Parlamentar diz que a estratégia do PT é trazer PSD, MDB e PSB para apoiar Lula à Presidência

Foto: Beatriz Feldens
Foto: Beatriz Feldens

[Por Rayani Santa Cruz, Jornal O Estado de MS]

O deputado federal, Vander Loubet, confirmou conversas do PT com MDB sobre a possibilidade de apoio à candidatura de Lula à Presidência. Os partidos têm dialogado e se aproximado em diversos estados. Sobre Mato Grosso do Sul, o PT mantém a pré-candidatura de Giselle Marques ao governo para segurar palanque a Lula sabendo da dificuldade em ter esse espaço em eventual apoio ao ex-governador André Puccinelli (MDB). Ao receber os mais de 70 prefeitos que demonstraram apoio a Eduardo Riedel, Vander também abre caminho para aliar com o ex-secretário estadual de Infraestrutura, que será a aposta do PSDB à sucessão de Reinaldo Azambuja.

“O PT está aberto. Primeiro, tivemos a escolha do nosso vice, que é o Geraldo Alckmin (PSB), e na metade dos estados brasileiros o MDB já está com o PT; isso são os seus pré-candidatos a governadores. E em alguns estados o PSD do Gilberto Kassab também já está com o Lula. O que se discute, e eu também acho, é que não há espaço para a terceira via. Acredito que é uma eleição plebiscitária com a escolha entre o “continuísmo” de Bolsonaro ou a “esperança” com Lula. Por isso não tem a terceira via. Então, temos de avançar na aliança nacional, que é de trazer o PSD e o MDB”, afirmou ao podcast “Entrevistando” de O Estado Play.

Conforme o parlamentar, a estratégia petista é até julho, que é a data das convenções, ter o mais alto número de alianças em apoio a Lula. Vander aposta que muito do que vai ser decidido em Brasília (DF) terá interferências nas composições regionais. “Até, porque os estados não são ilhas isoladas. O reflexo da política econômica e da política nacional reflete nos estados”, disse.

O Estado: O PT de MS anunciou Giselle Marques para a disputa ao governo. Até a convenção, essa decisão será mantida ou pode haver mudanças?

Vander: Não haverá mudanças. A Giselle foi escolhida por unanimidade depois que o Zeca declinou da pré-candidatura, em função de uma decisão que ele precisa resolver no STJ (Supremo Tribunal de Justiça), e não tenho dúvida de que vai resolver. O problema é que isso pode ser resolvido em dez dias, ou em dois meses, e nós não podemos ter essa lacuna. Então, ficou esse espaço que precisava ser preenchido e o Zeca tomou a decisão de abrir mão da sua pré-candidatura para cuidar dessa questão judicial. E nós, em grande entendimento interno entre todas as correntes, escolhemos a Giselle. Ela representa a mulher, é mãe, é ativista de movimentos sociais, tem experiência administrativa, é advogada e acho que preenche bem a pré-candidatura.

O Estado: O partido teve praticamente uma única renovação de liderança, que é a vereadora Camila Jara. Isso precisa ser repensado?

Vander: O PT está em um processo de renovação. A própria Giselle Marques é uma delas. É uma pessoa jovem. O professor Tiago Botelho, que é o mais jovem pré-candidato ao Senado. E estamos fazendo essa transição. Temos muita gente da juventude se filiando ao PT. O partido está tendo essa preocupação de trazer novos quadros. E principalmente depois que essa narrativa se inverteu. Nós passamos os últimos seis anos disputando uma narrativa e derrotamos aqueles que queriam criminalizar o PT. Consequentemente muitos jovens estão vindo para o PT, até porque perceberam e foi comprovada a perseguição.

O Estado: Agora, com a federação, autoriza-se com PCdoB e PV; aqui em MS o que mudará para essa eleição e de 2024?

Vander: O ano de 2024 está longe ainda e temos de pensar em 2022. Acho que a federação com o PCdoB e o PV é muito viável. Temos até 30 de maio, o prazo de fechamento das federações, e ainda acredito na possibilidade de vir o PSB. Até porque a nova regra obriga muitos partidos a fazerem essa construção de federação para fazer as chapas. Acabou a coligação, e o único mecanismo é esse casamento por quatro anos e programática, sem dissolver. É importante para a democracia essa diminuição de partidos, até porque a democracia não comporta quase 40 partidos.

O Estado: Na disputa presidencial ainda se cogitam alianças do PT, uma delas poderia ocorrer com MDB. Este quadro nacional terá alguma influência aqui?

