagrou um dos maiores nomes da música popular ainda jovem.
Com tragédias e reviravoltas memoráveis – uma delas que seu patriarca a obrigou a casar ainda menina, com apenas 12 anos –, Elza descobriu o dom da música com Avelino, seu pai. Cantava nas horas vagas, e se ocupava como encaixotadora em uma fábrica de sabão no decorrer da semana.
Ao fazer um primeiro teste na Rádio Tupi, no programa de calouros de Ary Barroso, ficou com o primeiro lugar. Assim nascia a Elza artista. O ano era 1953. Na sequência, foi contratada para trabalhar na Rádio Vera Cruz, atuou no Festival Nacional da Bossa Nova e até se tornou representante do Brasil na Copa do Mundo no Chile, em 1962.
De lá pra cá, vieram muitos shows, tours, prêmios e reconhecimentos internacionais. E claro, várias interpretações e duetos memoráveis. Entre seus maiores sucessos, veio “Dentro de Cada Um”, “Exú nas Escolas”, “Deus Há de Ser”, “A Carne”, “Língua”, “O Que se Cala”, “Dindi”, “Maria da Vila Matilde” e “Banho”. Foram 34 discos lançados em 69 anos de carreira, onde pôde brincar com do samba ao jazz, do funk a música eletrônica. Seu último “long play” foi “Planeta Fome”, no ano de 2019. Na época, Elza tinha 89 anos.
Ironicamente, ela morreu no mesmo dia do que sempre considerou como amor de sua vida: o craque do futebol Manoel Francisco dos Santos, o Mané Garrincha. O futebolista falecido em 20 de janeiro de 1983, há exatos 37 anos anteriores a Elza. Ela deixa oito filhos, netos e uma infinidade de fãs.
Em sua voz, escute o clássico “Mulher do Fim do Mundo”: