Em meio à tensão comercial gerada pelas novas tarifas anunciadas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra produtos brasileiros, uma missão oficial do Senado Federal liderada pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), senador Nelsinho Trad (PSD-MS), realizou nesta segunda-feira (28) uma série de reuniões estratégicas em Washington. O objetivo: compreender a lógica por trás das medidas e articular respostas que evitem prejuízos à economia brasileira.
Com apoio da Embaixada do Brasil, os senadores se reuniram com especialistas em política, economia e comércio internacional, além de representantes de grandes empresas norte-americanas. A medida de Trump, que deve entrar em vigor na próxima sexta-feira (1º), afeta diretamente exportações do agronegócio e da indústria brasileira.
Durante os encontros, uma mensagem foi clara: é preciso evitar o agravamento do cenário. “Não é o momento de jogar gasolina no fogo”, alertou um dos interlocutores, que defendeu uma abordagem diplomática, com foco na reconstrução de pontes políticas e no envio de “sinais corretos” ao governo norte-americano.
Um dos bastidores mais relevantes foi a avaliação jurídica do ex-advogado-geral do USTR (Departamento de Representação Comercial dos EUA), Stephen Vaughn. Segundo ele, mesmo com eventuais derrotas judiciais, o Executivo americano possui instrumentos legais para reinstaurar tarifas. Por isso, a recomendação foi de que o Brasil foque na articulação política e no alinhamento estratégico da comunicação.
Já o ex-diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, lembrou que muitas crises comerciais surgem de mal-entendidos. “Noventa por cento das crises que acompanhei eram baseadas em interpretações errôneas”, disse. Para ele, ainda há espaço para diálogo com os EUA, desde que o Brasil tenha clareza de seus objetivos.
Na frente econômica, representantes do Brasil no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) defenderam uma estratégia de médio e longo prazo voltada à diversificação dos parceiros comerciais. O exemplo citado foi o Mercosul, especialmente a relação com o México, ainda pouco explorada pelo Brasil.
Pressão por adiamento das tarifas
À tarde, os senadores se reuniram com representantes da U.S. Chamber of Commerce e de multinacionais como Cargill, ExxonMobil, Shell, Johnson & Johnson, IBM, entre outras. O encontro, articulado pelo Brazil-U.S. Business Council, contou com a presença da embaixadora Maria Luiza Viotti e integrantes da missão diplomática brasileira.
Diante da proximidade da entrada em vigor das tarifas, os senadores passaram a articular com o setor privado americano uma nova ofensiva: a elaboração de uma carta conjunta da U.S. Chamber ao governo dos EUA, solicitando a prorrogação do prazo de início das sobretaxas.
“A classe empresarial precisa de previsibilidade para se adequar, principalmente no caso de produtos perecíveis”, afirmou o senador Nelsinho Trad. A carta deve ser apresentada ainda esta semana, como tentativa de ganhar tempo para avanços técnicos e políticos.
Empresariado norte-americano pede ações concretas do Brasil
Durante a reunião com empresários, houve o apelo para que o Brasil apresente gestos concretos de confiança. Um dos executivos citou o recente acordo comercial entre EUA e União Europeia como modelo de solução. “O Brasil precisa mostrar que é insubstituível em cadeias críticas, como alimentos, energia e componentes industriais”, destacou.
A ideia, segundo o senador Carlos Viana (Podemos-MG), é também intermediar, com apoio da Câmara de Comércio, uma conversa direta entre os presidentes dos Estados Unidos e do Brasil, visando retomar o diálogo político de alto nível.
Para Nelsinho Trad, a missão do Senado aos Estados Unidos cumpre papel essencial em meio a um cenário de instabilidade global. “Nossa responsabilidade é preservar empregos, comércio e o entendimento entre Brasil e Estados Unidos. Isso exige firmeza, mas também maturidade institucional. O momento é de agir com estratégia e responsabilidade”, afirmou o senador sul-mato-grossense.
A expectativa é que, nos próximos dias, novas tratativas sejam realizadas em Washington, com foco na reversão ou mitigação das medidas unilaterais. A missão do Senado segue monitorando os desdobramentos e prepara um relatório para subsidiar o governo e o Congresso nas próximas etapas da negociação.
Com informações do SBT News
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