Após a cirurgia realizada no presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última semana, discussões discretas, mas inevitáveis, voltaram a ganhar força nos bastidores do PT. A recuperação de Lula, de 79 anos, trouxe alívio para seus aliados, mas também reforçou uma questão crucial: quem será o sucessor do líder histórico do partido?
Nos círculos internos do PT e entre governistas, o nome do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de 61 anos, tem sido o mais mencionado como possível herdeiro político de Lula. A estratégia é vinculá-lo a bons resultados econômicos e blindá-lo durante as negociações do pacote de redução de gastos no Congresso. No entanto, falar publicamente sobre a sucessão de Lula continua sendo um tabu dentro do partido.
“Uma semana que começou com a preocupação sobre a falta de um nome terminou com a boa notícia da recuperação do presidente e com uma pesquisa que testou positivamente o nome de Haddad”, afirmou um integrante do PT no Congresso sob condição de anonimato.
Haddad em números
Um levantamento da Quaest, realizado entre 4 e 9 de dezembro — antes do anúncio da cirurgia de Lula — apontou que Haddad venceria adversários em cenários simulados para 2026. Contra Jair Bolsonaro (inelegível no momento), Haddad teria 42% das intenções de voto, contra 35% do ex-presidente. Contra outros possíveis candidatos, os números são ainda mais favoráveis: 44% a 28% contra Pablo Marçal, 44% a 25% contra Tarcísio de Freitas e 45% a 19% contra Ronaldo Caiado.
Embora os dados sejam animadores para petistas, Haddad enfrenta desafios. Sua trajetória carrega derrotas marcantes: em 2016, não conseguiu se reeleger à Prefeitura de São Paulo, sendo derrotado por João Doria ainda no primeiro turno; em 2018, perdeu para Bolsonaro na corrida presidencial.
Por outro lado, aliados defendem que os contextos das derrotas já estavam “precificados”. A eleição de 2016 ocorreu durante a maior crise de imagem do PT, em meio ao impeachment de Dilma Rousseff e ao desgaste causado pela Operação Lava Jato. Em 2018, Haddad conquistou 47 milhões de votos, mesmo substituindo Lula de última hora na chapa presidencial.
Lula e o desafio da sucessão
Apesar da confiança de Lula em Haddad, o ministro da Fazenda é frequentemente descrito como mais acadêmico do que político. Em abril deste ano, Lula chegou a criticar publicamente a falta de articulação política de alguns ministros, incluindo Haddad. “Ao invés de ler um livro, tem que perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara”, afirmou o presidente.
No entanto, com a expectativa de crescimento econômico nos próximos anos, petistas enxergam em Haddad uma figura capaz de unir a base do partido e atrair novos eleitores.
Um partido sem alternativas claras
A possível saída de Lula da cena política expõe a ausência de substitutos consolidados dentro do PT. Ministros como Rui Costa (Casa Civil) e a primeira-dama Janja da Silva têm suas próprias bases de apoio, mas enfrentam resistências internas.
Enquanto isso, Haddad se destaca pela confiança do presidente e por sua capacidade técnica. Seu desafio será traduzir resultados econômicos em apoio político consistente, consolidando-se como o sucessor natural de Lula.
Se Lula decidir deixar o “jogo político”, a construção desse caminho deverá ser rápida e estratégica. Para o PT, o maior desafio não é apenas encontrar um sucessor, mas assegurar que ele tenha força suficiente para liderar o partido em uma era pós-Lula.
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