Família denuncia descaso no Hospital Regional e falta de insumos para tratamento de idoso

Foto: Marcos Maluf
Foto: Marcos Maluf

Lutando contra forte infecção bacteriana, filha do paciente cita ‘improviso’ com sonda e teme complicações

Novamente o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul se vê envolvido em denúncias de descaso no atendimento a pacientes, desta vez envolvendo um idoso, internado na unidade e com dificuldades no tratamento devido à falta de insumos essenciais. Eliane Maria Ramalho, 34 anos, tem se revezado com a irmã para cuidar do pai, Sebastião Pinto Ramalho, de 76 anos, que luta contra uma forte infecção bacteriana. Ao O Estado, ela contou a difícil batalha para garantir que seu pai receba tratamento digno e necessário, além das dificuldades encontradas no hospital.

“Na quarta-feira, dia 15 de janeiro, a médica responsável pediu a troca da sonda, pois a infecção não estava respondendo ao antibiótico e havia necessidade de uma troca urgente. O problema foi que, mesmo sabendo que meu pai utiliza uma sonda número 16, a enfermeira colocou uma sonda número 18, que não é a adequada para o caso. Depois disso, meu pai passou a sentir muita dor e sangramento”, explicou Eliane.

De acordo com a filha, a situação piorou ainda mais quando foi necessária a irrigação da bexiga, que estava cheia de sangue. No entanto, o hospital não dispunha de uma sonda 3 vias no tamanho correto, que é essencial para o procedimento. “Ficamos desesperados, pois o hospital não tinha o material necessário. Desde o dia 18 de janeiro, estávamos correndo atrás da sonda certa. Minha irmã conseguiu comprar a sonda por R$ 24, e só assim conseguimos realizar a irrigação”, disse Eliane.

A comerciante criticou duramente a falta de insumos básicos no hospital e a responsabilidade do poder público em garantir a disponibilização desses materiais essenciais. “A sonda custou apenas R$ 24, e o hospital não tinha esse material. Isso é um absurdo, é um total descaso com a saúde pública. Estamos tendo que nos virar para conseguir o que o hospital deveria fornecer. Se não tivéssemos agido rápido, meu pai poderia ter perdido a função da bexiga”, desabafou.

Eliane também denunciou a falta de atenção e cuidados médicos durante a internação do pai. “O hospital tem falhado até nos horários de aplicação do antibiótico. Se não ficarmos em cima, os profissionais simplesmente não aparecem. Isso é inaceitável, ainda mais em uma situação tão grave como a de meu pai”, afirmou, enfatizando o sofrimento da família, que também está lidando com a recuperação de sua mãe, que passou por uma cirurgia cardíaca recentemente.

Por fim, Eliane expressou sua indignação com a situação. “Pagamos tantos impostos, e quando precisamos, o sistema de saúde nos abandona. A falta de materiais essenciais e o descaso com os pacientes são provas de que a saúde pública no estado precisa de uma reforma urgente. Não podemos aceitar que vidas estejam em risco por falta de comprometimento e responsabilidade”, concluiu.

Em nota, a assessoria do Hospital Regional se limitou a afirmar que “o hospital constantemente renova seus estoques e a disponibilidade de insumos é diariamente monitorada. A compra de sonda vesical de três vias, no tamanho 16, já está em andamento. Neste período, nenhum paciente ficou desassistido, pois o hospital conta com outras opções no estoque”, disse trecho da nota.

Sobre o caso denunciado a unidade explica que não comenta os casos. “Em respeito a todos os envolvidos, ao sigilo legal dos prontuários médicos e à Lei Geral de Proteção de Dados, o HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) não se pronuncia sobre casos específicos. Os familiares da paciente podem obter informações diretamente com o corpo clínico responsável, na Ouvidoria ou no SAU (Serviço de Atenção ao Usuário)”.

Ação do MPMS sobre falta de profissionais é extinta

Em paralelo, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) abriu uma ação civil pública para investigar a falta de profissionais no Hospital Regional, mas o processo foi extinto pela Justiça. O promotor de Justiça Fábio Ianni Goldfinger argumentou que, com o concurso público realizado pelo Governo do Estado no ano passado, o problema havia sido resolvido, o que não era verdade para os familiares e pacientes que continuam relatando sobrecarga de trabalho e carência de profissionais.

O concurso público, que visava preencher vagas no hospital, teve um resultado abaixo do esperado. Embora houvesse um déficit de 300 profissionais, o edital previa a contratação de apenas 82 novos colaboradores. Para o cargo de técnico de enfermagem, apenas 45 pessoas foram aprovadas para 52 vagas, deixando um número considerável de posições abertas.

Apesar dessas dificuldades, o MPMS optou por não dar continuidade à ação.

Inquérito do MPE investiga outras irregularidades no hospital

Diante das diversas denúncias de falta de materiais, profissionais e condições de higiene, o MPE (Ministério Público Estadual) abriu um novo inquérito civil para apurar as condições do atendimento no Hospital Regional. A promotora Daniella Costa, responsável pelo inquérito, detalhou que as investigações irão focar na denúncia de irregularidades no setor de pediatria, onde foram registrados óbitos de crianças devido à falta de medicamentos, assistência adequada e equipamentos quebrados, como o tomógrafo. Também foram relatadas condições precárias de higiene e a ausência de manutenção, o que tem contribuído para o aumento das infecções hospitalares.

No ano passado, a promotora determinou uma vistoria no hospital e deu um prazo de 20 dias para que o secretário de Saúde, Maurício Simões, preste esclarecimentos sobre a situação. A ação será acompanhada de perto pela sociedade e pelos órgãos competentes, que aguardam uma resposta efetiva da gestão hospitalar.

Por Suelen Morales

 

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