Após transplantar fígado, Hospital do Pênfigo mira em ossos e estimular doações de órgãos

Foto: Divulgação
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Sobrepeso e diabetes podem tornar-se os principais desencadeadores para cirugía de fígado

O primeiro transplante de fígado no Mato Grosso do Sul foi realizado nesta semana pelo Hospital do Pênfigo. Até o fim do ano, a ala cirúrgica se organiza para fazer um transplante de osso. Em entrevista ao Jornal O Estado, o cirurgião médico Gustavo Alves, especializado em aparelho digestivo, e responsável pelo primeiro transplante, comenta sobre o procedimento e o avanço para Mato Grosso do Sul.

Para o transplante ser realizado no Estado foi necessário um credenciamento junto ao Ministério da Saúde, que solicita ao hospital uma série de critérios, como laboratório 24h, banco de sangue 24h, serviços de endoscopia e radiologia intervencionista, por exemplo. Antes, os pacientes aguardavam ser chamados em uma lista de São Paulo para serem transplantados na cidade de Sorocaba, município a 800 quilômetros da Capital.

“O Nosso projeto de transplante veio ao encontro do hospital no pós-pandemia. Então, a gente não tinha nenhum desses serviços de apoio, mas trabalhamos muito nesses últimos três anos para construir tudo. Para poder fazer o transplante de fígado, a gente precisa de um credenciamento junto ao Ministério da Saúde, que seria o equivalente a uma CNH, que aconteceu”, explica o cirurgião.

A cirrose continua sendo a principal causa para a realização de transplantes de fígado, mas segundo o profissional, em poucos anos doenças gordurosas não alcoólicas, causada por sobrepeso e diabete podem tornar-se os principais desencadeadores para o transplante do órgão.

“A principal indicação do transplante é por cirrose. Daí temos as doenças que causam cirrose: o alcoolismo, hepatite C, hepatite B, e a doença hepática gordurosa não alcoólica, causada por excesso de peso e diabete, coisas muito comuns na sociedade. Depois disso, o câncer no fígado é uma importante indicação de transplante. Essas são as principais. Nos Estados Unidos já se inverteu, diabete e sobrepeso são os principais motivadores para o transplante. O mesmo vai acontecer com o Brasil em alguns anos”, enfatiza o profissional.

Doenças que atingem o fígado, de uma forma geral, demoram para apresentar sintomas, alerta o profissional, quando apresentam, o quadro clínico é avançado. “O transplante acontece quando todas essas fases que deveriam ter acontecido antes falharam. Como prevenção, o paciente pode, primeira coisa, ter um estilo de vida saudável, o qual é a principal medida. Segunda coisa, fazer check-ups regulares, incluindo a dosagem de rastreio para hepatites virais, que é algo comum também. Isso ajuda bastante”, recomenda o cirurgião.

Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos e Tecidos, a estimativa de transplante de fígado para o Mato Grosso do Sul é de 69 casos ao ano, um número expressivo quando se considera que o transplante tem uma chance de mortalidade em um ano de 15%, explica o profissional e acrescenta, que em dias atuais, há mais de 30 pacientes aguardando para realizar o procedimento.

“A nossa fila de pacientes para o procedimento tem 10 dias de criação, por isso nós não temos tantos pacientes, mas nós já temos vários pacientes que já estavam em acompanhamento no nosso ambulatório para serem incluídos quando isso acontecesse. Então, hoje nós temos mais de 30 pacientes aguardando a possibilidade disso acontecer”, disse.

Primeiro Transplante do Estado

O primeiro Transplante de Fígado do Estado de Mato Grosso do Sul foi realizado no Hospital Adventista do Pênfigo, na madrugada da última terça-feira, 23/07. O paciente é um senhor de 60 anos natural de Ponta Porã, no Oeste do Estado, que fazia acompanhamento no Hospital Adventista do Pênfigo há mais de um ano, e precisava do procedimento devido a uma Cirrose Hepática. A complicação no fígado do paciente pode ter sido provocada por uma malária mal curada há mais de 20 anos, segundo familiares.

Para realizar um transplante alguns pré-requisitos são feitos, como ter uma doença hepática incurável, que já tenha tentado o tratamento clínico sem sucesso e que se beneficie do transplante. Para os pacientes que têm cirrose causada por álcool, é necessário um tempo de abstinência de no mínimo 6 meses para garantir que o novo fígado não seja acometido por cirrose também. E, além disso, não ter nenhum outro problema de saúde hormonal ou cardíaco que inviabilize a realização da cirurgia.

Por ser um procedimento delicado, suscetível a diversas complicações: sangramento, rejeição, infecção, o cirurgião explica que em transplante fígado raramente acontecem casos de rejeição.

“O fígado é um dos mais tranquilos em relação a isso, visto que a compatibilidade é relacionada apenas à tipagem sanguínea. Nós temos outras dificuldades que é em relação ao tamanho do receptor, tamanho do doador, tamanho do enxerto, e isso sim às vezes nos traz alguma dificuldade”, explica. O profissional ainda destaca que algumas das maiores dificuldades no transplante é encontrar uma tipagem sanguínea similar, que a estrutura óssea do paciente compatibilize com o órgão e conseguir doações de órgãos.

“Nós não conseguimos definir uma estimativa de transplantes para 2024, porque toda estimativa é balizada pela disponibilidade de órgãos, sendo o fator limitante que a gente tem nessa situação. Quanto mais doadores a gente tiver, mais transplantes a gente vai fazer, isso é uma certeza”, exclama o cirurgião.

Após a realização do transplante com sucesso, após 6 meses o paciente retorna ao consultório médico para exames de rotina e segue com medicação vitalícia. O paciente ponta-poranense saiu da cirurgia lúcido e se comunicou com a equipe médica. O quadro dele é estável e já foi transferido para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para o quarto onde permanecerá em observação médica. A alta deve acontecer em breve a depender da avaliação do corpo médico. Para João Marcos Roberto, filho do paciente é momento é de agradecimento e felicidade

“Nós ficamos muito felizes com isso. E quando deram a notícia de que seríamos um dos primeiros, a nossa esperança subiu. A nossa felicidade, a nossa alegria foram lá em cima.
Então, tem sido muito bom. Ele é muito forte, tem dado tudo certo. E eu só agradeço ao hospital e ao pessoal, que têm sido sempre bem atenciosos com a gente, nos atendendo muito bem e auxiliando também. Eu fico muito feliz pela recuperação dele, que foi muito boa, deu tudo certo. O fígado foi aceito super bem, deu tudo certo e ainda está dando. É um passo a passo”.

Por Ana Cavalcante

 

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