Especialistas defendem eficácia do Implanon e DIU hormonal no SUS para reduzir gravidez não planejada e tratar endometriose
O acesso a métodos contraceptivos de longa duração está em processo de ampliação em Campo Grande, com expectativa de incluir, ainda em 2025, o Implanon (implante subdérmico hormonal) altamente eficaz, na rede pública de saúde. Embora a portaria do Ministério da Saúde com diretrizes ainda não tenha sido publicada, a capital sul-mato-grossense já prepara profissionais para realizar o procedimento.
Paralelamente, o município e o estado também vêm expandindo o uso do DIU hormonal, inclusive para o tratamento da endometriose.
Em entrevista ao jornal O Estado, a médica ginecologista e obstetra Maria Auxiliadora Budib, vice-presidente da Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia) e professora da UFMS, destacou os benefícios do Implanon, que oferece proteção por até três anos com uma única aplicação.
“O Implanon tem eficácia superior a 99%, comparável à laqueadura, mas de forma totalmente reversível. Além disso, é livre de estrogênio, o que o torna seguro para mulheres com contraindicações, como hipertensas ou com risco de trombose”, explicou.
Segundo a médica, o implante também é indicado para adolescentes e mulheres com comorbidades, que enfrentam dificuldades de adesão a métodos que exigem uso contínuo.
“É uma excelente estratégia de prevenção da gravidez não planejada, ainda alta nessa faixa etária. Em mulheres com doenças como obesidade, diabetes ou histórico de tromboembolismo, o método é mais seguro por não conter estrogênio e não impactar o metabolismo da glicose ou colesterol”, reforça.
Entre as contraindicações, estão câncer sensível a hormônios, sangramento vaginal não esclarecido e alergia ao etonogestrel. Após a inserção, é necessário acompanhamento médico para confirmar a posição do implante e orientar sobre possíveis efeitos colaterais.
“Muitas mulheres chegam querendo não menstruar, mas isso só ocorre em 50% dos casos. É preciso valorizar a eficácia e a segurança do método para evitar remoções precoces”, afirma Budib.
Acesso ainda limitado
Apesar do anúncio da incorporação do Implanon ao SUS, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) de Campo Grande informou que ainda não recebeu os dispositivos, e que o Ministério da Saúde tem até 180 dias para encaminhá-los.
A previsão é que o método seja ofertado para adolescentes de 10 a 19 anos e mulheres de 20 a 49 anos com comorbidades ou em situação de vulnerabilidade social.
Enquanto aguarda a chegada dos insumos, Campo Grande mantém oferta de outros métodos, como o DIU de cobre, anticoncepcionais hormonais injetáveis e orais, preservativos e procedimentos de esterilização (laqueadura e vasectomia).
Em 2024, foram realizadas 1.105 inserções de DIU de cobre apenas na APS (Atenção Primária à Saúde). Vinte e seis das 74 unidades básicas da capital já possuem profissionais capacitados para inserir o DIU no próprio território.
A capacitação dos profissionais da rede municipal para inserção do Implanon ocorrerá nos dias 18 e 19 de julho, em parceria com a SES/MS (Secretaria Estadual de Saúde).
Implanon já é ofertado pelo Estado
A SES informou que Mato Grosso do Sul já oferece o Implanon gratuitamente desde 2009, por meio de aquisição própria. A diferença com a inclusão nacional do método será a ampliação da cobertura, com insumos também fornecidos pela União.
“O dispositivo, conhecido comercialmente como Implanon, é um pequeno bastão inserido sob a pele do braço, que libera o hormônio etonogestrel e bloqueia a ovulação por até três anos”, explicou a secretaria.
DIU hormonal no tratamento da endometriose
Outra frente de ampliação é o uso terapêutico do DIU hormonal (levonorgestrel) no tratamento da endometriose, condição inflamatória que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva no mundo, segundo a OMS. O Ministério da Saúde anunciou em maio a incorporação do DIU hormonal e do medicamento desogestrel ao SUS para pacientes com endometriose, mas os estados ainda aguardam nota técnica com orientações de distribuição.
A médica Maria Auxiliadora Budib explica que o DIU hormonal age diretamente sobre o endométrio, reduzindo dor e sangramento intenso.
“É uma opção eficaz, com efeito local e menos efeitos colaterais sistêmicos. Traz melhora significativa na qualidade de vida, principalmente em mulheres com adenomiose ou endometriose superficial”, afirma. Em sua experiência, o método também é útil após cirurgias, para evitar a recorrência dos sintomas.
“Apesar dos avanços, o maior desafio na rede pública ainda é o diagnóstico precoce. Muitas mulheres levam anos até descobrir que têm endometriose. E mesmo com o DIU hormonal listado nos protocolos, sua oferta ainda é restrita em alguns serviços por limitações orçamentárias”, lamenta Budib.
Em Campo Grande, o DIU hormonal já é usado na rede pública em casos com indicação clínica. A inserção é feita por profissionais capacitados nas unidades de saúde, ou no CEM “Delas” (Centro de Especialidades Médicas), via encaminhamento pelo Sisreg. A SES reforça que o protocolo estadual já prevê o uso do DIU hormonal como tratamento desde 2020, com base na história clínica ou em exames de imagem.
Estratégia de saúde pública
A médica da Febrasgo reforça que os métodos reversíveis de longa duração (LARCs),como DIUs e o Implanon, são fundamentais para reduzir as gestações não planejadas, que ainda representam mais de 50% no Brasil.
“A informação é importante, mas precisa ser acompanhada de ação. A equipe de saúde deve desmistificar os tabus, garantir acesso real aos métodos e os gestores precisam executar os programas e facilitar os processos. Não basta receitar, é preciso fazer chegar à mulher”, conclui.
O Ministério da Saúde estima distribuir 1,8 milhão de unidades do Implanon até 2026, sendo 500 mil ainda este ano. A meta é ampliar o acesso e reduzir desigualdades no planejamento reprodutivo, especialmente entre adolescentes e mulheres vulneráveis.
Acesso gratuito aos métodos contraceptivos
Em todo o Mato Grosso do Sul, mulheres interessadas em saber mais sobre os métodos contraceptivos disponíveis devem procurar a unidade de saúde de seus municípios para obter informações, verificar elegibilidade e garantir o acesso gratuito aos métodos de longa duração oferecidos pelo SUS.
Unidades de Saúde com inserção de DIU em Campo Grande
As seguintes 26 unidades da Atenção Primária à Saúde (APS) já contam com profissionais capacitados para realizar a inserção do DIU de cobre diretamente no território:
– UBS 26 de Agosto
– UBS Dona Neta
– UBS Dr. Antônio Pereira (Guanandi)
– UBS Popular
– UBS Buriti
– UBS Silvia Regina
– UBS Jardim Presidente
– UBS Coronel Antonino
– UBS Jockey Club
– UBSF Oliveira
– UBSF São Conrado
– UBSF Vila Cox
– UBSF Jardim Aeroporto
– UBSF Itamaracá
– UBSF Cristo Redentor
– UBSF Estrela Dalva
– UBSF Los Angeles
– UBSF Macaúbas
– UBSF Jardim Centenário
– UBSF Moreninhas
– UBSF Nova Lima
– UBSF Azaléia
– UBSF Sírio Libanês
– UBSF Botafogo
– UBSF Vila Fernanda
– UBSF Zé Pereira
Por Suelen Morales
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