Vander: O PT está aberto. Primeiro, tivemos a escolha do nosso vice, que é o Geraldo Alckmin (PSB), e na metade dos estados brasileiros o MDB já está com o PT; isso são os seus pré-candidatos a governadores. E em alguns estados o PSD do Gilberto Kassab também já está com o Lula. O que se discute, e eu também acho, é que não há espaço para a terceira via. Acredito que é uma eleição plebiscitária com a escolha entre o “continuísmo” de Bolsonaro ou a “esperança” com Lula. Por isso não tem a terceira via. Então, temos de avançar na aliança nacional, que é de trazer o PSD e o MDB. Em muitos estados, estaremos aliançados, como em Minas Gerais, por exemplo. O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, renunciou para concorrer ao governo e vai apoiar o Lula. E assim será em outros estados. A estratégia é até julho, que é a data das convenções, para termos o mais alto número de alianças possível para o Lula.

O Estado: Quais as expectativas do partido para eleger a federal e deputados estaduais?

Vander: Acho que o PT tem todas as condições de dobrar a bancada tanto federal quanto estadual. O PT tem um histórico de sempre lançar candidatura própria. Ninguém acreditava e em 2018 lançamos o Humberto Amaducci, que nas pesquisas aparecia com 1% e na hora que abriu as urnas ele atingiu 11%. Praticamente a mesma votação do ex-presidente da Assembleia na época, que era o deputado Junior Mochi (MDB). Claro que, agora, a expectativa é muito maior. Naquela época o Lula estava preso, nós estávamos enfrentando a narrativa adversa para nós. E atualmente não. Nós impusemos nossa narrativa e, na condição em que o Lula está hoje, ele pode até mesmo ganhar no primeiro turno das eleições. Eu não tenho dúvidas de que isso vai nos alavancar muito nos estados. Até porque os estados não são ilhas isoladas. Os reflexos da política econômica e da política nacional refletem nos estados.

O Estado: Num eventual 2º turno em MS sem a presença do PT, qual será a direção do partido?

Vander: Não dá para falar hoje. O que nós temos claro é que, se tiver um segundo turno nacional, é aquele que ficar com o Lula. Agora, se o Lula ganhar no primeiro turno vai depender do cenário, de quem vai para o segundo turno. Por isso não dá para afirmar com quem vamos. A nossa pré-candidata tem condições de fazer uma bela disputa e chegar ao segundo turno neste quadro pulverizado com 22% ou 23% como Zeca foi em 1996 e em 1998, onde acabou ganhando o governo.

O Estado: Ao Senado o partido já definiu, até porque o nem de Giselle era um dos cotados?

Vander: Nosso pré-candidato é o professor da UFGD Tiago Botelho. Ele é jovem, é ativista, é defensor das causas de minorias, muito respeitado e com mestrado em Gestão Ambiental. É muito preparado para esse cargo. Até porque temos nosso turismo, nosso agronegócio e é muito vinculado também com a questão do Lula, porque aqui no Estado a característica é de se eleger um senador que tenha apoio do presidente. Como exemplo disso, temos a senadora Soraya Thronicke (União), que foi eleita em 2018.

O Estado: Com a mudança das regras de eleição, o deputado pretende atingir quantos votos para ser reeleito?

Vander: A nova lei diz que o partido para fazer um deputado federal tem de contabilizar 80% do coeficiente eleitoral. Esse coeficiente vai dar em torno de 165 mil votos. O partido tem de fazer no mínimo 150 mil votos para disputar a vaga de sobra. Um desses nove candidatos da chapa tem de fazer no mínimo 20% do coeficiente, ou seja, desses 165 mil o candidato tem de fazer em torno de 35 mil votos para ser eleito, isso aquele mais votado dos nove. O PT já fez 150 mil votos em 2018 numa situação adversa e agora acredito que vamos fazer 230 mil votos, com condições de eleger dois deputados. Esta é a nossa estratégia. E na bancada estadual, de dois que temos hoje, queremos eleger quatro. Temos condições, pois em 2014 elegemos quatro deputados e queremos voltar a ter esse quadro a partir do ano que vem.

O Estado: Nessa eleição, com busca de terceira via única para sair da polarização, que tipo de eleitor deverá ser o fiel da balança?

Vander: Até agora, nenhuma narrativa da terceira via se fortaleceu. Vejamos o caso do João Doria (PSDB), que tem 1% e 2%, tinha o [ex-juiz] Moro que está fora, e vemos o Ciro Gomes do PDT se isolando, e vimos que, em Mato Grosso do Sul, o deputado Dagoberto Nogueira teve de sair do partido porque não conseguia formar chapa. Então, vemos que não tem narrativa. Não tem esse espaço para terceira via. Vai ser uma eleição “plebiscitária” e de avaliação do governo do Bolsonaro. Como ele tem mais de 60% que dizem que não votam nele de jeito nenhum, estou esperançoso de que Lula vença no primeiro turno.

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